Mini Textos de Ana Maria Braga
Além dos Olhos -
Meus olhos são pisados pela Vida
como as pedras são pisadas pela rua
meus olhos duas telas ressequidas
são deixadas pela dor à luz da Lua.
Meus olhos são dois pobres sem sentido
tão famintos d'encontrar os olhos teus
teus olhos dois tormentos diluídos,
separados - indiferente aos olhos meus.
Teus olhos duas águas, meu gemido
folha seca transparente sem ventura
teus olhos são dois fados, meu castigo
e teu corpo pedra fria sem ternura.
Nos meus olhos mora o tempo que perdi
debruçada na clareira deste amor
como praia que me invade e onde vivi
tudo foi, tudo é como um sol-por.
Ânsia do meu Corpo -
Numa cama dura, fria, sem sentido
na ânsia do meu corpo a desejar-te
meu peito bate forte ressentido
meus olhos já não sabem procurar-te.
Meus olhos tem tons de pedra rara
num anel de estimação que um dia dei
que dei a um amor de pele clara
amor que já não tenho, já nem sei.
Tu levas-me na mão em esquecimento
horas más que tem vivido um coração
se ouvires por ai este lamento
não voltes meu Amor é ilusão.
Do silêncio que tu fazes faço um grito
faço um grito que me rasga a solidão
meus olhos pedras raras, um gemido,
que levas nesse anel de estimação.
Barco da Vida -
Minha Vida é um barco
à deriva pelo mar
em meu peito desembarco
Senhor vem me salvar.
Há ondas, há lamentos
que afogam minhas mágoas
são velas, são sentimentos
pairando sobre as águas.
Minha Alma é a proa
desta fria embarcação
vou sozinho, vou à toa
neste mar de solidão.
Ato os nós do Coração
às cordas do meu sofrer
uma simples afeição
a Minh'Alma queria ter.
Meu leme a incerteza
levado por minha mão
vou na rota da tristeza
a caminho do Coração.
Madrugada sem teus Braços
(Fado)
Madrugada sem teus Braços
noite aberta sem destino
dia-a-dia; passo-a-passo
sem saber do teu caminho ...
Sem saber dos nossos sonhos
da mentira que é a vida
das angústias que deponho
na palavra despedida!
Se me amaste ou outro em mim
já nem sei se o consumaste,
foste embora, sei por fim
que afinal nunca me amaste!
Sigo a vida, em vão, sozinho,
cheia de sonhos aos pedaços,
noite aberta sem destino
madrugada sem teus braços!
Eu Amo -
Eu amo a esperança que há no mundo
quando nós andamos de mãos dadas
e amo a vasta calma que há no fundo
das horas que a vida traz marcadas!
Amo os abismos que se alinham
em cada minuto que vivemos
e até das coisas que se adivinham
eu amo a esperança que perdemos!
Só não amo o que amo por amar!
Não sei amar o que não sinto
nem sinto amor se não me tocar ...
A vida é muito mais que simple instinto:
um abraço, um beijo, um olhar,
o gesto de ternura de um faminto!
O sonho da maioria das meninas é ser bailarina. Mesmo sabendo dos seus pés calejados, elas seguem encantando os jurados, tocando o céu em cada salto. Na ponta do pé mostra a platéia todo um sonho no palco.
A bailarina não é mais uma menina, ela virou uma mulher que aprendeu na sapatilha de ponta, com os dedos machucados a dança de um sonho, colorindo a dor e hoje enfrenta a vida sorrindo com amor.
𝓜𝓪𝓻𝓲𝓪 𝓐𝓶𝓪𝓷𝓭𝓪
@ₑᵤ_qᵤₑᵣ🌻_ₑₛcᵣₑᵥₑᵣ
Procissão dos Passos -
Do Espírito Santo sai a procissão
o povo triste vai calado
Calado e triste em cortejo ordenado
triste calado o Senhor ensanguentado!
Entardecer ... sombras vacilantes
caminham p'la cidade sem vacilar
negro vestir, magoados caminhantes
avançam pela luz crepuscular.
A banda toca com empenho
desce o pálio roxo sobre o Bispo
nas ruas só há espanto pois é visto
que o Prelado leva o Santo Lenho.
Adiante os Martirios do Senhor
as Aias de Braçadeira roxa
nas alas os fiéis cheios de dor
choram, pedem, rezam com fervor.
E aonde irá Jesus
nestes Passos do caminho?
É imensa a sua Cruz
seu manto roxo de arminho!
Na Praça do Encontro
sua Mãe espera de rastos
encontra o Filho em tal estado
fica seu peito trespassado.
Segue a procissão! Passos tristes e inteiros
ordenados por Évora amargurada
marcha o povo contristado em oração
como a noite que antecede a madrugada.
(Dedicado à solene procissão do Senhor Jesus dos passos de Évora)
Sem dinheiro nem Deus - o mundo de hoje -
O Mundo vive, neste momento, uma longa noite interior. As certezas foram abaladas. Os corações permanecem em silêncio na esperança que o dia renasça. A antiga ruptura com Deus tornou os Homens vazios, austeros, distantes, tantas vezes incapazes de perceber a importância de nos "virarmos para dentro" em momentos de intranquilidade e tristeza como estes que vivemos.
E o que temos? Com o que ficámos? A Pandemia tirou-nos as nossas seguranças exteriores! E agora o que fazemos sem vida social? Para onde nos podemos virar? Sem dinheiro nem Deus quem somos? O que faremos?
Dizem os Orientais que para que tudo mude é preciso que algo não mude e isso que não muda é a própria vida na sua essência. Continuamos vivos e somos vida por isso há esperança. A vida como centro emanador de energia permanece em nós e fora de nós. Tudo o resto é vão. Estamos vivos! Somos vida! Só precisamos tomar consciência desta enigmática mas profunda realidade. Realidade que nos antecede, que antecede a existência, que antecede a própria vida.
O mundo desmorona aos nossos olhos e nós não lhe podemos acudir. Somos impotentes. As sociedades caem como um imenso castelo feito de cartas. A politica como a conhecemos já não serve, é oca. É preciso servir a politica e não servir-se da politica. É preciso mudar padrões, valores, registos ... É preciso rever prioridades, reaprender a revermo-nos nos olhos dos outros.
A morte espreita impiedosa, astuta, a cada canto da vida. E como reaprender o que não soubemos intuir?! A sociedade não nos preparou para tudo aquilo que estamos a passar. É urgente despertar para uma vida interior.
Muito tenho ouvido falar em sacrifício e nos sacrificados da pandemia.
A Culpa, o julgamento e o medo são os três "nós psiquicos" que impedem o Coração de abrir à dimensão da Alma. Infelizmente a humanidade evolui através do sofrimento. O sofrimento que aceita e integra. Quem ultrapassa as dificuldades que vive nunca mais é o mesmo. Esquecemo-nos de que tudo o que acontece de ruim na vida de cada um é para a melhorar, transformar, reerguer, reconstruir. É isso que nos está a ser exigido neste momento pela Natureza.
Todas as renuncias deveriam implicar uma dimensão "lavada" de sacrificio,
pois Sacrificio, vem de SACRO OFICIO, ou seja, Oficio Sagrado.
E todo o Oficio Sagrado deveria ser um serviço que une os Seres Humanos, cada Ser a outro Ser, todos os Seres. Um Oficio Amoroso que dimensiona e integra
o Coração!
Um sacrifio deveria ser um Acto-de-Amor. Assim demonstrou Cristo
ao dar a sua Vida para Ensinar que só o Amor Salva.
O que ocorre é que muita gente que acredita apenas se identifica
com o peso do seu sofrimento tantas vezes marterizando-se, esquecendo a ressureição como meta final. Em analise profunda,
os homens de hoje culpam-se,
julgam-se e teem medo.
Bloqueiam o acesso às suas Almas,
ao Sentir mais vasto e profundo que os habita.
A Natureza da qual fazemos parte está a obrigar-nos a meditar neste dilema e a dar-nos a oportunidade de uma profunda transformação interior. Porque o dinheiro hoje perde-se amanhã ganha-se mas o amor não, a vida não.
Quem vive do medo nunca poderá identificar-se
com uma renovada noção de sacrificio
onde o peso dos actos que pratica ficariam "lavados" pela dimensão Amorosa
que lhes deveria injectar.
Não sabemos fazê-lo. Ninguém nos ensinou.
Qualquer acto, apesar de doloroso,
ao ser identificado com o Amor
fica Baptizado, renovado.
Muitas vezes encontramos seres
que procuram ajudar os outros
sem antes se terem ajudado a si mesmos.
O que é uma fantasia! São seres que fogem
de si próprios em busca no exterior de algo
que só dentro poderão encontrar,
a Paz.
Por lá passei nessa curva do caminho.
Passei e não fiquei, senti e libertei,
morri e Ressuscitei!
Quando se sente que a Vida é um "fardo"
é tempo de reflexão sobre quem somos
e o que estamos a fazer de nós mesmos. Este é o momento. É a hora.
É tempo de verificar se transportamos
coisas que não são nossas e libertarmo-nos delas.
A Vida ensina a Liberdade de Espirito,
de Alma, de Consciência.
Alguém de quem gosto muito afirmou um dia que Amor é Consciência e Consciência é Amor.
Ninguém nos pode dizer quem somos
ou o que fazemos aqui,
somos nós que temos que o descobrir.
No fundo, estar frente-a-frente
com a Ordem do Universo que é Deus,
sem intermediários.
Ninguém atrai peso superior às suas forças! O destino é apenas
a consequência do mundo interior que cada um transporta consigo mesmo, por isso, há que modifica-lo para modificarmos as nossas vidas.
"Conhece a Lei e sê Livre"
dizem os orientais na sua imensa sabedoria.
Quando alguém se assume como "sacrificado"
não cumpre um Oficio Sagrado, um Acto-de-Amor.
Cumpre uma pesada pena que se deu a si mesmo para
se "auto-flagelar" pelo peso das suas culpas.
Culpa-se, julga-se e fecha-se no medo ...
Atenção!
Que se rompam velhos padrões e se conscencialize um Novo Tempo pois é tempo de Amar sem bloqueios ou falsas virtudes. Um novo mundo construído agora nos espera mais adiante. Não adiemos esse futuro tão promissor pois é no presente que se constrói o futuro.
"Coragem! Porque coragem não significa ausência de medo!"
Nunca é tarde -
Nunca é tarde demais para viver
nunca é tarde demais para amar,
nunca, nunca é tarde para saber
que a vida é feita a caminhar ...
Nunca é tarde demais para cantar
nunca é tarde nas malhas da esperança
há dias p'ra sorrir outros p'ra chorar;
depois da tempestade vem a bonança ...
Nunca é tarde (mesmo que seja tarde)
p'ra saber que a vida nunca passa
sem nos dar outra oportunidade!
E o desalento que nos abraça
veste a nossa Alma de saudade ...
Mas não é tarde ... a vida nunca escassa!
Nós somos nossas experiências.
Nossa alma carrega cada acontecimento da nossa existência que nos fez vibrar, tanto com as coisas boas, como com as coisas más.
O aprendizado é democrático, vem de todo lado. Não tem cor, credo ou laços.
A vida tem dias pesados, e outros, nem tanto. Sentir-se em paz depende da leveza da alma.
Podemos estar no meio da maior encrenca, mas se libertarmos nossa imaginação, ela buscará a solução e acalmara nosso coração.
A mente é poderosa. E só nós podemos controlar nossos pensamentos. Se desejarmos algo, nada e ninguém pode nos afetar fatalmente a ponto de desistimos dos nossos objetivos.
As vezes, esconder nossos sentimentos não tem haver com ser falso ou mentir sobre nós mesmos. Tem haver com proteger -se.
Quando sentimos ficamos expostos e vulneráveis, sendo que a insegurança destes momentos gera um enorme desconforto, uma quase dor.
A negação dos sentimentos também é outra forma de defesa. Tem haver com ficar longe de sofrimento, mas também, de alegrias. Pois não há como viver sentimentos sem entregar -se, confiando, acreditando e envolvendo-se.
Assim, agarrar-se as asas das emoções é assustador! A queda pode ser dura! Mas o vôo!!! Ah! O vôo!!! É inesquecível! Faz valer qualquer medo!!!
Para nos conhecermos de verdade é preciso coragem de sentir o desconhecido e isso não é nada fácil.
Emoções são grandes experiências, e tudo tem um preço. Mas acredite, vale a pena!
Preparece para machucar-se. Curar-se. E pasme! Começar tudo de novo!!!
DEIXA A CRIANÇA
Deixa a criança ser criança
Deixa ela te encantar
Deixa sua pureza contagiar todo mundo
Deixa ela falar, rir, brincar
Deixa essa alegria conduzir esse dia
Com boneca, desenho, pega-pega, historinha, quebra-cabeça, bolha de sabão
Pra lembrar como é bom ser motivo de felicidade
Felicidade de verdade
Na pureza da diversão.
o dia foi árduo... Os pensamentos trocados... As ideias vagas e confusas... Então onde estou? O que vou fazer?
Penso: nada... Olho pro céu e vejo um infinito de ideias e pensamentos. Olha para o lado e vejo: a natureza se transformando numa pedra... Aí você pensa: o sofrimento, só vem e vai... Você se contorce, você se reprime...
A natureza mostra que tudo pode sofrer as alterações, mesmo sem querer acontecem mudanças... O ser humano não é igual a natureza que muda sem querer, que muda com o vento e com as chuvas e pela força humana... O ser humano escolhe e decide suas mudanças...
