Poema Nao Ame sem Amar
Torturas
Nada mudou.
O corpo sente dor,
necessita comer, respirar e dormir,
tem a pele tenra e logo abaixo sangue,
tem uma boa reserva de unhas e dentes,
ossos frágeis, juntas alongáveis.
Nas torturas leva-se tudo isso em conta.
Nada mudou.
Treme o corpo como tremia
antes de se fundar Roma e depois de fundada,
no século XX antes e depois de Cristo,
as torturas são como eram, só a terra encolheu
e o que quer que se passe parecer ser na porta ao lado .
Nada mudou.
Só chegou mais gente,
e às velhas culpas se juntaram novas,
reais, impostas, momentâneas, inexistentes,
mas o grito com que o corpo responde por elas
foi, é e será o grito da inocência
segundo a escala e registro sempiternos
Foi há muito tempo
Mas eu ainda me lembro
Como se fosse hoje
Por amor a um grande amor
Deixe de viver um grande amor
Sob a face serena
E o olhar tranquilo
No fundo do peito
Acima de qualquer suspeita
Há sempre um vulcão
Louco para entrar em erupção
O que é isso, o poeta?
Poeta é aquele ser estranho
E cujas palavras
Eu encontro palavras
Para explicar a minha dor
E o meu amor
A alma acostumada
A navegar
Em mares sombrios
E tempestuosos
Nas manhãs de calmaria
Desencanta-se...
Então, o vento veio
E levou tudo
E me deixou
Desde então
Ando a procura de ventanias
Que me arranquem – com raiz e tudo
Deste chão - onde eu fiquei pregado pelo medo
Pensamento
Se tu fosses ó rainha da dor.
A solução do amor.
Te faria de mim companheira.
Juntos inventariamos brincadeiras.
Para brincar com a sorte.
Se estivesses sozinhas é claro.
Pois com todos os teus predicados.
Poderia quem sabe conseguir o impossível.
(Momento terrível pensar assim).
Amando a morte, vivendo sem fim.
É como me sinto quando estou neste estado, surreal.
Estando ao teu lado eu calço os meus sapatos, de imaginação.
E começo a escrever.
Tudo ditado pelo coração.
E me ponho a sonhar contigo.
Singelo amigo.
Bem alto, por mim.
Procurando o que todos procuram.
A vida com ternura.
A casa da loucura.
O mundo sem fim.
O ARTISTA E SUA OBRA
Como é possível, senhora, que todos os homens aprendam
pela longa experiência? Formas que parecem vivas,
esculpidas na dura montanha de mármore, sobreviverão
ao seu autor, cujos anos ao pó retornam!
Assim produz frutos. A arte teve a sua vez,
e triunfa sobre a Natureza. Eu, que luto
com a Escultura, sei muito bem; suas maravilhas
vivem o despeito do tempo e da morte, estes implacáveis tiranos.
Portanto, posso dar vida longa a nós ambos
de uma forma ou de outra, na cor e na pedra,
fazendo o semblante do seu rosto e do meu.
Sucesso
Sucesso é sorrir e gargalhar
E olhar o horizonte e suspirar.
É beber água na fonte
Sem se preocupar.
Sucesso é poder estudar
Ampliar as fronteiras do conhecer
Ter a noção do quanto
Infinito são a sabedoria e o saber.
Sucesso é ter aonde ir
Mesmo sentindo uma vontade
Imensa e incomensurável
De continuar, de ficar.
Sucesso é ter dinheiro sim
Mas não ser prisioneiro dos bens materiais
É ter relações reais com as pessoas
E não ter relações objetais.
Sucesso é andar descalço por aí
Comer frutas no pé sem receios
É poder partir ou se isolar
Quando se está de saco cheio.
Sucesso é poder
Beijar a boca da amada
Poder fazer amor
Sem ter horas marcadas.
Sucesso é desejar
Principalmente o que se tem
É continuar desejando
O que conquistou.
Sucesso é resistir às traições
Aos insultos e as inverdades
Sobreviver aos absurdos
E ter imunidade às maldades.
Sucesso é tanta coisa
E outras coisas para cada um
É ter fé em Deus
E poder simplesmente respirar.
Sucesso é poder viajar
Seja para o exterior
Ou poder voltar para casa
Ou embarcar na literatura e suas asas.
Sucesso é ter uma ideologia
É acreditar na democracia
Ou desacreditar do sistema
E hastear a bandeira da Anarquia.
Sucesso é abraçar gostoso
Abraçar demoradamente
É rever alguém
E ficar verdadeiramente feliz.
Sucesso é deixar
Um legado ou ensinamento
Para o mundo ou para uma pessoa
Ou ainda, para várias pessoas.
Sucesso é amar
É ajudar ao próximo
E não fazer questão de retribuição
É esperar pouco ou quase nada.
Sucesso é atingir o alvo
É viver de fato um sonho
É ser um ser grato e ter a certeza
De ter feito o possível.
Sucesso é indefinível
Sucesso é algo incrível
Sucesso é ter feito valido à pena
Sucesso é poder descansar em paz.
Eu sigo calçando
com os meus passos inquietos
alegrias se apressando
e passados secretos
contorno
retorno
revivo
A ânsia que me consome
já fragmenta meus resquícios sanos
minh'alma anorexica, com fome
causa em mim severos danos
enlouquecendo
tremendo
temendo
As mãos que acariciavam
agora estão cansadas
das noites que mutilavam
do depois tão machucadas
naufragando
alucinando
lutando
Há dias de glória em meu olhar
e tormentas na tardia neste sorriso
me equilibro para me livrar
do pavor que tanto esquivo
sentindo
exaurindo
afligindo
Então a culpa se alastra
como um vírus imortal
parecem animais com mordaça
pedante e demasiado bestial
julgada
ignorada
...
