Mini Textos de Ana Maria Braga
A Noite de Évora -
A Noite de Évora escorre-me os Sentidos!
Meu intimo Poema, meu corpo de Saudade,
meu jardim feito de cedros, eternos e perdidos,
minha Terra dolorosa, sem Tempo nem Idade ...
A Noite de Évora grita-me ao ouvido!
Quadras, versos, Sonetos de solidão ...
Mortos os Poetas, vagueando sem sentido,
buscam pelas ruas um singelo Coração ...
A Noite de Évora é feita de Silêncio,
pausa e Silêncio, mil aromas d'açucenas
que arrastam pela Vida muitas penas ...
A Praça, a Fonte, o Templo, a Sé,
tudo em mim, oculto e presente,
tão perto, tão longe e tão distante ...
Meu Tormento -
Meu corpo sente a tua falta ...
Saudade imensa dos teus braços ...
Meu Sudário, meu punhal - de aço! -
Meu tormento em Maré Alta!
E choro em silêncio - triste penitência ...
Ninguém há que me acalente
em nocturno sofrimento! Persistência
a tua que nada diz ou sente!
Não é Verdade o teu silêncio!
Punhal que cresce e me trespassa ...
Meu pobre Coração cinzento ...
Não é verdade o teu afastamento!
Não passa com o vento - ó Deus - não passa!
É triste, rubro, eterno este tormento ..
Sem Lugar -
Que encanto tem a Vida sem Amor?!
Que Verdade tem a Alma sem carinho?!
Que destino é o meu neste torpor,
Alma sem corpo, pássaro sem ninho ...
Efémero pedinte, faminto, à toa,
por ruas penitentes, sem nada,
navio ao cais, sem proa,
soluçando ondas amargas!
E quantas ondas tem o mar?!...
Tem tantas quantas penas
tem as aves ao voar ...
E quantas penas tem as aves?!...
São tantas quantas são as solidões
que envenenam a Alma dos audazes!
29 DE OUTUBRO – Dia Nacional do Livro.
A data foi criada no ano de 1810 em celebração à fundação da primeira biblioteca no Brasil; o Real Gabinete Português de Leitura, que fica localizada na capital do Rio de Janeiro. A sua maior finalidade era preservar obras especiais da língua portuguesa (como Os Lusíadas, de Luís de Camões) e claro, expandir conhecimentos.
Em 1900 o Gabinete Português de Leitura transforma-se em biblioteca pública.
CATEDRAL DA CULTURA PORTUGUESA.
Equivoco -
Meu sonho. Fantasia. Sem destino ...
Ironia. Sem tempo. Ou idade ...
Agonia. Loucura. Sem tino ...
Passou. Agora. É tarde ...
Falhei. Iludi. Errei ...
Menti. Enganei. Maldade ...
Mas sempre acreditei ...
Passou. E agora. Já é tarde ...
E a verdade?! Que verdade?! Qual ...
Se até Cristo padeceu.
Neste mundo. Pejado. De mal ...
Homens. Que matam. Sem piedade ...
Matam. Por Amor. A Deus!
Equívoco! Sem perdão! É tarde ...
Queixas -
Sou de longe ... de tão longe me sou!
Incerteza de poeta - desespero!
Homem derradeiro que a Vida ensinou.
Ser eterno, fecundo, inteiro ...
A Vida é temporaria,
dois, três dias de hospedagem
que hora a hora é diária
nesta Eterna vigem ...
Fingir para quê?!
Se a Vida é curta ... de passagem ...
... tão curta que mal se vê!
Pesos que não são meus - não quero!
Verdades concebidas - são miragem!
Que eu sou eu - livre - primeiro!
Velhice -
Quando a Vida já não tem sentido
que fazer, que procurar?!...
Quando a alegria se tiver perdido
porquê viver, porquê lutar?! ...
E que destino tem alguém desiludido?!
Sem esperança, força ou vontade ...
Que pena! Sobra apenas um gemido
devorado p'la idade ...
