Mini Textos de Ana Maria Braga

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⁠Vertente -


Escrevo ao longe,
no horizonte,
o nome certo
da minha ângustia ...

È teu nome,
por certo,
fio-de-fonte,
suspenso,
inefàvel, amor,
intenso ...

Minha voz,
reflexiva, amarga,
chora-se, perdida,
como algoz, sem Alma,
na agitação da Vida!

Mas è aí, exausto de penar,
que o poeta que há em mim,
se alevanta p'ra falar...
... e fala tanto,
sempre até ao fim!

Inserida por Eliot

⁠Juventude Incerta -

É longa e vil a noite
sem esperança ou finitude,
sem casa onde me acoite
nesta triste Juventude ...

É hora d'ir a parte incerta,
mas não sei aonde vou,
se vou sozinho à descoberta,
quem vai, se vai ou se ficou!

Deixai-me aqui com meu penar
que ao menos sofro desasado,
deixai-me aqui, quero ficar ...

Não quero nada! Só Alguém ...
Estou cansado, impoluto, desabado,
desabado, impoluto, sem Ninguém! ...

Inserida por Eliot

⁠Soneto ao Conde de Monsaraz -

E escuto à noite, na Voz do Universo,
cálido, certeiro, feito de Estrelas,
uma Voz que ecoa, deixando-me imerso,
num manto doce de tímidas procellas:

"... há uma Paz infinita na solidão das herdades,
ó Alma das coisas mortas,
eu sinto que me confortas,
nos campos, quando me invades ..." *

E há um silêncio sinistro e misterioso
que me escorre a Alma num pálido sentir,
ora doce ora amargo, ora alegre ou doloroso ...

E sinto em mim, às vezes, vacilante e audaz,
essa voz Eterna, doce, a sorrir,
do Conde de Monsaraz ...



Tens em minha Casa um lugar onde podes pernoitar sempre que venhas.
Tens em meus braços um ninho de amizade que te espera.
Tens em minha Alma outra Alma que sempre esperará a tua Alma ...


*Quadra de António de Macedo Papança, Conde de Monsaraz. IN Musa Alentjana - 1908

Inserida por Eliot

⁠Parto -

... do meu Nascimento!


Não fui criança de Paz
nem menino d'alegria,
nasci longe, em Monsaraz,
d'uma toada que se ouvia ...

Nasci em dia de nada,
quando nada me abraçava,
porque o nada me esperava
nesse dia de chegada ...

Foi o nada que me gerou,
do nada me ergui
e até o nada me deixou ...

Fui de mim o meu avô,
solitário, pai e mãe eu fui,
mas o nada já é ave que voou!...

Inserida por Eliot

⁠Do Mistério e da Saudade -

Minha saudade é feita de ternura,
delírio intenso, galopante,
igual ao desse cavaleiro - andante
que ainda hoje me murmura ...

Saudade que meus versos transfigura,
quadras d'ilusão, delírio semelhante,
ao da Vida do Poeta, caminhante,
que habita versos de loucura ...

Saudade que as trevas alumia,
que os famintos alimenta, de forma permanente,
quebrando a solidão, matando a agonia!

Minha saudade tolda o Desidério,
torna o Mistério em mim presente
e faz da minha Vida um Mistério!

Inserida por Eliot

⁠De Mim -

Saio à noite pelas ruas da cidade,
imerso em tristeza, mil horas de solidão!
Ai minha curta mocidade,
já sem orgulho ou ilusão ...

Ausente, alguém me vem à Alma,
e meu triste coração, pensa sempre e sempre em vão,
nesse Amor que grita, clama,
pelas ruas da cidade, pisando folhas pelo chão ...

E o vento chega sem perdão,
deixa sempre um lastro,
gelando o corpo e a solidão ...

Este Outono não tem fim,
já não passa outro Astro,
o que virá a ser de Mim?!...

Inserida por Eliot

⁠Agosto Ardente de 14 -

Agosto ardente de 14 em que a Vida me traiu!
Um Amor que eu não tinha, nem queria,
de súbito, chegou, gelando-me de frio.
Abandono, solidão, minh'Alma sofria!

Agosto ardente de 14 sem esperança ou ilusão!
Setembro, desespero-louco, sem tempero,
desconforto, lividez, aborto de um pobre Coração ...
Loucura, devaneio, ruptura e medo!

Em Agosto de 14 o Sol já não ardia,
a noite era o meu dia
e o dia anoitecia ...

Ai, esse triste Agosto de 14,
em que chegaste mansinho, tão doce,
mas que te levou e não trouxe!

Inserida por Eliot

⁠Sem Definição -

Sou um quadro mal pintado
numa tela já esquecida,
sou um sonho inacabado
d'um pintor que perdeu a Vida!

Estou cansado de estar só
nestas matinas orvalhadas,
já todo o mundo sente dó
destas minhas debandadas!

Sou um verso à solidão,
um poema controverso
de uma triste canção ...

Talvez que morra d'um punhal,
talvez morra envenenado
ou de um tiro fatal! ...

Inserida por Eliot

⁠Évora de Sal -

Évora cheira a solidão,
frágil, doce como um punhal,
que nos enche o Coração
de pó e cinza, cinza e sal ...

Pó e cinza, cinza e nada
à deriva p'las vielas,
Évora triste, amargurada
na sacada das janelas ...

E um suspiro em plena Praça,
das entranhas da cidade,
paira do Geraldo à Igreja da Graça ...

Que de graça nos enlaça
no rescaldo das Idades,
Évora de Sal, qu'eterna nos abraça!

Inserida por Eliot

⁠Arrefecimento -

Não guardes a flor que caiu,
deixa que corram as águas,
deixa fugir quem fugiu
e vê como passam as mágoas ...

Não deixes que mate quem te feriu,
d'ilusão, abandono ou perdição,
deixa fugir quem fugiu
e liberta o Coração ...

Que quem parte, partindo, partiu ...
Esquece a dor cantando o Fado,
que quem foge, fugindo, fugiu ...

Pega num punhal e mata-o em ti, à pressa!
Verás no horizonte a liberdade cerca,
que os mortos arrefecem depressa ...

Inserida por Eliot

⁠Aborto -

Senhor, aqui, junto à Cruz,
peço Paz prós Seres abortados …
Traçai novos caminhos-de-Luz
p’ra esses Seres renegados!

Rejeitados, impedidos de nascer,
ceifados, em chão por semear,
sorrisos e olhares, levados a morrer,
infâncias por viver, abraços por dar …

Quem aborta mata Deus dentro de Si!
Mata a Vida, mata a Esperança,
a Humanidade inteira e a bonança!

Aborto é absorto, morte sem pena - em Ti!
Porque esse “piedoso aborto” - é Deus - morto,
que sempre traz retorno ao nosso Porto!...

Inserida por Eliot

⁠D. Amélia de Portugal -

Um manto de tristeza ainda lh’ anoitece
toda a Luz que seus olhos incendeia,
memória dolorosa que guarda e não esquece
no intimo do peito – maré cheia!

Amor de Esposa e de Mãe feito Epopeia!
Estranha Oração em triste-Prece,
ressoando numa Pátria, sangrenta e alheia,
ao culto e à dor que em seu peito resplandece.

E na luta interna que se agita,
no intimo d’uma Pátria que grita:
“morra p´la Republica esse cunho Real”,

esqueceram sentimentos, esqueceram humanidade,
atentaram contra à Vida e activaram a maldade,
pobre D. Amélia, Rainha de Portugal!

Inserida por Eliot

⁠Misticos Cemitérios -

Tudo em torno é silêncio e solidão.
Junto às sepulturas inda há gente que s’inclina,
buscando ouvir palavras, que em surdina,
os mortos, ao ouvido, lhes dirão – é vão!

Aqui, junto às sepulturas, apenas oração
que o caminho das Almas ilumine,
numa Espiral-de-Fé que as “fulmine”,
elevando-as ao alto em mística Ascensão!

Diáfano silêncio! A Voz-de-Deus
ressoando do Além, Paz vindoura d’outros Ceus,
sombreada por ciprestes e cedros de saudade.

Naquele Espaço-Etéreo há um doce encantamento,
uma Paz Religiosa, um puro sentimento,
Portal-de-Vida que vai da Morte à Eternidade …

Inserida por Eliot

⁠No Sepulcho de Alguém -

Descanso o meu olhar sobre uma lousa,
despojo final, sem luz nem Vida,
de Alguém que amei e Jaz repousa,
eterna, silenciosa e tranquila ...

