Poema de Entrega
A memória de um tempo
como Caipora correndo
veloz e solto na mata
para desatar os nós
que os homens criaram,
Dá para perceber
que não não aprenderam
nada e que não desejam
nem nunca aprender,
Para não perder o brio
sigo o curso indicado pelo rio.
Ânimo de Angoéra
dançando com
as moças na festa
até o Sol raiar,
É assim que te quero
ver pelo salão
da vida a rodopiar,
Porque mesmo
que tudo desafia,
o importante é
nunca se esquecer
de cuidar da alegria,
e sempre encontrar
uma razão para festejar.
Não me casei
por duas razões:
porque não
fui encontrada,
E também
não encontrei;
Continuo crendo
no amor como lei.
Numa área de natureza verdejante com lindas árvores frondosas, vi o seu sorriso charmoso florescendo, demonstrando um contentamento admirável, contagiante de tão sincero, deixando todo aquele lugar iluminado e o dia ainda mais belo.
Nesta ocasião, senti como se o tempo tivesse parado, enquanto o meu coração estava alegre, os meus olhos bem atentos e eu refletindo no meu imaginário, satisfazendo o meu lado poético, imerso em um sonho acordado, mesmo sendo bastante passageiro.
Naturalmente, fiquei despreocupado com o restante a minha volta, a realidade daquele cenário era muito mais interessante, principalmente, por estar diante dela, sendo inspirado, dando vida a um simples poema, cujos versos foram formados com toda a presteza.
Ninguém e nada desagradável apareceu para atrapalhar esta tamanha bênção num misto de intensidade, romantismo e simplicidade de uma cena apaixonante entre este poeta e esta inspiração abençoada, pertos e distantes, uma conversa respeitosa e sem palavras.
Que cresça
sem lenda
e do jeito que
a vida queira,
Que venha
a Tamba-Tajá
sem mistérios
e sem nenhuma
preocupação,
se o seu coração
é meu ou não.
Será?
Será que, por um milagre do destino, voltarei a amar verdadeiramente? Conseguirei novamente sentir aquele formigamento ao te ver, e meu coração disparar ao tocar a tua pele? Poderei, quem sabe, perder-me em teu olhar, passar horas em conversas que revelam cada mínimo detalhe teu? Talvez, por um devaneio desta vida, eu consiga amar de novo e sentir, com a mais absoluta certeza, que esse amor é verdadeiro em meu coração. Se voltarei a amar, não posso afirmar. Tudo o que sei é que estou prisioneiro de um amor que já não me pertence, um amor que me abandonou meses atrás.
O INVENTOR
DE IDIOMAS
,
,
Ainda adolescente,
inventou duas ou três palavras
que não se achavam em quaisquer idiomas.
Não faziam sentido em inglês, bielorrusso, javanês!
A bem dizer de todos os dizeres, não faziam sequer sentido
mesmo neste código mais do que secreto: o português.
.
Depois percebeu que as duas ou três palavras,
que àquela altura já eram quatro ou cinco,
não eram irmãs, nem distantes primas.
Estranhavam-se, umas às outras,
como se não fossem feitas
da mesma alma-carne.
.
Por causa disso
– da solidão de suas palavras –
demoradamente dedicou a sua vida
a inventar os idiomas que pudessem acolhê-las.
Fundou ainda uma escola de tradutores,
para traí-las umas nas outras.
.
Mais cedo do que mais tarde,
alguns ociosos fundaram cátedras
especializadas em ensiná-las e estudá-las
muito solenemente, com leveza ou gravidade.
Assim, ele ganhou o seu primeiro – e único – Nobel,
em uma nova categoria que não era a Literatura,
recém-inventada, especialmente para ele.
.
Quando por fim morresse
– do que dois ou três seguidores duvidavam –
alguém haveria de escrever na lápide, à maneira de epitáfio:
“gênio da humanidade”, “inventor de palavras”.
Mas um outro, ao perceber a injustiça,
certamente iria logo corrigir,
depois de um risco
no falso dito:
“Inventor
de
Idiomas”.
.
E o mundo
ficaria em paz...
– tal qual sagrado cálice –
como nunca esteve depois do Verbo.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Decifrar, 2022]
MEDO DE TIGRE-ARANHA
.
