Mini Textos de Ana Maria Braga

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⁠Busto de Celeste -

Ó Celeste que nasceste ao Sol-poente
por caminhos, estradas ermas a cantar,
quero ouvir um fado na tua voz ardente
que me leve pela vida a pairar!

Canta um Fado ao Sol-nascente!
Tua vida é um poema à beira-mar,
teu olhar é uma seara reluzente
e teu rosto traz a formosura do luar!

Levas no olhar a presença dos Poetas,
como o Sol que tomba, sempre, junto ao mar
ou as rosas que espalham mil matizes pelo ar!

Canta Rosa-Branca esse canto de Profetas
que a tua voz dissipa a tristeza mais agreste
e dá ao Sol-nascente aquela força que nos deste!

(Para Celeste Rodrigues)

Inserida por Eliot

⁠Medo -

Por um inferno de medo
caminho só e absorto
e nem o quarto ou o leito
já me guardam o corpo!

Não há palavras de alento
não há carinhos de mãe
não há feridas que o tempo
não lamente também!

Somos dois mundos perdidos
duas almas desiguais
dois sonhos esquecidos
que não se viram nunca mais!

Realidades tão distintas
verdades tão cruéis
não peço que tu as sintas
apenas quero que as guardeis!

Na minha cama de rendas
de brocados e cetins
'inda espero que tu venhas,
de noite, ao toque dos clarins!

Mas tenho medo de esperar
tenho medo que não venhas
tenho medo de pensar
que de mim já nada tenhas!

Esta certeza que tenho
cresce-me à noite no peito
e eis que parto e não venho
desse inferno de medo!

Inserida por Eliot

⁠Inscripção aos Vivos -


Dos Mortos:

Nós Mortos enterrados
neste chão feito de pó
já tivemos um passado
fomos vivos como vós!

Já fizemos da vaidade
certo grito moribundo
mas talvez a eternidade
seja mais que um triste mundo!

Aonde vais ó caminhante
aonde vais tão apressado
não prossigas mais avante
também tu estás condenado!

Por aí tantos passaram
foram muitos, tanta gente
só à Morte se aninharam
nenhum ficou lá para sempre!

Parece longe a vossa Morte
tambem a nossa parecia
num instante vai-se a sorte
e lá morrem qualquer dia!

Mas acreditem que morrer
não é tão mau como se diz
é mais simples que viver
à deriva por aí!

Nós Mortos que aqui estamos
neste pó em solidão,
por vós, vivos, esperamos,
algum dia neste chão!

(No cemitério de Évora)

Inserida por Eliot

⁠Só -

Ai esta saudade de mim
cautelosa e serena
esta loucura sem fim
que me enche de pena!

Ai solidão desmedida
que ninguém pode tocar
este estar SÓ na vida
que ninguém pode acompanhar!

Ai esta noite sem Lua
este saber que me perdi
este arrastar pela rua
esta carência de ti!

Ai este silencio vazio
este sofrer no caminho
estas dores do frio
que me deu o destino!

Inserida por Eliot

⁠Rosas Proibidas -

Meus olhos já cansados
num rosto adormecido
parecem mortos, calados
num destino perdido.

Tantas rosas proibidas
há na dor de cada olhar
tantas lágrimas perdidas
em meus olhos a bailar.

E em lençóis de solidão
numa cama sem ternura
estão as rosas que me dão
os teus olhos de amargura.

Inserida por Eliot

⁠Verdades Cruéis -

Em noites triste, caladas,
quando a vida parece morta,
há silêncios pela estrada
e ninguém bate à minha porta!

Em dias floridos, com vento,
passam flores a cismar,
passa a vida, passa o tempo
e até me canso de esperar!

E eu triste vou também
com minha dor a pesar,
vai a vida a morte vem
à minha porta a chegar ...

Inserida por Eliot

⁠Um Grito -

Os meus versos são um grito
no rumor do sofrimento
como as ondas mar revolto
são um grito, um grito solto
para lá do pensamento!

Os meus versos são o resto
o que fica desse grito
quando vejo que perdi
um amor que não vivi
para lá do infinito!

