Poema Quase de Pablo Neruda
Calcanhares
Lentamente os calcanhares tomavam o corpo de assalto, voltando os passos dados, como uma tentativa de retroceder no tempo. Em vão, assim como o olhar lançado ao espaço vazio, cortando os sentimentos confundidos, em alguns momentos parecia ser amor e em outros parecia apenas mais uma noite de solidão.
Não havia a possibilidade de um dialogo por menor que fosse a vontade, pois as palavras não faziam qualquer questão de confortar. Era apenas alguém, um objeto, como tantos outros, que ali se deitaram na esperança de esquentar um corpo, preencher um coração, fingir uma emoção.
Crônicas absurdas lidas ao avesso, mais parecidas com notas musicais tortas, para combinar com a imperfeição dos corpos e todos os defeitos que se tentavam esconder, mesmo com o apagar das luzes, o escuro consegue enganar os olhos, mas não consegue confundir a mente.
Não há roupa ou maquiagem suficiente, para tapar tantos prazeres que a carne, mesmo a boca dizendo não, insiste em se entregar. Pode ser um alguém, pode ter um nome ou ser dono de um sorriso, logo abandonado, logo esquecido e quando acaba a sede, por momentos se mostra triste.
Olha as paredes, observa o teto, faz criticas pela falta de organização, pela falta de bom gosto na decoração. Fala e revela para si mesmo que aquela é a única vez, a ultima tentativa de ser mais individuo vazio.
Pensa em alguma desculpa, sem a necessidade de ser convincente, apenas como rota de fuga ou ponto final. Imagina uma boa cerveja gelada esperando por você. Não se importa em saber que não haverá próxima vez.
Essa é a vida, são assim que as escolhas ditas banais são feitas, parecendo filmes com roteiros programados. Ouve um sussurro ao fundo, mesmo tentando ignorar, responde com a voz calma, para não entregar... Vai fechar a porta, não vai ligar e se o acaso ajudar, será apenas um pecado a mais para perdoar.
As marcas da mão
Escondem uma vida,
Leves toques e olhares
Disfarçam o sentimento.
Passado guardado...
Na mente, subconsciente,
Como noites e dias,
Respirados de forma intensa,
Como velhos amores...
Que chegam e não guardam lugar.
De tantos sonhos antigos
O presente persiste,
Em trazer o futuro...
Carregado pelo vento.
Ao acaso das escolhas
Quem sabe outras rotas,
Para quem deseja outras bocas,
Na procura desvairada...
Respirar a vida.
“Há pessoas que nascem e morrem, sem se arriscar para saber qual mundo existe por trás da porta”.
Rotas da Liberdade
Na lona
O beijo roubado,
O amor não vivido!
Sobre uma certa luz
Do sol, refletida na lua.
Na lona...
Escondido, delírio,
Sem motivo...
Para levantar,
O corpo só, estendido.
Na lona...
Á navegar,
Dentro de um sonho,
No oceano de um olhar.
E a felicidade
Estapeou sua cara,
Somente pelo prazer
De lhe provar,
Que nunca poderia doma-la.
Tal pedaço do paraíso
Escondido por trás dos dentes,
Que serrados combinavam
Um tímido sorriso.
Continuava lá, sentado...
Há contar ás horas
Ás estações e migalhas,
Que tentava aproveitar.
Poderia ser mortal!
Ser intenso ou puro frenesi.
Á tal momento
Tudo que poderia,
Morrer ou viver...
Está ao alcance
De seus tristes olhos.
E suas mãos não desejavam,
Folhar alguma pagina, a mais sobre a vida.
Deseja o momento eterno de felicidade,
Cobiçava estar diante do paraíso.
Mas á vida...
Insistia em lhe mostrar
Que ao menos para si,
Alegria vã é acompanhada
Pelo sacrifício tolo.
E a eterna...
Por pequenos monólogos de tristeza,
Anunciando a loucura popular,
Por segundos, explorada,
De algum tipo de sorriso.
Alguma porta...
Alguma pedra,
Algum lugar!
Para atravessar...
Para jogar,
Para visitar!
Entre alguns pensamentos...
Entre alguns dias e noites,
Entre alguns corpos para se desejar!
Entre as letras
Soltas de uma oração,
Um pouco de fé,amor e ilusão!
Dedos cruzados
Olhares marejados,
Trazendo dias e levando anos...
Coração morno, sorrisos largos,
Buscando nos desencontros
Afagos e vontade de viver.
Um pequeno conto sobre amor
Com corações partidos,
Sorrisos e lagrimas.
Olhares trocados
Papéis rabiscados,
Juras de amor
Dor, sem pudor.
Não há ilusões
Não existem fantasias,
Falsas esperanças.
Apenas a realidade
Corrompida, suja e politica,
Não existe punição
Apenas acordos ,
Mensalão.
Mãos amigas
Inimigas e que sufocam
A nação.
Nasceu por acaso
Namorou por interesse
Casou-se por status,
Foi julgado como mercadoria.
Foi trocado quando perdeu a beleza
Vive de esmolas de velhas lembranças,
Enquanto se afoga em certezas
Absolutamente irrelevantes,
Que ninguém se importa,
Ou faz questão de lembrar
Quando vira as costas.
Acende uma vela
Reza pro teu santo!
Por desapego, por desespero,
E algum tipo de encanto.
Enquanto a luz do dia
Espera e te aguarda, como guia,
Pra você sentir a vida
Ao invés de ficar ajoelhado,
Em algum canto.
Lamentando
Por dizeres que sozinhos
Não movem um mundo,
Nem geram espanto.
De pedido em pedido
Impedindo de ser a vida
Que tanto ouve em forma
De melodia e canto!
Tem fé
Tem dó,
Tem força!
Contra o uso
Da ignorância!
Contra a arma
Politica!
Contra a policia
Armada!
Tem fé!
Que pra violência
Do dia...
Tem a paz e a lagrima
Da madrugada.
Faltou agua
Acabou a luz,
Comida não tem.
Sofrimento sempre sobra
Em alguma casa
Sem janela e nem porta,
Seja no sul ou no sertão!
A noite é iluminada
Pelos lamentos,
E o sal das lagrimas
É o sustento!
Para a barriga de vento.
Em terra castigada
Pela politica e corrupção
Quem sofre é o miserável
Sem o acesso a saúde
E educação.
Que vive de promessas
Que insistem em se repetir
A cada quatro anos
Ilusão, ilusão, ilusão,
Pela falta de competência
Na escolha de uma nação.
Democracia
Quando ouvi os gritos,
Tampei meus ouvidos.
Quando senti a fumaça,
Cobri meus olhos e nariz.
Quando o sangue respingou em mim,
Apenas lavei minhas mãos.
Quando a minoria estava nas ruas,
Tranquei-me na sala e liguei a tv.
Enquanto o governo coagia,
E a policia batia, minha omissão falava.
Com a coleira de ajuda e salários mínimos,
A sociedade me oprimia.
Só percebi que o caminho não tinha mais volta,
Quando amanhecia o dia.
Manchetes de jornal em sua maioria,
São sempre as mesmas e vazias.
Eu morria sem envelhecer,
Escravo de um sistema brutal,
Disfarçado de democracia.
A ilusão vendida à conta gotas,
Esmola para mentes vazias,
E isto sem perceber, havia me custado uma vida.
Sei quem és
Se eu soubesse seu nome...
Mas sei como se chama o teu olhar;
Estrela é o seu nome,
Pois, seu brilho é pleno e radiante
Quando contempla o meu céu.
Se eu soubesse seu nome...
Mas sei como se chama a tua boca;
Tentação é o seu nome,
Pois, são como um labirinto
Onde a minha boca
Anseia por se perder.
Se eu soubesse os seus mistérios...
Saberia, quem realmente é;
O que pensas...
O que desejas...
Mas como sei,
Que jamais saberei
Quem é;
Conformo-me em saber
Que você tudo oculta
Por nada dizer.
Ser essência
Seja sempre a sua essência
Pois ela é a perfeição
Não desejes ser o que querem que você seja,
Mas, seja aquilo que verdadeiramente és...
A imagem e semelhança de Deus.
Pois, se não fores,
A iniqüidade te consumirá.
Olhar
Olhar que tudo percorre,
Olhar que sente,
Olhar que adentra,
Olhar íntegro de segredos.
Olhar...
O seu olhar diz tudo daquilo que não revela.
