O Silencio de uma Tela em Branco
Quando aqui cheguei
as crianças eram crianças
os adultos já eram adultos
os velhos eram sempre velhos
e o mundo estava pronto
concluído e imutável para se viver
Quando daqui me for
as crianças cresceram
os adultos são outros
todos os velhos morreram
o mundo havia tanto mudado
e eu não sou mais o mesmo
Vou deixar o agora de lado
ir para o amanhã do hoje
me encontrar com o ontem
e me banquetear junto
com meu menino
meu moço
e meu impartível velho rapaz
Deus escreve em aramaico para inglês ler em português, pensando em alemão, traduzindo em javanês e ouvindo em chinês
Do dilúvio onde se afoga o tempo
salvei o trigésimo minuto
da décima-primeira hora
do dia que já não me lembro
O calendário da memória
não é feito de algarismos ou datas
mas de machucados, feridas
e instantes arrebatados
Se hoje passei pela tarde
foi porque ela estava lá
Se depois de amanhã não morrer
foi porque eu não estava lá
Se amanhã um dia você voltar e quiser me encontrar, volte para o ontem, pois no hoje já não estou mais no mesmo lugar.
Tenho mais lembranças do meu passado do que de ontem.
Talvez o ontem esteja perto demais para ser lembrado.
Se soubesse antes
que meu ontem hoje ia acabar
transformaria ele em memória
e me lembraria agora o que comi
no café da manhã
no almoço e no jantar
Quanto mais distante o passado se encontra do calendário, mais ele se encontra bem próximo da superfície da memória presente
Há algo de similar entre vampiros e poetas. Enquanto os vampiros sugam o sangue que corre nas carnes vivas, os poetas sugam versos que pulsam no sangue da vida
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