Os meus versos são o berço
da saudade em que me agito
do que fui e já não sou
do que dei e já não dou
os meus versos são um grito!

Inserida por Eliot

⁠Os olhos frios de meu pai -

Meus olhos doem ao lembrar
alguém em mim que nunca vai
só lembram a naufragar
os olhos frios de meu Pai!

Que lembrança maldita
que tenaz crueldade
a minh'Alma despida
sofreu de tenra idade!

Passa a Vida, passa o tempo
o destino e a saudade
só não passa o sentimento
dos seus olhos de maldade!

Se em meus olhos não há água
porque fica e nunca vai
a dor daquela mágoa
dos olhos frios de meu Pai!

Inserida por Eliot

⁠Nos Braços d'outro -

Já não trago nos meus olhos
o calor do teu olhar
somos rosas entre escolhos
somos noite sem luar.

Esperamos sempre o que há-de vir
há-de vir mas nunca chega
somos nada no por-vir
na luz de cada estrela.

Já não somos o que fomos!
Um do outro não me lembro!
Só me lembro de quem somos
neste dia de Setembro ...

Afinal não somos nada!
Não chegou a mais que pouco!
Eu tão só na minha estrada
tu feliz nos braços d'outro ...

Inserida por Eliot

⁠Coração Cansado -

Meu coração está cansado
tão cansado de te amar ...
Só quer estar a teu lado
até a vida terminar!

Mas há um grito abandonado
na solidão do meu olhar,
o meu coração, coitado,
está cansado de te amar!

E era tarde, noite morta,
eu ainda não dormia,
alguém bateu à minha porta ...

Era um rosto de esperança ...
O teu corpo de Poesia,
o teu jeito de criança ...

Inserida por Eliot

⁠Sem Carinho -

Sem carinho de ninguém
desde o berço um solitário
sou aquele que nada tem
p'ra escrever no seu diário.

Sem carinho de ninguém
sem sorrisos de bondade
fui cansaço, fui desdém,
amargura e saudade.

Sem carinho de ninguém
sonhei tanto que nem sei
se vivi ou se sonhei ...

Tantas vezes que eu cantei
e outras tantas que chorei
sem carinho de ninguém ...

Inserida por Eliot

⁠Coração Real -

Foi sonho ou realidade?
E que diferença há?! ...
A realidade também passa,
e, quando passa,
parece que foi sonho.
O sonho quando está,
parece tão real que,
quando passa,
põe em causa a própria
realidade ...
Afinal, a realidade,
é apenas aquilo que está
no coração ...

Inserida por Eliot

⁠Esta Vida de Deus -

Deu-me Deus esta vida que não quero!
Um coração que se perde em ilusões
enleado numa teia de solidões,
que não quero, não desejo, nem tolero.

Deu-me a Vida, um Deus, em que já não tenho Fé!
E p'ra quê acreditar nos Evangelhos?! ...
Passa o Tempo! E porque faz de nós tão velhos?!
É a vida tal qual aquilo que ela é! ...

Estou perdido, agora tudo é vão,
minha dor, este silencio, tudo calado ...
Eu sou filho d'um desígnio do pecado!

Mas, porém, que pecado foi o meu?!
Onde errei? Porque me fere o coração?!
Porque me deu Deus esta vida que me deu?!

Inserida por Eliot

⁠Amantes Desejados -

O suor dos nossos corpos
encheu o quarto d'ilusão,
correu meu corpo, a tua mão,
parando fixa nos meus olhos!

E a tua língua no meu peito
e o teu olhar no meu olhar
gemi palavras a gritar
envolvido no teu jeito!

Fomos um naquele instante
e eis que o tempo por momentos
foi eterno para sempre ...

E adormeci no teu regaço
e foram tantos sentimentos
que fiz dos versos os teus braços!

Inserida por Eliot

⁠Faltas -

Porque há dias que não se repetem
porque há faltas que não se perdoam
há erros que não se cometem
e palavras que não se entoam!