E que será depois? Que virá? Virá?! ...
É tarde ... tão tarde ... resta a morte!
Que o tempo seja breve. E que vá ... vá ...
A Vida já não é Vida é maldade!
Quando se for a minha sorte,
que me leve a morte, sem pena nem piedade!
Voar Errado -
Há no desespero um não sei quê de glorioso!
Algo que me intriga, eleva, dinamiza ...
Há na solidão um não sei quê de atencioso
que me envolve, adormece, sintetiza ...
Há na Alma um não sei quê de precioso!
Uma Vida de viagem mundo fora
que nos leva. Leva onde?! Onde leva?! Turva agora,
água limpa, triste ser, silencioso ...
Eterna solidão d'um Poeta intemporal,
capaz de amar, amando a negritude,
escrevendo versos em seu próprio corporal!
Meu linho, meu tecido, meu brocado,
minha capa, meu sudário, eterna juventude,
cega, possuída, asa quebrada, voar errado ...
Dor Ritmada -
Estou morto. Sou morto. Absorto ...
Sou nada. Serei nada. Ave. Calada ...
Ausente. Sem mim. Nem corpo ...
Morto. Absorto. Ave. Prostrada ...
Estou só. Tão só. Que dó ...
Aqui. Ali. Sem ti ...
Louco. Um louco. Tão só ...
Tão perto. Tão longe. De si ...
Nasci. Aqui. Sem Luz!
Alma. Triste. Cansada ...
Desgraça. Sem graça. Reluz...
Que farás. Ó Alma. Além. Daqui?!
Aplausos. Palco. Casa Cheia ...
Um mundo. Jucundo. De oiro. E cetim!
Despojamento -
Ouve-me se é que ainda me podes ouvir
nestas palavras rasgadas das arestas da Vida!
Os desejos, os sonhos, nada te vou pedir,
apenas um momento (outro) do teu leve sorrir!
Falo-te sem amargura ou falsidade
de coisas da Alma que me são caras!
Coisas ditas e sentidas que são verdade
de um pobre e triste miserável ...
Ao teu Amor por mim ganhei amor!
Mas teu silêncio profundo, agora,
faz do meu caminho um deserto de calor!
Digo nestes versos que te amo sem pudor!
Vê se me queres (ainda) sem demora,
meu amor, meu amor ...
Tarde demais -
Dizem não ser tarde demais!
Dizem não haver que desistir!
Mas que se pode querer mais,
por onde persistir,
se o amor não for verdade
ou a verdade não for amor?!
Há falta, ilusão, saudade ...
Que a memória seja breve, triste dor,
tão breve que desvaneça o recordar,
leve a mágoa, o vazio e a vaidade,
a tristeza desse amor que emana ao passar ...
Que não tem como passar,
que não tem como viver,
tarde demais, há que esquecer!
Recordando -
À noite no jardim, avanço pelo crepúsculo,
esplendido, nocturno nas vagas rumorosas.
Parece a Vida morta, suspensa, num tumulo,
como pétalas caídas, desfolhadas de uma rosa ...
Que o Céu, angustiado e soberano,
estrelado manto de saudade,
encobre os versos que declamo,
nestes tempos dolorosos de vaidade ...
Ai pudera eu viver
no extinto e no porvir,
que o Amor sem Primavera,
traz espanto e quimera,
agonia e quebranto,
ao ser que nada espera!
Poema Controverso -
Lá longe, tão longe, por ti clama a minha voz!
Cá perto, tão perto, em ti meu pensamento!
Pensar, quão triste, pensando em nós,
dor, tão funda, o teu afastamento ...
Um nós, tão longe, não existe ...
Existe, é fim, meu triste coração!
Eterno e vago, instante que persiste,
numa triste, eterna e vaga solidão!
Triste meu pobre coração - tão triste -
sem destino ou direcção,
esmorece, pobre e escassa ilusão!
Minha Pátria, minha casa, meu deserto,
minha asa, meu orgulho, meu chão,
meu desejo incontrolado, meu poema controverso ...
Intima Impotência -
(Diálogo da Personalidade Com a Alma)
O dia triste e pesado amanheceu!
"- Onde foste Ricardo?!" Escutei e tremi ...
Fui ali pedir a Deus
que me deixasse morrer, respondi!
"- E porque vens tão triste,
absorto e solitário?! Vens a tremer!"
Porque Deus me disse
que tenho muito que viver! ...
"- E isso é mau?!"
Não. É triste. Perturbador ...
"- Porquê se és tão novo?!" Não há idade p'ra minha dor!
Para mim, viver é morrer e morrer é viver!
"- Ó Poeta sonhador, aos 20 anos,
tão confuso e sofredor ..."
Dura Memória -
Estou cansado, triste e infeliz,
fim de dia cansado e triste ...
Diz-me que mal te fiz!
Diz-me porque partiste!
Às vezes penso em matar-me
p'ra matar em mim esta saudade ...
Mas se a matasse, não iria pois lembrar-me,
da única coisa que deixaste!
Hei-de lembrar-me até morrer
das horas doces que passámos,
feitas horas de penar, feitas horas de sofrer ...
Perder - perder - dura memória!
Hei-de viver, e sofrer tanto até morrer,
numa dor austera, permanente e irrisória ...
Nós Somos Assim -
Sonhamos voar mas tememos cair!
É preciso coragem. Alento sem fim ...
O vazio, a miragem que é preciso sentir,
faz-nos fugir, nós somos assim!
E há dor e vazio em cada voar!
Mas é no vazio que a Vida diz "SIM" ...
Chorar e sofrer é aprender a amar,
fugimos da dor, nós somos assim!
Destino e coragem é saber de onde vim!
Mas vimos de onde?! Tememos saber!
Fugimos da Vida, nós somos assim!
E o que sei eu de mim?!...
Vivo escrevendo, ganhando a perder,
fugindo da vida, nós somos assim!
Almas do meu Pais -
Chorai ó Almas do meu País!
Convulsionada estância, pesadelo
e distância. Aonde vais
ao som do violoncelo?! ...
De que vivem vossas esperanças?
Por onde passam vossos barcos?
A tristeza e a bonança
erguem praças, fazem arcos ...
Soluçam fundas as ruínas.
Caudais de desespero
de ilusão e choro - inteiro!
Dançam Astros no firmamento.
Solidões lacustres, urnas quebradas,
chorai arcadas, Almas do meu País - despedaçadas!
Contrassenso -
Ai quem tem a Alma perdida
sobre espinhos vai no chão,
ai quem tem perdida a Vida
amargos sonhos lhes darão ...
Amargos sonhos lhes darão
a quem tem a Alma perdida,
resigna ao pó do chão
Pois tem perdida a Vida ...
Pois tem perdida a Vida
quem resigna ao pó do chão
e canta em tom de despedida!
E canta em tom de despedida
quem resigna ao pó do chão
jaz vencido pela Vida ...
Transtorno -
A Solidão é densa pedra
onde afio a minha espada!
Estar vivo e não amar-te, quem me dera,
nesta vida que me mata ...
Há um pronuncio de morte
lá no sitio de onde venho.
Abandonado à minha sorte,
ter nada, é o único que tenho ...
Mudou a vida e com ela o meu lamento!
Hoje o poço é de água funda
onde afogo o meu tormento ...
Transtorno audaz e violento!
Sem ti, tudo em mim é escuridão,
chuva impelida, longínquo encantamento ...
Minha Amada -
É densa a noite escura
mais escura a minha solidão,
solidão é falta de ternura
que trespassa o Coração ...
Minha fronte marmorizada
invadida de lamento,
uma Alma apaixonada,
um epitáfio, um tormento!
Minha Amada! Minha Amada!
Meu silêncio, meu quebranto,
de mim p'ra sempre separada ...
Meu segredo, minha ave, alada,
tão longe e tão perto, meu encanto ...
Minha Amada! Minha Amada!
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp