O Homem Errado Luis Fermando Verissimo
Não há
Bastava-me um motivo
E eu sorriria,
Mas não, não havia sorrisos
Muito menos motivos.
Nunca ninguém sorri
Nunca há motivos,
Tudo o que a vida dá
São penitências de fazer santos
E exigências de criar heróis.
Nem com milagres
Nem com promessas
Nem procure sorrisos
Onde nunca antes foi achado.
Tempo menino
O tempo é o menino que toca a campainha da vida
E corre...
É a água que escorre, passa por nós,
E vai...
É vento devastador saindo do mar e
Se aproximando...
É roupa que encolheu,
Não serve mais.
É sorriso substituído por certezas
Angustiantes inimagináveis antes.
Implacável, revela imperfeições,
Que a beleza jovem escondia.
Suplanta sonhos,
Mata sorrisos
Desperta monstros.
Ainda assim te recompensa,
Te encanta,
Te conquista.
Não brilham
Escolho palavras duras,
Granitos
Valiosos
Diamantes vermelhos.
As mais certas
Não evito
Glórias falsas
Não brilham.
Vulto
Chegou de madrugada,
Leve.
Um vulto que não se ouvia.
Era tarde,
Mesmo na escuridão,
Sorria.
Ah! Passos que temia
Que ao se imaginar
Sentia.
Piscou no novo dia
Tudo ilusório...
Partia.
Dois versos (v)
Meu primeiro verso sonha com a liberdade
O segundo dela sente saudade.
Meu primeiro verso é lápis que tudo escreve
O segundo e borracha, mas pega leve.
Meu primeiro verso eterno conservador
O segundo um declarado abrasador.
Meu primeiro verso é chuva fria
O segundo desenha o sol em poesia.
Meu primeiro verso é carrancudo
O segundo acaricia o mundo.
Sempre um verso é meu primeiro
Nunca outro verso é meu segundo.
Última vida
Eu tive medo,
Preferi calar.
Poderia ser a última vida.
Senti-me só.
Ancorei-me lentamente
Para ser coberto pelo pó.
O futuro?
Um elo frágil
Um sopro
Uma interrogação
Um nó.
Tem vezes
Tem vezes que encaixamos acomodações onde nem cabem,
Para determos soluços doloridos apertados no peito.
Miramos lados inúteis onde sombras descem
E ao incolor damos na metáfora enormes coloridos.
Nesses momentos em que nada distrai as lembranças
E que até o pisar suave faz barulho na saudade
É imprescindível e salutar toda coerência
Disfarçada no sorriso que estampa falsa felicidade.
Vindos do lado norte
Ouviu-se uma explosão
Deveras forte
Ventos soprando intensos
Vindos do lado norte.
A notícia se espalhou
Logo se viu
Um verso não suportou
E, desolado, explodiu.
Enlutando a poesia
Num lamentar sem fim
Ainda bem que o poeta
Não desiste fácil assim.
Nenhum girassol
Piso num solo endurecido
Torrões resistentes
Barro ressequindo.
O sol escalda-me
Suor escorre
Nem uma nuvem
Rebelde acima.
Nenhum girassol
Um colorido qualquer
Para florir um sonho.
Há uma impiedade que assola
Que não aceita emoção,
Que seca; meu Deus!
E eu não sei ligar a razão.
Sorria...
Sorria...
Nada vai fazer o tempo voltar
Sorria...
Um dia todos irão embora
Sorria...
Viver é enfrentar decepções
Sorria...
A dor ensina e passa
Sorria...
A história já está contada
Sorria...
Transforme as angústias com graça
Sorria...
Logo virá outro amanhecer
Sorria...
Valeu a pena tudo viver
Sorria...
Há o infinito eterno.
Depois a gente chora
Sorria...
Ao menos sorria agora.
Pela vida
Era uma tarde florida,
Leve, alegre... Mágica
Sai a caminhar pela vida
Tempo para a água ferver.
Tempo para o pão crescer.
Prefácio
Que as estrelas não te vejam
Nem a escuridão te esconda.
Na noite que criarei
Num cenário exclusivo,
Serás prefácio do meu sorriso.
Espere amanhecer
A noite não foi feita para partir,
Sente-se na varanda
Prove o vinho
Enquanto trocamos alguns carinhos.
Não vá agora, espere amanhecer
Talvez a noite te convença a ficar,
Mas se assim não for
Vá de dia
A noite não foi feita para se despedir.
Basta
Basta uma nota
E pode virar música.
Bastam alguns versos
E pode virar poema.
Basta a distância
E vira saudade.
Bastava um beijo
E talvez, vire amor.
Basta um adeus
E vira história.
