Mini Textos de Ana Maria Braga
Informação nunca me desaponta
Procurar saber é a minha distração e, sigo venerando a informação
Saber que fui viola mal tocada por falta de inspiração
é problema para quem deixo, foi por puro desleixo
A minha busca constante é meu leito de repouso
Não pressinto nenhum perigo no verbo conhecer
A lira toca suavemente durante a minha reflexão
Meu aprendizado instilado me ensinou a ver
com calma, com paciência, comandando os meus instintos
e controlando a decisão
Para as suas palavras causticantes, etéreas
fui fazendo as leituras e mumificando o que não tinha cura
Foi ato dissimulado, usar-me para o teu agrado
Palavras do coitado...
- Fui ludibriado, abandonado e traído...
Castiguei, não nego, as que no enredo entraram
Que podia eu fazer, se não tinham esperteza, e se propuseram hostil?
Não conceberam a filologia do contexto
a quem eu dirigia a minha invocação...
As pobres sofreram na coita, não padeço por elas,
posso até pedir absolvição
O deletério fica perdido, tentando controlar no improviso
E quem de resto, me ouvirá?
Estou a bem rir e a bem viver, deleitado-me na piscina e no mar
Bebendo das melhores bebidas
Conduzindo os melhores carros
A bem me deliciar por vencer a guerra
usando da estratégia mais inteligente e singela
deveriam até me perdoar.
Asas
Com as asas rasgo os ares
Pouso em fios, edifícios e observo mares
Se tenho asas é para alçar os ares
Ver de cima, tudo lindo.
Desço para ver de perto
vejo uma malha em confusão
de pequenez imaginação.
Rios poluídos que descem pela encosta
numa humilhação que desconforta
num chão revestido de alcatrão.
Nunca me disseram que lá embaixo
era pura podridão.
Por que me deram asas
se em troca só tenho decepção...
Ver o vexame posto
não é de bom gosto.
Asas, para quê?
Para assumir o meu destino
de enorme envergadura.
Vingar as desesperanças,
depois de desiludida e humilhada,
abraçar os que de olhos tristes me fitam
e se voltam acanhados, vencidos,
por acharem que em tudo aquilo
existia alguma graça.
Mudez
Telefonas-me somente para ouvir a minha voz?
Um alô, um olá de uma voz rouca
Isso te satisfaz?
Ou estás a querer saber por onde ando
A me vigiar
Não te preocupes
Não irei a nenhum lugar.
Meu mundo é pequeno
Viajo muito na imaginação
Sou mais pensamento
Pouca ação.
Não deves me cobiçar
Pensamento é veneno
E pode te intoxicar.
Covarde demência
Tenho a sua imagem gravada
bem aqui em minhas retinas
imagens belas e horrendas
imagens em que você se encontra amordaçado
reprimido de exprimir sua opinião
consentindo que façam de você marionete e
entende como virtude, a demência frustrante de outrem sobre si
sem força moral, sem personalidade ou senso de justiça.
Agindo em bando, sabe que sua atitude não vai ser repreendida.
Não se defende, manipulado pela sua covardia.
Perdido
O que perdi, perdido está
não farei nenhum esforço para encontrar.
Quem achar que faça bom uso
mas aviso...
em perfeito estado não está.
Foram anos e anos de uso
se moldou a minha forma
harmonizou aos meus atributos
vai ser chato consertar.
Se for de alguma utilidade
por nunca ter possuído
o achado que foi perdido
empenha-se e verá.
Seja preciso, habilidoso
tente reformar.
Depois, alucine na dialética
do meu capitalismo tosco
a Mais-Valia do seu esforço.
Mais no menos
Como eu gostaria de pensar menos
Imaginar, sonhar e acreditar menos
Ser menos humana e mais racional
Principalmente no perdão, menos
Gostaria de ser como as pessoas me imaginam
Menos...
Mas estou aqui novamente
A pensar, imaginar, sonhar, acreditar e perdoar
Mais e mais...
Nunca vou aprender e ser menos
Continuarei a sofrer
Eternamente, mais.
Eu magia
Eu sou a que existo
Da maneira que bem quero
Vendo um mundo colorido
Bem sincero
Eu sou a que de olhos fechados
Vejo as cores do universo
Somente e somente se
Para rimar o verso
Eu sou a que imagina
Que o inimigo possa ser honroso
É o meu desejo de cair na cilada
Só para concluir o quanto ele é horroroso
Eu sou a que bem sei
Quando alguém com o punhal se aproxima
É melhor nem tentar o golpe
Tenho saída exímia
Embaixo do Equador
No Brasil é assim
Três meses de bom tempo
Nove meses de inferno
Porém, colonizadores aqui chegaram
Inteligentes como eram
Ao invés de tirarem os agasalhos
Vestiram os Tupiniquins
Fomos ul-trajados a rigor
Brasileiro que se preze
Não camufla a sua beleza
Mantém a sua frescura e pureza
Embaixo desse hemisfério
é povo que anda nu.
Peso morto
Pasto sem gado
Tesouro sem ouro
Vida Severina
Nem tudo é rima.
Beleza sem nobreza
Destreza na tristeza
Palavra sem certeza
Completa pequeneza.
Criado nem sempre é mudo
Guarda-sol que guarda a chuva
Molha mas não inunda
Não tem lógica, barafunda.
Pobreza eterna
Olhos profundos
Observação deletéria
Sentimento imundo.
Ave que não voa
Cigarro apagado
Bebida sem álcool
Superficialidade no palco.
Grito rouco
Pele e osso
Noite esquecida
Regateando a vida.
Saudade
Eu resolvi te matar
Matar e deixar bem mortinha
Vinha devagarzinho te detendo
Fazendo isso quietinha
A saudade era intensa
Dolorida, imensa
Sou incapaz de mensurar
Pra matar, só pela morte lenta
Agora te matei
As lembranças são vãs
Só amanhã de enterrarei
Para além do divã
Vou primeiro te velar
Enquanto posso lastimar
Que saudade! Da saudade
que não tenho pra divagar.
Naipe
Não fuja, não fique desesperado
sou bem grandinha, madurinha
estudei durante anos
o seu presente, passado
a sua casta, portanto
conheço seu desejo à intimidade
Só não aceito suas fanfarras
quando agrega as sarnas
na mesma esfera
da mãe que está na sala
e outras I-Lentes familiares,
podem ficar doentes
ou são todos da mesma laia?
É mistura de muita gente
muita saia, pouco garbo
totalmente demente
fadado a morrer em meio
ao triste fado.
Moço - Velho ... Velho - Moço
Ficava extasiada
quando observava o seu sorriso cândido
As sandices engraçadas me comoviam
Da pureza do passado
à presente desesperança.
Vejo com tristeza a sua luta
Querendo agregar no velho o que era no moço.
Aquilo que cobiçava no passado
Conquistava com seus modos insanos
Hoje torna-se indesejável
Quando deseja ser moço
Num corpo velho não almejado.
Meu velho, deixa as parvoíces no passado
Se tivesse semeado bons grãos quando moço
Hoje, não estaria sofrendo em seu murcho corpo
A alma te faria moço.
Para mim:
Todo Cláudio tem que ser Antônio
Grande poeta anônimo.
Todo Zé um novo horizonte
Água que brota da fonte.
Toda Eliza rainha Beth
Perturbou é pivete.
Toda espiritualidade, Margarete
Vida dura, interprete.
Todo Xande um grande achado
Amor espelhado.
Toda Iza tem que ter ira
Na pele das crias, casimira.
Todo Luiz, Luizinho
Deus quem leva pra outro ninho.
Toda Maria uma filosofia
Refutem a poesia.
Cheiro
Ah! Esse meu olfato
ele é muito cruel comigo
Se o teu cheiro é diferente do meu
e é gostoso, alucino
sou amante enlouquecida
Quando cotidianamente
misturado ao meu
perco o fascínio
ganho um amigo
Se o teu cheiro
for misturado ao de outras
serás indesejável
terás cheiro de cachorro molhado
Para mim
estarás amaldiçoado.
Esterco
Disseste bem
Não valho um esterco
Foste o esterco falaz
que tentara adubar e adular
a mim, essa linda roseira
germinada entre as duras rochas.
O esterco há tempo
fora perdendo os atributos
as particularidades
propriedades
penetrabilidade
Hoje tu, esterco
só aduba e lisonjeia
ervas daninhas.
Zeus
Meu magnífico Deus grego
Vejo que se encontra perdido
Por essa semideusa que brilha
Ofuscando os seus sentidos.
Sua profecia de macho dominante
Da promiscuidade - amante -"brilhante"
Empunhando a sua égide tosca
Não passa de um pastor malogrado
Revolvendo nuvens com trovões e raios
Tentando implodir o seus indomáveis sentimentos
De ciúme, inveja e raiva
Dentro do seu peito, aglutinados.
Impecável loucura
O meu lado louco é o mais afável
o mais sincero e enlevado
isento de disfarces;
No meu lado louco
encontra-se a minha sagacidade
distante da loucura normal;
O meu lado louco
não reflete no espelho
é a essência íntima, intangível
uma imagem de mim e que,
pessoas ao ar como fantasmas
tentam alcançar;
O meu lado louco, não domesticável
desobrigado do crivo social
é o enigma que fascina
tornando-me um ícone impecável
que atrai infames iconoclastas.
Flor roubada
Lembra da flor vermelha que me ofertou?
Estava no carro que a gente comprou
Era linda, fiquei lisonjeada
Depois, fiquei sabendo que foi roubada
Logo me descontentou e,
a deixei esquecida
murchou no painel do carro
Lembra dos espinhos que lá ficaram?
Eu engoli os desgraçados
com um sorriso no lábios
Mas até hoje encontram-se
em minha garganta entalados
É assim a vida
feita de pequenas nocividades
que desvendam grandes enigmas
da personalidade
Uma flor roubada
provoca grandes feridas
Uma risada para o amor
enfraquecido, desiludido
um artifício
para suportar até o momento
da derradeira despedida.
Loucas
Irmãs, somos loucas
Loucas maravilhadas
grandes almas
desalinhadas
Nossos homens
deslumbraram
Quiseram apertar o nó
puxamos a ponta do laço
Eles, tornaram-se EX
e não entenderam o significado
Explico: EXcêntricos, EXportados
Não entenderam?
São vazios, ficaram incomodados
Desejando de volta
as loucas ao lado
Então mando aos EX's alguns adjetivos
num contexto de exaltar
vocês foram EXpurgados
Dessa família, EXcretados
A flor do poeta
O néctar, a sua alma mais profunda
O pólen que germina em palavras
inspiradas nas tenras folhas esvoaçantes
os mistérios, dos perfumes das pétalas
As cores, o amálgama da beleza,
solidão misturada em fantasias
O caule que a brisa dobra
são sentidos que a poesia abriga
No outono, a flor do poeta
canta folhas secas, nostalgia
A sedução não é mérito da primavera
é o ocluso na bela flor da poesia.
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