Nao Magoe uma Mulher
Estive entre ossos secos e almas já sem brilho, um cemitério de olhos que não mais ardia. Corvos pousavam nas minhas falhas, cravando olhares como pregos, aguardando o instante em que eu iria finalmente ceder. O vento cheirava a metal e pó, passos distantes soavam como facas nas paredes do peito. Como um carvalho retorcido pela tormenta, segurei o que restava de mim. Juntei raízes como dedos enegrecidos, afundei-os na terra estilhaçada e bebi, com avareza, o pingo de água que sobrava. A umidade tinha gosto de lembrança e sangue seco. Numa fenda da planície estéril, meu cárcere aberto ao sol, apareceu uma lâmina tão pequena que quase se escondia, uma promessa miúda, de luz, como se a aurora tivesse voltado com as unhas quebradas.
Cada fibra do meu corpo lutava contra o esquecimento, contra a areia que roçava os tendões e tentava sepultar a centelha final. A areia não era neutra: sibilava, entrava pelas gengivas, raspava a língua. Sobreviver não bastava. Havia que coagular a dor, transformá-la: o peso da solidão, o sussurro venenoso da desistência, tudo virou húmus amargo para uma vontade que recusava morrer.
O solo rachado não ofereceu descanso, ofereceu lições. Rachaduras cuspiam pó que cheirava a ossos e foi nelas que aprendi a perfurar, a furar a crosta do desespero com unhas encravadas. Busquei, com um fervor áspero, uma nascente que se escondia debaixo do olhar dos mortos, uma força profunda, mútua com a escuridão, que não se entrega ao alcance.
As sombras permaneceram comigo, não como inimigas, mas como mapas invertidos: eram faróis que apontavam para onde eu jamais devia olhar de novo. E então, o tronco que antes dobrava sob o sopro do mundo começou a endireitar, não por graça, mas por insistência, por teimosia sórdida. Mesmo naquele deserto que parecia ter consumido até a fé, a vida voltou, torta e obstinada, rasgando a casca do nada para cuspir, por um instante, seu próprio clarão, sujo, ferido, impossível de apagar.
Acordo com a sombra de um ontem na garganta, onde palavras não ditas fermentam como feridas abertas. Seguro o silêncio entre os dentes, conto as batidas do escuro, e aprendo que a esperança às vezes nasce de uma cicatriz que respira.
Quando chego ao limite, finjo que não sinto o frio. O corpo anestesia, a alma não, esta última é outro animal. Ela late na escuridão, pede por pão e silêncio, e eu aprendo a oferecer o pouco que tenho: o meu tempo.
Há noites em que minha voz se perde como folha na chuva, cada palavra desfia-se em gotas que não alcançam ninguém. O quarto vira um navio naufragado de memórias, e eu mergulho por coisas que nem sempre merecem resgate.
Fé não é salto, é costura: remendo por remendo, dia após dia. Não prometo milagres, prometo presença, um gesto raso que salva. Nos momentos em que falta chão, seguro tua mão como um prego, e juntos improvisamos um caminho em tábuas trêmulas.
Sorrio por economia de forças, para que o rosto não quebre. Por dentro, há um mercado de lembranças em liquidação: tudo pela metade. Compro apenas o necessário, memórias que me sustentem até o amanhã, e guardo o resto numa caixa que só abro quando a noite me desafia.
Melhor estar só do que estar com alguém que não faz nem o mínimo por você. E não adianta abrir exceção, essa pessoa do porquê que você se manteve sozinha há tanto tempo. Relacionamentos vazios, você sozinha se sente muito mais preenchida, portanto, curta sua vida sozinha, faça viagens, saia com amigos, brinque, dance, beba, faça o que quiser, só não se apaixone por pessoas que nem sabem o que querem. Preserve seu coração!
Acho que a igreja cristã não entendeu, o cristão mesmo não deveria estar ali trabalhando armado e nem ter armas, no Getsemani Jesus ensinou à não usar armas. Mas, o mundo moderno dá fardas e armas para cristãos.
Ao tentar fugir não se lembrou das sandálias, pisou em estrada rochoso em solo áspero, levou consigo feridas abertas nós pés, mas quem se importa com feridas nos pés enquanto se carrega feridas na alma.
Aqueles que me prejudicaram, desejo apenas o tempo; porque de todos os males que me causaram não precisei retribuir, como um telespectador, o vi chegar como. Também não espero desfrutar desse ocorrido com satisfação, mas sim demonstrar solidariedade. A maior maldição não virá de uma vingança própria, mas da consciência do individuo mesquinho. Assim elevo-me frente aos meus inimigos.
Existem atos que poderiam ser bons, mas tendem a maldade. Não existe caridade quando associada à promoção pessoal, adoção sem educação, amor sem liberdade, carinho sem respeito... Pois do contrario, o ato pode ser drástico; o vento pode refrescar em um dia de calor, mas também pode machucar quando associado à areia.
"Ser necessário é necessário, mas diante dos desnecessários, não agrega nada. É palavra pregada no deserto."
ESPERE POR MIM
Não tenha pressa, espere por mim.
Não tenha pressa, espere por mim.
Marque passos estreitos, que eu estou aqui a te seguir.
Não tenha pressa, espere por mim,
eu estou aqui a te seguir.
Para quando houver buraco, eu te fazer escapar.
Para quando você cair, eu te levantar.
Para quando você tropeçar, contigo andar.
Quando você chorar, te fazer calar.
Para quando alguém te enganar, te fazer esquecer.
Não tenha pressa, espere por mim.
Não tenha pressa, espere por mim.
Quando o amor te enganar, te fazer voltar a amar.
Por isso, não corra.
Ande devagar.
Eu estou aqui a te seguir,
não tenha pressa, espere por mim.
Não quero perder a tua direção,
nem deixar de sentir o bater do teu coração.
Cada passo teu tem que ser um meu.
No meu coração, tem um lugar que é seu.
Os teus problemas têm que ser os meus.
Não tenha pressa, espere por mim.
Não tenha pressa, espere por mim.
Sou teu amor verdadeiro, teu irmão, e sou teu amigo.
Sou namorado, amante, e de você nunca estarei distante.
Por favor, não tenha pressa, espere por mim.
Vai, não tenha pressa, espere por mim.
Marque passos estreitos, que eu estou aqui a te seguir.
Um passo teu tem que ser um meu.
Eu te ajudarei a alcançar o sucesso.
Terei sempre palavra para formular um verso.
Ordenarei a tua vida, quando algo estiver disperso.
Mas não tenha pressa, espere por mim.
Eu serei lenço para enxugar lágrimas.
Eu serei bota para abrir lama.
Eu serei relaxante na falta de calma.
Mas não tenha pressa, espere por mim!