...
...
lágrimas de uma invisível.
Eu sou meio eu
E, tambem meio voce.
Inexisto sem meu eu
Pouco existo sem voce
Dois mundos em um so mundo
Nao sei em qual estou
Foi apenas num segundo
Que tudo mudou
Eu era apenas um
Agora sou mais que um
Nao sei como aconteceu
Eramos os dois sós
Hoje somos um nós
Dividindo o mesmo eu.
“(...)
Reinventei o dia; para adormecer sonhando as outras noites que dormi...
Esperando encontrar; perdia...
Yeshua sorrindo nos olhava...!
Não sentindo esperança; a Lua já não sonhava acordada.
Amando o sonhado; sonhou acordando; o que a alma guarda no inexplicável...
Longe... Porém; perto de dentro ...
Destruindo uma esperança que não dormia; seguiram separados juntos...
Olhei-me no sonho te vendo a olhar-me; o seu sentir ficou dentro de mim...
Beijei seus olhos quando dormindo; não sonhavas...
Entre um raiar e outro, esperava sua chegada...
Relembrando o esquecido; senti que não estive dormindo...
Tentando pressentir, não consegui desistir ...
0ntem pode ser o hoje; que não vivi ...
- Khnum - (excerto de Poema: A lua Sonhadora.C.19 p.65 )”
Lembro-me de quando a vida
me acertou a primeira rasteira,
a morte de alguém importante.
Que coisa mais irritante,
andar de bar em bar
tentando encontrar
um pouco de quem partiu
em goles lentos e objetivos.
Que coisa mais incoerente,
tentar sanar um enorme buraco,
abrindo outro maior ainda.
É aí que as coisas costumam
sair do controle e a correnteza
começa a te empurrar
contra as rochas, te seduzir ao fundo
com promessas de lindas donzelas
que provavelmente nunca existiram.
Roney Rodrigues em "O laço da confusão"
Por tanto tempo
eu olhei suas fotografias.
Acariciei a pele do papel,
colei sua foto no meu travesseiro
na esperança inserir você em meus sonhos.
A eternidade que passei aqui
fez meus olhos arderem
e desregulou meu coração.
Segurei suas fotos junto ao meu peito
como uma criança faminta
segura um prato de refeição,
como um astronauta aposentado
admirando de longe a lua
que um dia lhe pertenceu.
Roney Rodrigues em "Câmara escura"
Ele escolhe a solidão da praça
para acalmar a mente (inflamada).
O amor, essa desgraça
que tende a se envergar,
ao ponto de estourar,
ao ponto de estragar.
Ela fita ele à distância,
atravessa a rua, apressa os passos.
Ela evita todo tipo de laço,
Foi condenada em primeira instância,
a viver reprisando o gosto dele
todo dia, em todo lugar.
Roney Rodrigues em "Réu"
Meu passo torto e trêmulo,
minha camisa mal passada,
meu tênis sujo,
pedaços de vidro
chovendo do céu,
tudo é tão ruim,
quando não me visto
de você.
Roney Rodrigues em "Intempérie"
A rosa já murcha
perdeu sua voz de clarim.
Pétalas derramadas,
vestida de espinhos,
caiu bem longe do jardim.
O aroma se foi,
a tormenta alcançou a mente.
Ela implorou por carinho,
mendigou pra muita gente.
A sujeira grudou na roupa,
na mente e no coração.
A rosa descobriu aos poucos:
a beleza é nada
além de aflição.
Roney Rodrigues em "Alameda das Rosas"
Lembrei do seu abraço apertado,
falhei ao te manter longe
dos cacos da minha memória.
Hesitei ao apagar
os teus registros de mim.
Não quis jogar
fora teus livros.
Aquele poema de Drummond
que você narrou pra mim
ricocheteia no
fundo da mente e vem
atormentar
meu gole de cachaça,
meu último gosto de amor,
o começo
da minha loucura semanal.
Roney Rodrigues em "Brain Damage"
Faltou algo no meu céu,
o brilho de estrelas mortas
levando anos luz para me acertar.
Eu fico vagando por aí,
sendo golpeado por meteoritos,
cometas e
olhares apaixonantes.
Em uma noite de céu turvo,
olhei no fundo da sua galáxia,
na profundeza que é você,
eu soube nesse instante:
Seu abraço seria meu:
Seu corpo, minha morada;
Seu carinho, a chave dessa jaula.
Eu vou chegar perto da sua pele,
vou me encostar, vou me perder.
você sempre soube,
estive doente aguardando
a cura cair do céu.
Me tornei dependente desde que
me mudei para o seu sorriso.
Em dor eu sempre ofereço:
Meu corpo ao seu lazer;
Minha poesia à sua memória.
Roney Rodrigues em "Lágrima Láctea"
Eu dirigia na estrada da vida.
Lembro que a tempestade rugia lá fora.
O pavor era vibrante, o medo era palpável.
Eu guiava com cautela e temor
sempre a vigiar o retrovisor,
Lia com atenção as placas.
Ao entrar na curva do teu corpo,
eu virei o volante, o corpo não respondeu.
Os pneus não tiveram aderência, eu capotei.
Os estilhaços, o horror,
a dor de saber tarde demais
que o melhor a fazer era ter esperado
o mau tempo passar.
Roney Rodrigues em "Aquaplanagem"
