Pe Fabio de Melo Amar
É triste, muito triste essa sensação de não ser nada, não pertencer a lugar nenhum e não ser de ninguém.
Em vez disso, teatralmente, sorri de forma educada e continuei a comer. Não queria demonstrar que estava tudo fora do lugar, que eu estava mal com tudo aquilo. Não queria que ele tivesse pena de mim.
E foi aí que eu o vi. Num canto, no meio da multidão. Tinha a beleza de uns olhos perturbadores, uma agonia. Me apaixonei por aquele caos.
Parte de mim, a mais forte, queria gritar diante aos olhos dele que eu não aguentava essa distância. Eu queria fazê-lo sentir o mesmo desespero que eu sentia. A outra parte, a mais estúpida, queria que eu me calasse como eu sempre fiz.
Daí depois de vários dias seguidos, acreditando e vivendo para isso, tive certeza que eu estava enlouquecendo.
E fiquei mais magro. Mais até do que jamais se tinha visto, e cansado também. Havia pequenas rugas se estendendo desde os cantos dos meus olhos até o alto da testa. Mal saía de casa, era tudo interno. Eu já havia desistido de mim.
Mas, em algum lugar, éramos eternos. De alguma forma, ainda que temeroso, algo em meu coração dizia que tudo voltava ao seu devido lugar. E voltava.
Decorar as cores mais curiosas que estão escondidas sob tua retina. Dedilhar devagarzinho tua barba até encontrar aquilo que mais há de bonito em teu rosto. Eu enxergo beleza na parte mais triste e sofrida que puder existir em você e que ninguém vê. Há beleza na tristeza, tu me dizia em meio a sussurros. Há beleza no amor, eu te disse entre os afagos confusos.
Pensei numa festa bem bonita, cheia de gente nos desejando as mais belas felicitações. Planejei que fosse tudo num gramado, um lugar onde fosse possível mostrar nosso mundo repleto de cores. Pensei também em uns retratos que fossem além do simples desejo de guardar no álbum. Depois poderíamos ir para Paris, frequentar aquelas ruas apaixonantes, tomaríamos um café quentinho numa confeitaria, abraçados, ouvindo um jazz qualquer.
O calendário marca a data do encontro, mas desconhece — propositalmente — o momento da despedida. O problema é esse, meu bem: eu te amei sem pensar nas cicatrizes, nas pausas curtas e na escuridão das partidas.
Ele não sabe. Mas quando eu o vejo, distraído, eu imagino a pessoa certa pra cuidar dos meus filhos.
Você tem mania de confundir meus olhos escuros com seus abismos. Joga todo o peso sobre mim como se eu aguentasse o peso do mundo, do seu mundo. E eu nunca aguentei.
Eu não sei que força é essa que me acolhe quando não peço ajuda, mas que está lá.
Eu não sei que força é essa que me trás de volta quando me perco de mim.
Eu não sei que força é essa que brota não sei de onde, mas que me deixa por cima sempre.
Tenho medo de deixar de acreditar nesta força invisível, potente, arrebatadora que me toma e dá a graça de acreditar mais em mim a cada novo amanhecer.
Tenho medo de deixar de crer que amanhã o meu dia será melhor.
Que ao amanhecer a minha história esteja virada de pernas pro ar, mas que mesmo assim essa força que grita em silêncio não se apague do meus pensamentos.
De pessoas inteligentes o inferno tá cheio. O céu precisa de pessoas determinadas. O céu só é garantido para quem quer alcançá-lo.
Eu comecei a entender tanto as coisas, principalmente pessoas, saber o que de fato elas sentem por dentro — assim como um ouvido amigo, uma obra de caridade, uma troca de experiências. Tenho conhecido pequenas dores, grandes amores, sonhos quebrados, quedas e medos surpreendentes. Uma piedade que me fez entender que a dor não é coisa exclusiva minha.
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