O Dificil Facilitador do Verbo Ouvir
Se andarmos pelos caminhos que outros já percorreram, chegaremos no máximo aos lugares que eles já atingiram.
Quando estudamos os pertences deles, o meu pai disse que o falecido nos conta uma história. Ele também disse que não posso ouvir as histórias deles se não estiver disposto a ouvir.
Eu vejo os pobres nos lugares santos e os ricos nos lugares imundos.
Eu vejo mendigos reinando e reis nos lugares pobres.
Se nem os passárinhos do céu passam fome, quanto mais nós pra quem tudo foi feito.
Não existe nínguem que em toda sua majestade e beleza tenha verdadeiramente se vestido como uma flor de rosa.
Até o mais tolo quando se cala passa por sábio.
A boca confessa aquilo que está no coração.
O coração é enganoso. Laços de morte são a boca do que maldiz.
Não importa o que você fizer, mas faça pra Deus.
A loucura do mundo é a sabedoria dos Céus.
Eu anestesio a minha mente na tentativa de não ver todo esse caos ao meu redor.
Os pais que se calam vendo a ruína de seus filhos, sendo eles a ruína deles, sendo eles a própria ruína. Porque eu sei que o dinheiro também traz consigo a avareza.
Quando eu tentei mostrar um pouco do que penso de mim, me deu costas. Foi incapaz de me tornar capaz. A vida o faz.
Se todos aqueles goles me fazem mal eu testemunho que veneno nenhum já tenha traído alguém.
Um terço morrerá de fumaça e um terço de fome, qual terço irá pra paz e qual terço irá pro tormento eu não sei, nenhuma reza em terço responderá, mas sei que o descanço está reservado pro terço que acreditar. O terço que torcer.
Por que o amor acaba?
Por milhões de coisas bobas, pequenas e sem nenhuma importância. Porém, foram coisas que não foram ditas e então elas se acumularam. Como num quartinho onde se coloca os entulhos… nos entulhamos das coisas que não dizemos. E isso acaba nos sufocando e achamos que o amor acabou. Mas o amor não acaba, ele está apenas acumulado em nossa covardia de acumular silêncio!
Eis que estou à porta e bato. Se alguém
ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos”
(Ap 3,20).
Deixei de ouvir-te. E sei que sou
mais triste com o teu silêncio.
Preferia pensar que só adormeceste; mas
se encostar ao teu pulso o meu ouvido
não escutarei senão a minha dor.
Deus precisou de ti, bem sei. E
não vejo como censurá-lo
ou perdoar-lhe.
Assim como as águas mansas do rio procura seu leito, meu coração ainda busca seu amor perdido na imensidão do tempo.
Podia ir ver o mar como um bom turista, mas não adianta se não temos a quem elogiar a vista. Passa-se o mesmo com as igrejas, o luar ou uma cuba libre. Nada vale a pena se não for partilhado.
Sabe o que é bom nos corações partidos? É que eles se partem apenas uma vez. O resto são apenas arranhões.
A Rosa da Imortalidade
Há muitos e muitos anos, em um lugar longínquo e triste, havia uma montanha enorme de pedras negras e ásperas. Ao cair da tarde, floria, todas as noites, uma rosa que conferia imortalidade. Mas ninguém ousava se aproximar dela, pois seus muitos espinhos eram venenosos. Entre os homens falava-se mais sobre o medo da morte e da dor e nunca sobre a promessa de imortalidade. E, todas as tardes, a rosa murchava incapaz de conceder sua dádiva a ninguém, esquecida e perdida no topo da montanha fria e escura, sozinha até o fim dos tempos.
Dizem que há muito, muito tempo no mundo subterrâneo, onde não existem nem a mentira, nem a dor, vivia uma princesa que sonhava com o mundo dos humanos. Ela sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante. Um dia, enganando toda a vigilância a princesa escapou. Uma vez no exterior a luz do sol a cegou e apagou de sua memória qualquer indício do passado. A princesa esqueceu quem era e de onde vinha e seu corpo sofreu com o frio, a doença e a dor. E com o passar dos anos ela morreu.
quando eu sentir sua falta, vou me lembrar dos momentos bons em que estivemos juntos e espero que faça o mesmo.
Eu tive tantos nomes. Nomes antigos que só o vento e as árvores podem pronunciar. Eu sou a montanha, a floresta e a terra. Eu sou... Eu sou um fauno.