Porque é que nunca mais são horas?!
Horas de quê?! De qualquer coisa!
Se te atrasas, se te demoras,
o silencio da morte já me poisa ...

Estar vivo é não saber que se vive!
E eu? Perante mim todos tremem!
Se tou vivo - vivi!- se tou morto - já estive!

Em mim os sonhos não ressoam ...
Porque há dias que não se repetem
e há faltas que não se perdoam!

Inserida por Eliot

⁠Visão Errada -

Eu sou a visão errada que há de mim
carregada de silencio e de saudade,
solidão que desde o berço não tem fim
no quarto da minha fria claridade.

Eu ando na vida como nasci - Nu!
Nu de sentimentos! Nu de afectos!
E alguém me escuta?! Sim, talvez tu,
tão longe dos meus sonhos quietos.

Tudo muda ... passa a vida tão depressa ...
... passas tu e passo eu ... cansado ...
... se me escutas - meu amor - regressa.

Já disse adeus, adeus a tanta gente
- tantos corpos que eu amei - Passado -
mas meus olhos, vão querer-te para sempre!

Inserida por Eliot

⁠Há muito ... tanto ...

Há muito que me cansei de ser quem sou,
ser o que não quero, que nunca desejei,
há muito que me cansei de estar onde não estou,
dizer o que não quero ou dar o que não dei!

Há muito que o silencio é em mim um grito,
um verso inacabado de pedras no caminho,
há muito que os meus olhos são o único que agito
na revolta contra os lábios do destino!

Há muito (tanto) que esqueci o que é amar,
há muito (mais) que não sei o que dizer
se alguém disser qu'inda me quer beijar!

E que graça há em ter ainda ilusão!
Quem pode querer beijar este não ser
que digo ser tão distante do Coração?!

Inserida por Eliot

⁠Eis-me -

Num acesso de loucura
vim à vida sem vontade
sempre cheio de amargura
sempre cheio de saudade.

Cansado como a noite
cheio de noite e solidão
sem um colo onde me acoite
levo o silencio na mão.

Ai que tristeza contida
ai que martírio maior
ai é tão longa esta vida
cheia de dias sem cor.

Ai veneno que me deste
ai que silencio de morto
ai solidão tão agreste
que me corre no corpo.

Tanta gente perdida
tanta boca fechada
tanta gente despida
tanta Alma calada.

Adeus vida que me foge
sem nunca me ter tocado
venha a morte que me toque
e me possua em pecado.

Ai se eu pudesse morrer
com a luz do teu olhar
eu voltaria a nascer
só p'ra voltar a te amar.

Inserida por Eliot

Cinismo -

⁠Foi na Praça do Geraldo
que uma Moça se perdeu
encontrou o seu Amado
e aos encantos não cedeu!

Era pobre o tal Amado,
Ela rica, assim se diz,
contra aquele pobre coitado,
Porcos, Barahonas, Cordovis!

Não insistas nesse amor
não importa quanto andes
esta gente só traz dor
Cabras, Noronhas e Fernandes!

Até o Padre da Paróquia
que mal sabia d'zer o terço
vem à Praça fazer troça
do rapaz que não tem berço!

A Moça que era esperta
disse a Todos que era Crente
e mal viu a Porta aberta
fugiu logo desta Gente!

Pretensiosos Sociais
levam tanta rabecada
mas ficam sempre iguais
parece que não foi nada!

Há-de a história repetir-se
não haver a quem acudam
das bocas há-de ouvir-se
só os Nomes é que mudam!

Inserida por Eliot

⁠Cegamente -

Se os meus olhos não te vêem
como vêem toda a gente
desta vida nada têem
hão-de amar-te cegamente!

Ao viver não sei por quem
fui cegando pouco a pouco
fui mais cego que ninguém
ao amar-te como um louco!

E a minh'Alma fez-se cega
como um cego que não vê
tanto tempo à tua espera
à espera não sei de quê!

E em cada madrugada
já não dói o teu desdém
se eu p'ra ti não fui nada
tu p'ra mim não é ninguém!

Inserida por Eliot

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