Poema de Entrega
Os astros dançam
sobre a Baía de Babitonga,
De embalar a sua imagem
já perdi a minha conta.
O meu endereço austral
está escrito neste Hemisfério,
E no coração o poderoso
e mais sagrado mistério.
As correntes conduzem
para a Ilha de Mandijituba
sob esta fase da Lua oculta.
Tenho todos os mais
altos sinais de pertença:
amar esta terra é a sentença.
Sinto dores de felicidades.
O desinteresse gritante me fez acordar.
Quando vi meu rosto frente ao espelho, os olhos inchados com um sorriso largo e afetuoso - sorridente de alívio -.
Um sorriso de - já passou.
Agora sinto uma emoção forte batendo em meu peito.
Uma solidão plena - primária - assim como a matéria.
Recortes de uma vida
Irei tecer uma colcha de retalhos com todos esses sentimentos
No final, terei tecido uma grande colcha e, o que sobrar, farei um tapete para que possa pisar quando vier - se vier -.
A indisponibilidade fizera enxergar minha solidão
Hoje te celebro, pois descobri a minha melhor versão
E te celebro novamente
Se eu passasse a pombo
Às vezes penso em ser um pombo. Sim!
Fiquei cinco minutos observando, frente à padaria, e bastou para ver que eles precisam de pouco - de migalhas -.
Acho que fui pombo durante uma fase da minha vida.
Se eu passasse a pombo
A felicidade desesperadora que sinto por não ser mais pombo me conforta
O fim é o começo de tudo.
Como as aves do cruzam
as majestosas Américas
para se encontrar no verão
irá me procurar o seu coração.
Do jeito igual que as aves se
encontram na Ilha do Maracujá
na Baía do Babitonga só que
encontrar o pouso e a recíproca.
Desvendar a desabitada ilha
no bailar da aurora matutina
e no bailar da aurora vespertina.
Encontrando sempre uma nova
razão para renovar a paixão
sem se ocupar do mundo em viração.
" UM CANTO "
Talvez exista um canto onde a saudade
se esconda, vez ou outra, pra descanso!
Algum regato doce, leve, manso
que a abrigue da saudade que lhe invade!
Também, bem pode ser (não afianço)
que nem saudade tenha de verdade
e apenas finja ter, na falsidade,
pra assim conter, das críticas, o avanço.
Pois, quem é ela pra trazer consigo
histórias de outros, sempre em tenro abrigo,
pra atazanar a gente deste jeito?...
Tomara que ela sofra igual tormento
e tenha, de saudade, ao pensamento
o amor batendo forte junto ao peito!
" DESTACA-SE "
Se busca o diferente, a novidade,
o que diferencia-nos da massa;
de tudo que, ao comum, cá nos enlaça
ou que deixe evidente a nossa idade.
O que nos põe no igual, pois, se rechaça
e não queremos nós, por dignidade,
contados ser no rol da identidade
com que, o de corriqueiro, nos abraça.
Mas, o que é diferente nasce pronto
e se destaca, é claro! Digo, e ponto.
Mais nada se acrescenta nesse enredo…
Sequer precisa, então, pôr-se em destaque
ou dar maquiagem de cartola e fraque…
Destaque-se do mais sem ter segredo!
" PROVOCAÇÃO "
Se vê que isso é, tão só, provocação
e que ela te diverte imensamente!
É fácil ver o que é que tens em mente
expondo, desta forma, tua intenção!
Tu ages deste jeito inconsequente
mas sabes muito bem, e de antemão,
que apenas mexes toda com a emoção
sem ter, do amor, paixão real, ardente.
Qualquer libido entende o teu recado,
tua sede de querer deste pecado…
Tu só verás, com isso, mais sofrer…
Preserva-te e, ao fim, terás do amor
quem queira a parceria em teu ardor
e venha, intensamente, te querer!
" ROGO "
Olhou-me de relance, disfarçado,
por curto tempo apenas, bem discreta,
admirando, um pouco, este poeta,
que, por tudo o que belo, é enamorado!
Mal sabe se solteiro ou se casado,
lançou-me o olhar sem ponderar a seta
enquanto a observava aqui, pateta,
e o lance dela me direcionado.
Menina: não sou nada, pouco valho,
sou carta posta fora do baralho
sem serventia alguma pra esse jogo…
Não posso dar-te colo ou atenção
nem dividir contigo o que é paixão
ou atender, do olhar, esse teu rogo!..
No vaivém das correntes
da Baía do Babitonga
a sambaquiana história
revisitada neste estuário.
Sangue que corre nas veias
se mistura ao mangue
que por mim a vida resiste,
e por ele tudo segue e insiste.
Na Ilha da Murta encontra
no céu do Hemisfério
a mensagem e o mistério.
A herança se curva e abraça
para quando continuar a ser
aquela mesmo que incomoda.
" COMPREENDO "
Olhei a estrada inteira caminhada
agora que, do fim, chego mais perto
e vejo que escolhi meu rumo certo
em toda a decisão que foi tomada!
Nem tudo que se ama, a peito aberto,
irá conosco por toda a jornada!...
O amor não quer dizer, com isso, nada…
Apenas segue o rumo seu, liberto.