.
Tinha um medo crônico de tigres.
Podia ser até mesmo dos que estão nos filmes
enjaulados dentro de uma intransponível tela de Cinema
e incapazes de saltar para a nossa dimensão.
.
Se vislumbrava um cartaz de propaganda
estampado com uma só destas feras,
ali mesmo deixava litros de medo
escorrerem por entre as pernas.
.
O medo de tigres fora o companheiro
de toda a sua vida.
Desde a mais tenra infância
chorava ao ver desenhos de tigrinhos
nos pijamas e invólucros de refrigerantes.
.
Isso tudo, apesar
de não haver tigres em seu continente,
e de sua pequena cidade jamais ter sido visitada
nem mesmo por um velho tigre desdentado,
protegido pela jaula de um circo.
.
Tigres...
Esse pânico o acompanhou sempre
a cada dia, a cada instante de sua vida.
Foi a psicólogos caros, mas sem resultados.
Lá estavam, no fundo, sempre os mesmos tigres...
Espreitando, ferozes e listrados, no covil do inconsciente.
.
.
[BARROS, José D’Assunção. Publicado na revista Simbiótica, 2023]
Do norte do encanto
profundo és o Turpial
que ao peito canta
absoluto o essencial.
Quando não en(canta)
ou até mesmo não voa,
sempre por aqui pousa
porque ama ou ama.
Haverá uma hora que não
encontrará outra saída,
e sem dúvida se renderá.
Não é nem preciso muito
explicar o porquê será assim:
Toda a ave conhece o seu pomar.
Como Verônica
com o Santo Sudário
Apresento o meu
amor de devoção
secreto no meu
peito reconhecendo
que percebo que
em ti moro dentro.
No jardim das delícias
sabemos dos espinhos,
A sua inteligência me distrai
me envolve e põe nas tuas mãos,
Faz a minha curiosidade maior
do que as minhas defesas,
O teu coração por enquanto
só lê os meus poemas.
Inundada de alegria
correu descalça
pelos ladrilhos
em direção a palmeira,
Pegou os copos e garrafa
para brindar a vida
com toda a maior poesia.
Amor de minh'alma
Risonho e sedutor
Reina em mim
Indelével
Este mistério
Silencioso
Generoso
Admirável que constrói um
Reinado em mim.
No silêncio da noite, as estrelas brilham,
No amanhecer, o sol desperta o mundo.
Na brisa leve, as flores se abrem,
E no mar, as ondas abraçam a areia.
Tudo tem seu próprio movimento, seu próprio ritmo,
Mas nada se compara ao que eu sinto por você,
Que cresce a cada olhar, a cada palavra,
A cada instante em que estamos juntos.
O universo segue seu curso,
Mas meu coração? Ele escolheu você.
E, em cada novo dia, a certeza só aumenta:
Você é meu destino, meu amor, minha escolha,
Hoje, amanhã e sempre.
O Bem-te-vi de outrora
quase não se escuta mais,
na memória o canto
não foi esquecido jamais.
Rotas que não deveriam ser
apagadas devem ser
constatemente resgatadas,
e laços igualmente refeitos.
Em nome daquilo que nunca
deveria ter sido esquecido:
caminhos devem ser restabelecidos.
Lembrar de tudo aquilo que fez
resistir para chegar até aqui é
necessário para continuar a existir.
Fabulosamente eu desejo
Um dia dizer para você que
Te quero do tamanho do Universo,
Um dia isso irá acontecer quando
Reunidos estivermos apaixonados,
Orgulhosos e nos mesmos passos.
Pelas corredeiras do rio
de fogo do seu silêncio,
Ofereço um Aaru
feito pelos cocozus,
E o meu amoroso
bom humor porque se é
para ser os próximos
movimentos serão seus
porque o coração já tens
e todos os poemas meus.
Folhas verdes de Bananeira
para te mimar com um
bem feito e carinhoso Abalá,
E algo que continuo
desejando o tempo todo,
Tudo meu em ti
só tende a aumentar,
Quando estivermos juntos
é o amor que por nós irá falar.
Há muito de mim
dos devotados malês
com os seus abadás
orando Aluma Gariba
em noites de Lua,
Com toda essa poesia
desejando ser só sua.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp
