O Homem Errado Luis Fermando Verissimo
No lado do carona,
a térmica na mateira
Da erva úmida,
o cheiro do mate
No rádio alguma música
regional
A paisagem bela
A serra
Os morros
A terra
Diante dos olhos
nuvens se movem
sem rosto
Dirigindo,
penso em Deus
Sou parte do mundo;
Sou tão pequeno!
Ligo as luzes,
Já é noite.
A estrada é solitária
- Sempre foi -
Reflexos luminosos
indicam sereno da madrugada
Peço a um anjo
que me guie
A vida não tem parada
Já, já
surgirá um novo dia.
Lua feita de silêncios
na calmaria noturna
A vida, inconformada,
tatua frases no peito
Pinta uma lágrima desmotivada,
amistosa,
- Do nada -
O futuro é desconhecido,
mas a noite é enluarada.
A paisagem veste-se de noiva
Os caminhos congelam
Pobre gado!
Desespera-se pelo estábulo
Da boca verte fumaça
Um sentimento
sentido,
O tremor
do minuano zunindo,
O milho,
doce alimento
Noite impiedosa
Um filete de lua
tremelica...
gelado.
Adornos de risos e alegrias
Farras e fantasias
semeando a vida
no horto de hortênsias,
perfumando o sacrário
da frase morta
Esquecida
Nos degraus do campanário
não há luz
- Morrem as estrelas-.
Em silêncio a luz apagou,
A alma aquietou-se,
triste e aniquilada
Vaga-lumes de estrelas
distantes e calados,
iluminado a madrugada
Olhos sem brilho
vertem dormentes,
frutas inférteis,
infrutíferas sementes
Tudo é deserto
O verde morreu
O eco distante
diz o que viveu.
Vozes do passado
- Compõem pinturas –
e expõem na tela
traços de lonjuras
A vida
é sombra
de sonhos
fantasiados.
O tempo...
Jovens noites de brisa
Nostálgica juventude.
A noite deixa tudo tão longe,
nostálgico...
Um tanto trágico que
parece real
O anjo noturno
anima a alma
antes do sono contínuo
Mãos juntas
iluminam a prece
Ativam sonhos …
Estou lá
Nos quadros e afins
nos vasos e nos jardins
Em arranjos preparados
nos frascos perfumados
Pétala aromatizada
Natureza viva
Flor florida.
Charnecas floridas
após a chuva
- Vida líquida -
dançam alegres
Ventos de elásticos
Repuxe de ondas
repetem nos olhos
a fotografia
Exalam nos ares
- Aqui e além-mares -
legendas perfumadas
em cores que balançam
colorindo o inconsciente
- Das flores –
da gente.
Vida vindo
ventando vivências
aventando a existência
A rosa escarlata
para a mais bela
Ansioso
ao vê-la na janela
Depois o adeus
envelhece o silêncio.
Simbiose de fungos e algas
Líquens colorem as pedras
e os caminhos...
Vidros e olhos embaçados
mergulhados em brisas e saudades.
Reflito um instante...
Tantas coisas em mim
Calo!
Pensamentos não falam.
Vermelha uva
- Vinho -
Cacho sem espinhos
Ramos podados
Cipós sustentados
e o pássaro em volta
Um grão no papo,
outro no chão
O canto silvestre
de agradecimento
Se não fosse o pássaro
seria o vento.
Tua energia é luz - luar
Brilha!
Escureço ao te ver passar.
Reflexos de arco-íris
Íris em arrebol
reverberam os raios do sol.
Sorrindo ...
Cabeça alta
Alma colorida
Beleza não lhe falta.
Trago nos olhos
O brilho do sol
de verão.
A sombra nos tijolos
forma no muro
algo sem tradução.
A imaginação colore
com jatos férteis
vindos do coração.
A pele arde
ao meio dia
a vida puxada pela copada
arrebenta-se ao meio
estrada de pó
solão
piedade!
Passos suspensos irrespiráveis
olhar incrédulo e horrorizado
do gado
faminto no potreiro
- O verde definha-
Balançando desce
suave a semente
sobre o solo pousa
sua leveza
Sutil e natural
sob a terra
chuva o gera
Lunação imediata
Bons ventos
sacodem os galhos
- Vida verde-
Na sombra das asas
voa
Inventa movimentos
Repousa
Sossega
Encolhe
- Impiedosamente#2;Some
Perde-se
do sol.
Nas asas internas
À luz
na parede
projeta
objetos
Nas asas da noite
silencia,
se ausenta.
Repousa
noturna solidão.
Duas chaves
abrem a mesma porta
Claves de sol
Voz noturna-rouxinol
Migrações coloridas
Pássaros de rosas-vidas
Abre-se coração
Ouve-se a canção
Recebe a pétala
solitária na mão.
- O voo não silencia a emoção -
Despidos,
pobres bichos!
E a chuva a lhes umedecer.
Outros cantam!
Tais felicidades às avessas
parecem sorrir
risos saciados
sem sede
sem medos.
Em que reside a alegria?
Na água e milho
- Dirão eles!
E eu sem respostas
Sem cantos
Sem risos
Sisudo
cara amarrada,
Vestido!