Bem sabe o que virá pra todos nós
depois de desatados esses nós
que foram, pelo tempo, nos prendendo…
A estrada toda olhei… O amor, a vida,
o encontro, uma união, a despedida,
e, com saber maior, hoje a compreendo!
" ESCOLHO "
Escolho, eu, não saber do que inda incerto
deixando que o futuro se desnude
no tempo, na medida, na amplitude
e, de qualquer desejo meu, liberto!
Prefiro, sendo assim, que nada mude
por não sabê-lo claro, a descoberto,
exposto, na incerteza, a céu aberto
vivendo-o, a cada instante como pude.
Não mudarei-lhe as cores da aquarela
nem fecharei-lhe as folhas da janela
apenas porque o olham com temor…
Eu, não saber, escolho! É meu direito…
Ele há de vir a mim sábio, perfeito
e, ao fim, trará consigo, e só, o amor!
" ESCURA "
Foi longa, de minh'alma, a noite escura
a caminhar sem rumo, no deserto,
sem ver um horizonte ali por perto
que desse-me, pra todo o mal, a cura!
De sombras, caminhei, todo coberto
sem mais sentir em mim calor, ternura,
e fui me adoecendo em desventura
sem mais saber o que era errado ou certo.
Tremenda escuridão… Noites sem fim…
Não via mais uma esperança, enfim!
Deixei-me amedrontar por tal engodo…
E, d’alma, a noite escura fez-me ver
que não havia nada o que temer…
Comigo estavas, Tu, o tempo todo!
" CONSENSO "
Não mais, no seu olhar, vi mágoa, pranto,
qualquer sinal de ainda haver rancor!
Guardou-me, com certeza, em seu amor
num recordar sincero, puro (e quanto)!
Em mim não há resquícios mais, de dor,
tristeza, de agonia ou desencanto
ficando o relembrar, pra meu espanto,
do quanto houve a paixão em forte ardor.
Seguimos, cada qual, por nova estrada
enquanto o recordar nos faz morada
e a história finda, enfim, em gratidão…
Foi tudo muito bom, real, intenso,
e temos tudo isso, por consenso,
mantido (e bem guardado) ao coração!
" GENIOSA "
Um gênio de mulher, bela, faceira,
intensa em seu amor, leal, honesta,
e, tudo em derredor, lhe é puro, é festa,
e sua alegria é benção costumeira!
Tem arte em suas mãos! A vida atesta
o quanto que é prendada! É costureira,
pintora, uma artesã… É bordadeira
e que, talento tem, ninguém contesta.
Porém, essa mulher de tanto encanto,
que se divide entre alegria e pranto,
insiste em ser, por vez, frágil, dengosa…
Rainha de seu reino, feiticeira,
levou-me, da loucura intensa, à beira
mostrando-me também ser geniosa!
Quero respirar o seu ar,
e por ambição reunir
todas as Cheganças
e trazer as festanças
para de fato encantar,
nutrir mútuo venerar
para te enamorar.
...
Quero o beijo,
o cheiro e tudo
o quê é teu inteiro
o amor bem feito.
(Amor-Perfeito)
...
O Chibamba da infância
tomou outras formas
na vida adulta ainda que breve,
Discretamente nos arremete,
um terço ajuda a dispersar,
Porque crescemos só no tamanho,
a criança miúda ainda dentro
se encontra mesmo sem pensar:
Ela sempre estará no mesmo lugar.
...
Vou de Chico para lá e para cá,
Chico-Puxado, Chico-de-Ronca,
Sou fandangueira há muito
tempo que já perdi até a conta.
...
O fandango toca
no coração,
Vamos de Chimarrete
e você me levando
pelo salão.
...
A mente engraçada
guarda várias
cidades submersas,
assombrações
e alucinações
que quando provocada
os diabos vão à tona
e saem um por um para dançar
sem data e sem hora para acabar.
sentir pulsar
entre o claro e o escuro,
é claro que o ritmo permanece:
descompassado, obscuro
(à espera de cura)
Ser poeta é
traduzir em palavras
o que se sente,
se ouve,
se vê
ou se imagina,
na busca de um mundo
real ou fictício
que comova,
toque
ou envolva o leitor,
ou não.
A tua memória tem agido
como buscando o ninho
na Ilha do Xavier haverá
de ser por mim e assim será.
Leio isso na dimensão
do meu Atlântico Sul,
pleno desta Pátria Austral,
num rito jamais visto igual.
Em ti a minha existência
habitante tem escrito
o seu secreto romance.
Espiando-me no buraco
da fechadura os teus olhos
meninos de amor têm inundado.
No Extremo Sul
de Santa Catarina,
um rio que muda de cor
é digno de poesia.
Ora verde ou azul,
sua resiliência extremada
ainda no Rio Araranguá
se pesca com tarrafa.
O rio é como a gente
que precisa de tudo um pouco,
sem ele ficaremos no sufoco.
Nas cores dele deixo
o meu coração e o carinho
em nome de um melhor destino.
Não dá para fingir
que o nosso presente
ainda parece repetir
os vícios do passado,
Se renova o voto diário
de camélia do jardim
espiritual da Abolição
ainda que pague o preço
ordinário da incompreensão.
(Resquícios de outrora pedem
renovação de tipos de rebelião).
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