Poema para uma Amiga que se Mudou
E "eu te amo" era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça. Farpa incrustada na parte mais grossa da sola do pé.
Ah, e a falta de sede. Calor com sede seria suportável. Mas ah, a falta de sede.
Não havia senão faltas e ausências. E nem ao menos a vontade. Só farpas sem pontas salientes por onde serem pinçadas e extirpadas.
A Estrada, Como Uma Senhora
A ESTRADA, como uma senhora,
Só dá passagem legalmente.
Escrevo ao sabor quente da hora
Baldadamente.
Não saber bem o que se diz
É um pouco sol e um pouco alma.
Ah, quem me dera ser feliz
Teria isto, mais a calma.
Bom campo, estrada com cadastro,
Legislação entre erva nata.
Vou atar a lama com um nastro
Só para ver quem ma desata.
Tudo é Fugaz
(...) apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.
A base de toda a Metafísica
E agora, cavalheiros, eu vos deixo uma palavra que fique nas vossas mentes e nas vossas memórias como princípio e também como fim de toda a metafísica. (Tal qual o professor aos estudantes ao encerrar o seu curso repleto).
Tendo estudado antigos e modernos, sistemas dos gregos e dos germânicos, tendo estudado e situado Kant, Fichte, Schelling e Hegel, situado a doutrina de Platão, e Sócrates superior a Platão, e outros ainda superiores a Sócrates buscando pesquisar e situar,
Tendo estudado bastante o divino Cristo, eu vejo hoje reminiscências daqueles sistemas grego e germânico, deparo todas as filosofias, templos e dogmas cristãos encontro, e mesmo sem chegar a Sócrates eu vejo com absoluta clareza, e sem chegar até o divino Cristo, eu vejo o puro amor do homem por seu camarada, a atração de um amigo pelo amigo, de uma mulher pelo marido e vice-versa quando bem conjugados, de filhos pelos pais, de uma cidade por outra, de uma terra por outra.
Duas lagartas teceram cada uma seu casulo. Naquele ambiente protegido, foram transformadas em belíssimas borboletas. Quando estavam prestes a sair e voar livremente, vieram as ponderações. Uma borboleta, sentindo-se frágil, pensou consigo:
"A vida lá fora tem muitos perigos. Poderei ser despedaçada e comida por um pássaro. E, mesmo se um predador não me atacar, poderei sofrer com as tempestades. Um raio poderá me atingir. As chuvas poderão colabar minhas asas, levando-me a tombar no chão. Além disso, a primavera está acabando, e se faltar o néctar? Quem me socorrerá?". Os riscos de fato eram muitos, e a pequena borboleta tinha suas razões. Amedrontada, resolveu não partir. Ficou no seu protegido casulo, mas, como não tinha como sobreviver, morreu de um modo triste, desnutrida, desidratada e, pior ainda, enclausurada pelo mundo que tecera.
A outra borboleta também ficou apreensiva; tinha medo do mundo lá fora, sabia que muitas borboletas não duravam um dia fora do casulo, mas amou a liberdade mais do que os acidentes que viriam. E assim, partiu. Voou em direção a todos os perigos. Preferiu ser uma caminhante em busca da única coisa que determinava a sua essência.
Rosa Vermelha
Trago uma rosa vermelha
aberta dentro do peito
e já não sei se é comigo
se é contigo que me deito.
A minha rosa vermelha
mais parece uma romã
pois quando aberta de noite
não se fecha de manhã.
Trago uma rosa vermelha
na minha boca encarnada
quem me dera ser abelha
de tua boca fechada.
Trago uma rosa vermelha
não preciso de mais nada.
DORES DA ALMA
As dores da alma não deixam recados, imprimem uma sentença que perdura pelos anos. Um amor que acabou mal resolvido… Um emprego que se perdeu inexplicavelmente… Um casamento que mal começou e já terminou… Uma amizade que acabou com traição… Tudo vai deixando sinais, marcas profundas… Precisamos trabalhar as dores da alma, para que sirvam apenas de aprendizado, extraindo delas a capacidade de nos fortalecermos… aprendendo que o melhor de nós, ainda está em nós mesmos… Que amando-nos incondicionalmente descobrimos a auto-estima… Que se deixarmos seguir o caminho da dor e da lamentação, iremos buraco abaixo no caminho da depressão. As dores da alma não saem no jornal, não viram capa de revista… E só quem sente, pode avaliar o estrago que elas causam. Como não existe vacina para amores mal resolvidos, nem para decepções diárias, o que vale é a prevenção… Então… Ame-se para amar e ser verdadeiramente amado. Sorria para que o mundo seja mais gentil! Dedique-se para que as falhas sejam pequenas… Não se compare, você é único! Repare nas pequenas coisas, mas cuidado com as grandes que as vezes estão bem diante do nosso nariz e não enxergamos… Sonhe, pois o sonho é o combustível da realização. Tenha amigos e seja o melhor amigo de todos. Apaixone-se pela vida e por tudo o que é seu! Sinta o seu cheiro e acredite em seu poder de sedução… Estimule-se, contagie o mundo com o seu melhor… Creia em Deus pois sem Ele não há razão em nada! E tenha sempre a absoluta certeza de que, depois da forte tempestade, o arco-íris vai surgir e o sol vai brilhar ainda mais forte.
