Poema de Albert Camus
Os homens só se convencem das nossas razões, da nossa sinceridade, da sinceridade
dos nossos sofrimentos, quando morremos.
Se Deus existe, tudo depende dele e nada podemos fazer contra a sua vontade. Se não existe, tudo depende de nós.
Imaginar que os outros eram ainda menos livres que eles. "Há sempre quem seja mais prisioneiro que eu" era a frase que resumia a então única esperança possível.
(...) Como se esta grande cólera me tivesse purificado do mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de sinais e de estrelas eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo.
Não sei se este mundo tem um sentido que o ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que por ora me é impossível conhecê-lo.
Para o consolar, eu disse-lhe - "Mas acontece o mesmo a toda a gente!"
-Justamente- respondeu-me ele- , somos agora como toda a gente
"Eu parecia ter as mãos vazias. Mas estava certo de mim mesmo, certo de tudo (...) certo da minha vida e desta morte que se aproximava. Sim, não sabia mais nada que isto. Mas, ao menos, segurava esta verdade, tanto como esta verdade me segurava a mim"
"Pois bem, morrerei. Mais cedo do que os outros, evidentemente. Mas todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida"
Assim como não concebia uma felicidade sobre-humana, também não conseguia conceber uma eternidade além da curva dos dias. A felicidade era humana e a eternidade quotidiana. Tudo resumia-se em saber humilhar-se, harmonizar o coração ao ritmo dos dias, em vez de obrigá-los a seguir a curva de nossa esperança.
Da mesma forma que é necessário, em arte, saber parar, pois chega sempre um momento em que uma escultura não deve ser mais tocada, e que, para isso, a vontade da inteligência serve melhor ao artista do que os mais amplos recursos da clarividência, assim também é necessário um mínimo de ininteligência para se conseguir uma existência feliz. E quem não a tiver, tem de conquistá-la.
O que é chamado de ceticismo das novas gerações – mentira.
Desde quando o homem honesto que se recusa a acreditar no mentiroso é que é o cético?
A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas. Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados. O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo.
Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado acto do amor, ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. (...) por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber.
Uma forma conveniente de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre.
" Não me faz diferença esperar, desde que saiba que vais chegar. E quando cá não estás penso no que estás a fazer"
A filosofia pode servir pra tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes.