Poema por que o Macaco Nao Olha seu Rabo

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⁠NÃO SEI

Não sei
O porquê
Da tua altivez.
Da tua barriga
De rei.
Só sei,
Que uma rosa
Com espinhos
É mais apetecível que tu.
Ela,
Tem flor
E espinhos.
Tu,
Só tens espinhos.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-10-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠A TRAIÇÃO DOS DEUSES

Ele rezava confiante, até desfalecer
De joelhos num chão duro e frio,
Não suportando mais a dor do desvario,
Pobre idiota que cria sem nunca querer.

Rompia a memória em orações a arder,
Que repetia sem nexo como galo cantando
O nascimento de um dia inútil e nefando
Numa lengalenga só decorada, sem ler.

Ele era como eu na suposição de o ser,
No testemunho de um desabilitado
Dos deuses loucos e de mal feder.

Deu-lhes tudo e os do mudo planetário
Cá do burgo mundo por nós habitado,
Não merecendo tal traição em seu fadário.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 10-10-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

NÃO QUEIRAM

⁠Ó corjas, fazedoras de monstros alados,
Não vos aturarei por mais que queira.
Que prazer tenho em ser queimado na fogueira
Das vossas achas de prazeres fisgados?

Cansei-me. É a hora de vos dizer, safados:
Que vos anima à tarefa vil, abjeta
De tudo fazer para calar um poeta
Que canta sozinho na noite dos brados?

Enchei-vos de lama, gentes do cretino,
Tapai vossa vergonha com sarapilheiras,
Escondei a fronha no fétido das lixeiras,
Mas não queiram matar o poeta menino.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 26-10-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠CRUEL DESTINO

Pedem-me amor
E eu não sei o que isso é;
Porque nunca o tive ao pé
De mim.

Assim,
Não sei se ele é dor
Ou prazer do início ao fim.

Pedem-me poemas
E eu não sei o que isso é;
Porque, malditas as minhas penas:
Poemas, será gente de fé?

Não quero nada,
Porque nada sei dar
Desde menino,
A não ser meu cruel destino
De querer amar
No já,
A quem nada me dá.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 08-11-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

BEIJOS DO DESERTO

Ele, só lhe pedia:
- Dá-me um beijo, se não morro à sede...
E ia desfalecendo...
Aos poucos, morrendo.
E ela, ao lado dele, atirava:
- Quem vai morrer, não precisa de beijo!
Ele então tropeçou,
Aninhou,
Levantou,
E caminhou
E cada vez mais dela se afastou...
Afastou...
Mais à frente ele encontrou
Um cato no deserto,
Que depois de aberto,
A sede dele matou.
E então correu, como proscrito,
Correu pelo deserto infinito...
Já não quis o beijo que lhe matava a sede.
Depois chegou ela e viu o cato.
O cato, já estava seco,
De facto,
Mirrado,
Como um cão esfaimado.
Mas ela para matar a sede
Beijou o cato,
Pensando beijar os lábios dele
E morreu...

Do beijo.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 24-11-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

(DE) PRESSÃO

⁠Eu sei que:
Quando já não ouves
A voz do vento,
O chilrear das aves do céu,
O amor a cair levemente
Da razão do teu lamento
Como se fosse um véu
De noiva de neblina
Por estrear,
Ou cavalo à solta sem crina,
Dois bailarinos sem dançar...
Eu sei que:
Quando não desvendas
O mistério do teu eu,
Como nuvem presa no céu,
Prenhe sem chuva de rendas...
Eu sei que:
Quando choras, por chorar,
Sem ritmo, ou emoção natura,
Os teus olhos só podem mostrar
No mapa do teu rosto à procura
De lágrimas secas por achar...
Eu sei que:
Sofredor amigo, quase meu irmão;
Eu sei que estamos os dois
No agora e num depois
Vivendo,
Sofrendo
E chorando,
Esta imensa (de) pressão.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 25-11-2022)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

FRUSTRAÇÃO

Já não sei escrever...
Deixei de saber pensar.
A poesia deixou de me amar
E fugiu de mim sem eu ver
Nem poder mais versos ditar.

Que tábua agora para me agarrar
Nas ondas alterosas deste mar,
Se ela foi para não mais voltar
À inspiração dorida do meu penar?

Poesia vagabunda, iracunda, reles
A minha, que só contemplas aqueles
De sacrossanto nome já firmado
Nos anais dos teus egrégios brasões
E afundas sem mais remissões,
Os que querem só escrever um fado.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 16-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

INSÓNIAS

⁠Toda a prava madrugada
Libertina e devassada
Sem assentar olho no sono
Que não me quer como amante,
Talvez por eu ser tão distante
Das carícias de tal mono.

Sono, meu repouso sem esperança
Em vez de me trazeres bonança
Vais-te vingando de mim,
E assim:
Fazes-me sonhar acordado
Com tristes e murchas flores,
Ossos em desalinho,
Velas sem chama, a arder.

Fica descansado, podes crer:
Os ossos, sou eu a crescer
Até morrer
Velhinho,
As flores,
São os meus amores,
Vou regá-los com carinho,
As velas, são a luz do meu caminho.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 12-02-2023)

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TRISTEZA

⁠Hoje, não estou triste.
De que vale a tristeza
Se ela já existe
Na correnteza
Da vida em riste?

Vá, gostariam,
Preferiam,
Que eu fosse
Homem de ardileza?

De que vale a tristeza
Se a vida é certeza
De uma incerteza
Atroz?

Por nós
E por mim,
Ainda assim
E pelo meu fadário
Eu viro a tristeza ao contrário,
E antecipo-lhe o fim.

E se ela me perseguir
No cimo do meu calvário:
Vou-me rir
Tanto, tanto,
Como se fosse um pranto
Tornado falsário.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 19-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ALMA SECA

Que interessa eu dizer
E ao mundo revelar,
Mostrar
O que me vai na alma,
Se não é isso que acalma
A minha sede de viver?

Se eu confessasse o que sinto,
Mesmo na pura verdade,
Dir-me-iam por bondade,
Ou por maldade -
Que minto!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LUZ

Que luz
Que tão tarde
Queres brilhar
Como fogueira que não arde
Na minha escura vida
Que até se me não engana
A amargura invertida,
Nunca soube que existias.

Falso reflexo
A querer alumiar
O meu espelho convexo
Em teus remorsos
Por expiar,
Nos meus derradeiros dias.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠VADE RETRO SATANÁS

Vade!
Afasta-te de mim, Satanás
E se não fores capaz,
Eu levo-te à Boca do Inferno
Aquele penedo eterno
Que na história e nos anais
Fica ali na Guia de Cascais
Ao sul deste Portugal profundo
Que ainda crê no Demo
Do inferno extremo
Do outro lado do mundo.

Ó diacho!

Não é preciso ir mais longe…

Empurro-te daquele penedo abaixo
E cais no oceano em chamas
Onde proclamas
Não seres demónio mas monge.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

TALVEZ AMANHÃ ONTEM

Talvez…
Eu te conte o que não soube
Dizer-te
Ontem
Por causa das tuas
Palavras cruas,
Como pedras das ruas
Geladas
Que me atiravas
Sem dó nem piedade.

Talvez…
Amanhã eu não te saiba
Dizer nada
Porque nada sei
Do que soube
Ontem,
Que já era hoje
De madrugada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

VINGANÇAS

⁠A vingança não dura um segundo
No coração dos simples e puros
Como a água cristalina e corrente
Que desliza frémita e tão contente
Passando apressada nas barreiras
Marcações de pedras fronteiras
E socalcos das terras do mundo.

Água vinha
Água vem
Água se foi
Água mansinha
Sem mais ninguém.

A vingança, por si se dói,
Nos corações benditos.
Nos corações empedernidos
Sem ponta de bons fluídos,
Ela corrói e destrói,
Vem, mas não vai.

É teimosa,
Birrenta
Como égua fanhosa
Peçonhenta
Que rebenta nos piores adjetivos.

Mas vai um dia na noite que cai
Com ventos de depuração.
Vingança que não vai
Não tem razão
De morar nos sem sentidos
Dos corações bandidos.

E eis que os corações tais
Desses empedernidos mortais
Não aguentaram o choque
E morreram sem esperança
Nem reboque
De aplicar a vingança.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro


O LAR DO SOFÁ VELHO

Não chores meu velho
Como eu, a ficar a sê-lo.

Nunca pensaste como ainda penso,
Vá, pensa:
Porque o pensar é de graça,
Afinal o que nos resta.