Não importa se é simples ou luxuoso,
rude ou delicado, bagunçado ou organizado:
o quarto de uma mulher é sempre um Castelo
em que um homem precisa fazer-se digno para entrar.
Se há algo para mudar que seja dentro da gente,
onde não é preciso fazer reserva nem gastar
uma nota para virar uma pessoa melhor.
Crônica: Feliz você novo - Trem Bala
- Você é uma menininha.
- Perto de você eu consigo ser e você não sabe o prazer que isso me dá.
- Se sentir menina?
- Estar com um homem, eu só andei com moleques nos últimos anos !
Cantiga do Viúvo
A noite caiu na minh'alma
Fiquei triste sem querer
Uma sombra veio vindo
Veio vindo, me abraçou
Era a sombra de meu bem
Que morreu há tanto tempo
Me abraçou com tanto amor
Me apertou com tanto fogo
Me beijou, me consolou
Depois riu devagarinho
Me disse adeus com a cabeça e saiu
Fechou a porta
Ouvi seus passos na escada
Depois mais nada, acabou
Existe amizade entre mulheres?
Existe. Mas basta que antipatizem
com uma fulana para o veneno
escorrer pelo canto da boca,
estragando a maquiagem.
Crônica: Amiguinhas da onça - Livro: Montanha Russa
No ombro do planeta
(em Caracas)
Oscar depositou
para sempre
uma ave uma flor
(ele não fez de pedra
nossas casas:
faz de asa).
No coração de Argel sofrida
fez aterrissar uma tarde
uma nave estelar
e linda
como ainda há de ser a vida.
(com seu traço futuro
Oscar nos ensina
que o sonho é popular).
Nos ensina a sonhar
mesmo se lidamos
com a matéria dura:
o ferro o cimento a fome
de humana arquitetura.
Nos ensina a viver
no que ele transfigura:
no açúcar da pedra
no sonho do ovo
na argila da aurora
na pluma da neve
na alvura do ovo.
-Oscar nos ensina
que a beleza é leve.
Haverá um ano em que haverá um mês, em
que haverá uma semana em que haverá um
dia em que haverá uma hora em que haverá
um minuto em que haverá um segundo
e dentro do segundo haverá o não tempo
sagrado da morte transfigurada.
Especialista em racionalizar emoções,
um geminiano coloca um sorriso nos lábios
antes que uma lágrima perccorra todo o seu rosto.
Um homem deve casar-se com uma mulher com quem ele adore conversar
com quem ele não perceba passar as horas enquanto conversam
porque com o passar dos dias o homem vai deixando de funcionar direito
e a única coisa que ele poderá fazer é justamente isto: conversar
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar.
Eu fora obrigada a entrar no deserto para saber com horror que o deserto é vivo, para saber que uma barata é a vida. Havia recuado até saber que em mim a vida mais profunda é antes do humano – e para isso eu tivera a coragem diabólica de largar os sentimentos. Eu tivera que não dar valor humano à vida para poder entender a largueza, muito mais que humana, do Deus. Havia eu pedido a coisa mais perigosa e proibida? arriscando a minha alma, teria eu ousadamente exigido ver Deus?
E agora eu estava como diante Dele e não entendia – estava inutilmente de pé diante Dele, e era de novo diante do nada. A mim, como a todo o mundo, me fora dado tudo, mas eu quisera mais: quisera saber desse tudo. E vendera a minha alma para saber. Mas agora eu entendia que não a vendera ao demônio, mas muito mais perigosamente: a Deus. Que me deixara ver. Pois Ele sabia que eu não saberia ver o que visse: a explicação de um enigma é a repetição do enigma. O que És? e a resposta é: És. O que existes? e a resposta é: o que existes. Eu tinha a capacidade da pergunta, mas não a de ouvir a resposta.
Mas como me reviver? Se não tenho uma palavra natural a dizer. Terei que fazer a palavra como se fosse criar o que me aconteceu?
Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo - traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais. Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.
Até criar a verdade do que me aconteceu. Ah, será mais um grafismo que uma escrita, pois tento mais uma reprodução do que uma expressão. Cada vez preciso menos me exprimir. Também isto perdi? Não, mesmo quando eu fazia esculturas eu já tentava apenas reproduzir, e apenas com as mãos.
Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive.
Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive.
É assim que eu me vejo.
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