Minha colcha de oiro fino e de cetim,
não pôde a fria tumba, docemente,
desfazer a cama de ilusões, amarga e sem fim,
que a Vida te fez viver, intensamente!

E o vento passa! Leva, traz, murmura!
Lânguidos suspiros, silêncio absorto, sonhos d'água ...
Invejo a tua campa, minha amada, solitária sepulchtura ...

Quem ama como eu sorri à morte!
Triste desespero, lamento, agonia, mágoa ...
Eu vivo - tu morres! Triste sina - má sorte!

Inserida por Eliot

⁠Mensagem -

Às vezes penso em tudo o que aconteceu ..
E não entendo! Porque é que nos cruzámos?!
Porque é que tudo entre nós se perdeu
se realmente nos amámos?! ...

Se tudo na Vida tem sentido,
qual o sentido p'ra nós dois?!
A intensidade do que vivemos, tão sentido,
e as palavras que dissemos, depois ...

Os abraços que demos e perdemos,
o teu silêncio, inesperado, insepulto,
os beijos que ansiámos e não demos ...

Tudo em mim, confuso e saudoso!
Doce e amargo, em luto,
num verso carinhoso ...

Inserida por Eliot

⁠Emoções Diárias -

Pela Estrada caminhamos ...
Tristes ou alegres,
seguros e imberbes
de Esperança nos fazemos!

E onde vamos?! Vamos simplesmente.
Caminhamos e amamos,
ignoramos, ultrapassamos,
construímos e ganhamos!

Mas perdemos também!
Odiamos, perdoamos
- tudo e nada - de onde vem?!

Vem simplesmente ...
E de que vale o que ganhamos
se morremos lentamente?...

Inserida por Eliot

⁠Amor e Saudade -

O Amor e a Saudade
são duas águas que nos turvam,
não importa tempo nem idade,
se todos, na verdade, se curvam ...

Pois que Vida sem Amor
é mar sem firmamento,
Verão, entardecer, sem calor,
Poeta sem Pensamento ...

E o Amor vivido sem saudade
que teria d'interesse ou de verdade?!
Seria apenas conta errada ...

Que na Vida, só Ama e é Amada,
a Alma que se entrega, na Verdade,
à Verdade do Amor e da Saudade ...

Inserida por Eliot

⁠Encontro desencontrado -

Não te via há tantos dias
quando tristes nos cruzámos,
passeando pela rua, noite fria,
nem tampouco nos falámos ...

Ao teu lado, outro Alguém,
acompanhava os passos teus!
E nessa hora, intensa, de desdém,
fixaste sem pudor os olhos meus ...

E abrandámos o passar ...
Em silêncio recordámos o Passado
e partimos sem falar ...

Recordei o meu tormento,
solidão que me deixaste
num falso juramento ...

Inserida por Eliot

⁠Impossiveis -

É tudo tão diferente ao que eu sonhei ...
Somos impossíveis, nocturnos,
Sol que anoiteceu, esmola que não dei,
rompido fio-de-prumo ...

É feroz o teu silêncio!
Em mim rasgada solidão!
Amplitude d'Agonia, sentimento
que separa, dois amantes sem perdão ...

E alguma vez sentiste o que disseste?!...
Ouviste alguma vez bater meu Coração?!...
Não! Fui eu nas asas da ilusão ...

Agora, separados, dois inúteis,
sem eira nem beira, à beira da solidão,
somos, afinal, dois tristes impossíveis ...

Inserida por Eliot

⁠Triste Desengano -

O pior Tempo que vivi foi a Juventude ...
Impasses de solidão, expectativas e desejos,
tudo informe, deformado, sem plenitude,
num Tempo de fantasia e ensejo!

Sou mais antigo que o meu corpo ...
Não encaixo nesta Vida, intensa, concebida
além de mim, tão perto e tão longe, morto
numa infância, juventude deprimida!

Sou cadáver exumado, pronto a sepultar,
num chão salgado, sem destino,
p'ra não correr o risco de tornar ...

Alma viva em corpo morto - triste desengano!
Ó Deus é tão triste o meu destino
que o meu destino só pode ser engano ...

Inserida por Eliot

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