Já não é a tua casa,
O teu cheiro
E os odores por ti criados
Naquela casita perto do mar
Onde gaivotas te iam beijar
Pela manhã, famintas,
Do teu dar
E abrigo procurar
Nas tardes fortes de tempestade.

O teu lar, agora, é o teu penar...
Outros cheiros,
Gentes que nem sempre gostam de ti,
Pelo que vi, senti e ouvi.

E então fugi, fugi dali
Tão amargurado.

Que triste, é do homem fado
Deixado num sofá velho
A tremer de medo,
Naquele cubículo sem afetos
Onde reinam os dejetos,
Muita fome amordaçada
E mais...

Aquele horrível pecado
De os não deixar morrer
Na sua velhinha cama.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

TRÂNSITO NA PASSADEIRA DA MORTE

⁠Ensinaram-me a andar,
Atento e devagar,
Para não ser atropelado
Nem atropelar
Quem se cruze no fado
Comigo,
Mesmo em único sentido
Na vida.

Senhor, com tanta brida,
Nem se respeitam sinais
Nem prioridades,
Tantos mortais senhores de nada
Que querem fazer da estrada
A coutada dos seus ruins ideais!

Têm cara de demónio
O único prazer património
Que querem auferir na vida,
É matar gente já sofrida.

Ontem, pela manhãzinha,
O sol raiava pela fresquinha
E eu meti pés ao caminho
Para aspirar a vida de mansinho.

Alguém em potente máquina de matar
Quem na frente deles se atravessar,
Me ia levando inutilmente pelo ar,
Como já morto e inerte passarinho.

Salvou-me alguém lá dos céus,
Que mesmo sem ouvir os brados meus,
Deu-me a força de me atirar à valeta
Em voo rasante, como em tempos,
De tantos outros contratempos,
Eu, como uma leve borboleta,
Pousava e saltava sem parar
Sempre que me queriam matar.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-07-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro


ELA

Café e tasca na aldeia.
Era sábado de cálido verão.
A noite teimava na ideia
De não querer o escuro
Como um muro
Que lhe tapasse a visão.

O poeta entrou e nada comunicou.

De pé, observou uma pintura naif
Escarrapachada
Na parede do café triste
E imaginou
E mais não disse
Mas sempre observando.

Eram só dois, para ele olhando.

Um ébrio, de pé e uma mulher sentada
Que dali a nada veio ter com ele, eu,
A perguntar se gostava da pintura
Da parede triste e abandonada.

Na conversa dela com o poeta,
Este correspondeu pela certa.

Falaram, cultivaram e quiçá divagaram...

No final, despediram-se,
Prometeram ficar amigos
Nestas coisas das redes sem trapézio,
As sociais redes de perigos
Que só vingam no mistério
De ser pessoa com mais artigos.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 07-08-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

DE FACTO E NUNCA DE FATO

De facto sendo, assim é.
De fato nunca, por não gostar
De enfiar no corpo até,
Tamanho estorvo de apertar.

E me obrigar
Pela simples razão da força,
Ainda que o diabo torça,
Debaixo das axilas,
Rangendo as maxilas,
Estroncar a fatiota toda,
Ainda que me digam
Ou maldigam
Que não percebo da poda,
E não saber andar na moda.

Também não me interesse a roda
Do vestir nas estações,
Basta-me, para andar na moda,
Tapar bem os meus feijões. ⁠

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

SORRI TRISTEZA

⁠Anda comigo tristeza,
Não sintas medo ou horror,
Traz só uma capa fina
De esperança pequenina,
Nos ombros da tua dor.

Iremos então lado a lado,
Dois cegos a cantar o fado,
Sem esmola, só pelo sonhar...

Anda tristeza e meu fadar,
Para onde vamos só basta
Trazeres na tua canastra,
O vento que vem no ar.

Anda tristeza, arrasta
A nossa vida pró mar,
Sorri tristeza sem parar,
Pois sorrir até afasta,
O fantasma do penar.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 20-10-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠NÃO

Não fui eu que me inventei.
Nem projeto,
Nem desenho,
Apenas mais um da grei,
Pelo que sei,
Um ser de certo dialeto
E, já agora, convenho:
Simples, fiel, muito reto.

Fui na pobreza criado
E nunca algoz de ninguém
E muito menos bastardo,
Quer de pai ou de uma mãe.

Sou apenas o resultado
De um amor de vida a dois.
Com a minha voz se canta o fado,
Com a minha vara eu toco os bois.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 11-11-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

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