O Homem Errado Luis Fermando Verissimo
Poderás oferecer uns binóculos a um ignorante
Mas ele irá continuar a ver
Apenas as pontas dos sapatos
Vãos
Pelos vãos dos seus dedos
Com maestria incontida
Passaram tantos segredos
Escapou tanto da vida.
Por eles vazaram poesias
Num galope ultra frenético
Incrédulo e imóvel você permitia
Contemplava com olhar poético.
A gente
A gente se doa em cada gesto de carinho
A gente se dá em cada flor que oferece
A gente se perde no outro quando ama
A gente renasce quando tem o que viver.
Faliu a sociedade
E a mãe perdeu o filho
E se fechou.
E outra família perdeu o pai
E se fechou.
E outros perderam outros
Humanos, honestos, bravos...
Faliu a sociedade
O crime reduziu a idade
Os valores reduziram nas cabeças
Intoxicadas.
E a mãe generosa
De coração sem limite
De bondade divina
De amor e luta
Perdeu outro filho,
E a sociedade não viu
O policial não viu
O juiz não puniu,
Mas o filho sumiu.
Coração de mãe cabe mais um,
Mas por Deus,
Há uns que não merecem ter mãe,
Há uns que não tem Deus,
Mãe nunca vai entender
Por qual motivo outro filho
Assassina um filho seu.
Cenário
É preciso encontrar ao menos um poema
Ou mesmo um simples verso sem rima,
Uma frase rabiscada na folha dobrada
Para fazer voltar na memória
O que agora é apenas história.
Na necessidade de se ir adiante
Vê-se o cenário da antiga cena
E hoje ensaia-se só.
Nesta hora tem-se a certeza
O que era um caminho
Transformou-se em estrada
De se caminhar sozinho.
Foi-se a vida
A velhice chegou.
Hostil
Para seguir em frente
É preciso detonar minas internas,
Cavar túneis na alma,
Fazer pontes nos sentimentos,
Abrir picadas nas muralhas da vida.
Neste ambiente hostil
Dos meus olhos nasce um rio
Dou a ele brilho sutil
Águas mornas de frio.
Que vida!
A algazarra cessou.
Apenas uma lâmpada, ao fundo,
De resto e de alma tudo sombreou.
Um menino sonhando corria sozinho
Perdido, desconecto do caminho.
De dia viu voarem passarinhos,
Mas pernoitou sem sequer ter um ninho.
Sem travesseiro,
Querendo a noite passar ligeiro
Como se fosse dela apenas um passageiro.
Sonhos reais
Horrores,
Temores...
Tremores.
Um timbre de galo .... Distante,
O dia entrante
Angústia alarmante.
Desejou plantar a poesia
Na ilusão de colher o café da manhã,
No orfanato da agonia.
Desacreditou no amor
Angustiado calou.
Sem mundo
Humano imundo.
Matou as aventuras,
Matou as canções,
Sepultou ilusões.
- Que vida meu Deus...
Que vida!
A vida
Evito ao natural manusear
Vou lendo de lá pra cá,
Prefiro não saber se acabei
Ou se estou apenas a começar.
Hoje passei no bosque
em trilhas que antes já fiz
revi vestígios da amarelinha
em apagados riscos de giz.
A gente se doa em cada gesto de carinho, em cada flor que oferece, se perde no outro quando ama, renasce quando tem o que viver
As estrelas não te avistam e a escuridão não te esconde, na noite que criei, num cenário exclusivo, antevejo o sorriso
Eu não estou quebrado, ou precisando de pessoas que me amem, eu estou perdido, eu preciso me encontrar, para finalmente ser feliz
Se lutar para ser feliz o quanto deseja ser feliz, poderá ser feliz. Mas, se apenas almejar a felicidade, sem mudar as atitudes, será como o cão que baba em frente à vitrine de uma padaria, que prefere contemplar o aparente sem se dispor a batalhar pelo real.
Ele veio
Nos guiar
Trouxe brilho em sua luz
Ao tilintar do sino
Com fé, amor e paz
Saudamos o Menino Jesus.
É Natal.