- O Poeta, a caneta e o papel -
Estranha relação,
dificil; impiedosa
cheia de memórias; silêncios
como os espinhos de uma rosa.
Coisas por dizer
nunca por sentir
dificeis de esquecer
que fazem desistir.
O Poeta decadente
a caneta gasta; triste
o papel roto de existir
a Alma morta ... persiste.
Impera a solidão
a distância e o vazio
e sofre um coração
jaz morto sobre o rio.
Nossa Senhora do Amparo e da Pobreza -
Nossa Senhora do Amparo
da Pobreza e da Solidão
trazes no olhar um brilho novo
como o Rosário que trazes na Mão.
No rosto pálido a tristeza
nas feições trazes silêncio
mas Teu Ventre é com certeza
um Cálice de salvação ...
És a Arca da Aliança
Torre de Marfim; Porta do Céu
e vejo em Ti como em criança
tanta Estrela no Teu véu ...
(Poema para Nossa Senhora do Amparo, Senhora da Igreja da Pobreza em Évora.)
Chega a noite, coração dispara, mente atormenta e a voz se cala.
Lágrimas involuntárias, corpo estremecido, conexões entrelaçadas ao fio da esperança, perseverança. Luta diária.
Sentimentos ampliados significadamente em detalhes mínimos e exagerados.
Lembranças tocantes, pensamentos sufocantes, momentos já distantes. Alma abalada.
E a vida é assim -
E a vida é assim
cheia de principios e de fins
cheia de alegrias e de mortes
e até a própria sorte
está cansada de ter fim ...
Mas a vida é assim
um abismo entre ti e mim
da juventude à velhice
vou dizer o que já disse
a vida é assim!
Às vezes cheira a jasmim
há o não e há o sim
talvez o sim uma saudade
o não uma vaidade
porque é que a vida é assim?!
Por vezes feita de cetim
nem sempre é um jardim
um silêncio, uma quimera
e na verdade, quem nos dera
que não fosse tão ruim.
Mas a vida é assim
tem principio e tem fim
nós nascemos a chorar
não passamos sem amar
'inda bem que a vida é assim!
É Noite -
É Noite! E é noite na minh'Alma ...
É noite adentro ao meu coração
carregado de saudade.
É noite - em breve madrugada e o
dia chegará!
É Noite! E é noite em minha casa ...
É noite à minha mesa num abismo
etéreo e profundo.
É noite - em breve madrugada e o
dia chegará!
É noite! E é noite em meu olhar ...
É noite no meu corpo, nos meus gestos.
É noite - em breve madrugada e o
dia chegará!
É noite! E é noite em minhas mãos...
É noite em minhas veias, nos meus ossos, nos meus dedos.
É noite - em breve madrugada e o
dia chegará!
E é noite em minha cama ...
É noite nos meus sonhos ...
Noite austera e profunda
sem ter principio nem ter fim ...
É noite - chegou a madrugada mas
o dia não virá!
Outro Começo -
Neste mal sentir em que me encontro,
mal estar profundo e inacabado,
sou de mim cativo, por isso conto,
sou um prisioneiro do Passado!
Quem me dera ser outro além de mim
alguém firme e certo do caminho
capaz de fazer da vida Não ou Sim
traçando as linhas do destino!
Mas há pedras! Tantas! Tantas! Tantas!
Buracos, vales, covas e cabeços
e o cemitério cheio de campas ...
Eu vendo solidões a bons preços,
quem dera mas comprassem almas Santas
para que eu tivesse outro começo!
Ledas horas -
Esta fria e densa solidão
feita de silêncios e saudade
possuiu-me logo o coração
desde o principio da idade ...
Cheia de caminhos, sem nada,
tirou-me da vida claridade
e minha mãe, pobre; coitada,
pariu-me sem vontade ...
E as lágrimas em fio
cairam-me cansadas,
tremendo à noite, cheias de frio!
E tantas ... ledas horas magoadas
que vi pairando no vazio
por ver minh'Alma abandonada ...
Despojado de mim -
Despojado de mim
aqui me encontro
mártir do tempo;
oblíquo, amargo fim
a que chega um conto
na voz do vento ...
Despojado de mim
aqui me entrego
à dor da despedida;
digo não, digo sim
nada vejo, estou cego
nos caminhos da vida.
Despojado de mim
aqui termino
com vontade, sem pena;
a vida é assim
mas de mim germino
de Alma limpa, plena.
Despojado de ti
leda noite fria
sem Lua nem luar;
(noite que te perdi!)
o vento gemia
fechou-se o meu olhar.
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