Mini Textos de Ana Maria Braga

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⁠Diurno -

E é como se as pedras da rua me gritassem aos ouvidos
e os narcóticos silencios tangidos pelo dia fossem rosas de papel,
gemidos ( ocultos, perdidos,) que se adensam no mais escuro da vida, que se misturam no mais dentro da morte!

Vaidades! Só vaidades!

Saudades que se ocultam nos olhares, vendavais de solidão,
mentiras que subplantam o intimo da verdade e olhares,
mil olhares que desolham quando passo - tudo é vão ... tudo é vão!

Tudo pela rua vai passando, tudo passa sem passar,
mentindo e naufragando, magoando, magoando ...
Passageiro clandestino, assim me sinto, assim me vejo!
Um sem rumo, perdido, em luto! Tão longe e tão perto ... deserto!

Vivendo sepultado onde nunca existi - caminho entre as gentes
que morreram e não sabem - zoombies do destino - sem tino ...

São sombras Senhor! São sombras!
Quando passo não as vejo, só as sinto ...
Estão mortos Senhor! Estão mortos!
E eu tão vivo! E eu tão vivo!

Às vezes queria ser um deles, cego, calado, infiel e possuido ...
Sem norte ou direcção!
E a minha direcção qual é?!
Se a tenho quem ma diz?!

Talvez a solidão que pinga dos meus dedos,
que se prende às minhas mãos,
que resvala no meu peito,
que se inclina ao meu olhar ...

Vou-me embora, Senhor, porque afinal, não sei amar!

Inserida por Eliot

⁠Demissão -

Ao passar vi o destino
ao longe num soluço
parado no caminho
com trajes cor de luto.

Suas mãos sobre o corpo
cheias de noite e solidão
como o destino de um morto
que se lhe gela o coração.

Olhos tristes e velados
num horizonte sem razão
dois cálices cansados
suspensos numa mão.

Então o mundo também parou
o destino estava zangado
por alguém que não chegou
e o deixou amargurado.

Aproximei-me lentamente
olhei adentro ao seu olhar
e perguntei-lhe francamente:
-Por quem é o teu penar?!

" - Cada um tem um caminho
de alegria, pranto e dor ...
Já não quero ser destino
porque perdi o meu amor!"

Que amargura nesse rosto
suspiros longos pelo ar
tal qual o meu desgosto
quando partes sem voltar!

Ao destino que julgava ser destino sem destino ....

Inserida por Eliot

⁠Decisão da Morte -

De suspirar a cada dia já cansado
deitando no meu leito a solidão
eis que junto a mim pegando a mão
senti um toque longo e velado!

Era a Senhora dona Morte
mensageira de todas as nortadas
espalhando pela noite a cor do nada
trazia um tal silêncio no seu porte!

Tinha olhos frios e desgarrados
trajava negro luto sobre o corpo
vi-lhe traços pálidos d'um morto
passos lentos, tristes e pesados!

Falou da solidão onde me afundo
falou da dor que visto no meu corpo
disse que sou vivo mas estou morto
por isso não me leva deste mundo!

Inserida por Eliot

⁠Habemus Nada -

Alguem diz habemus Papam
na varanda de São Pedro
mas da morte Ele não escapa
e o que habemus é segredo!

E o que habemus nós de querer
deste mundo de mortais
além da fama de não ser
tão diferente dos iguais?

E o que habemus nós de ter
não sabendo o que é amar
numa ânsia de correr
sem saber quando parar?

E o que habemus nós de ser
procurando ser alguém
num caminho que é esquecer
que esta vida vai e vem?

E o que habemus nós de dar
a quem nos dá o que não queremos?
O segredo é não esperar
por aquilo que não temos!

E o que habemus de sentir
perante a crueldade
de uma gente que a fingir
é tão má na realidade?

E por que habemus de chorar
quando houver separações
se não temos quem amar
no bater dos corações?

E o que habemus ante a morte
quando a vida é despojada?!
Nada fica, triste-sorte,
e afinal habemus nada ...

Inserida por Eliot

⁠Versículo da Despedida -

É verdade meu amor que foste breve
mais breve que o cansaço à tua espera
teus olhos são gelados como a neve
prende-los nestes versos quem me dera.

É verdade meu amor que já nem penso
nas palavras que disseste ao meu ouvido
já não sinto a tua ausência já nem tento
encontrar outro caminho estou vencido.

Trago a dor e a solidão de quem não sofre
num vazio que fica em toda a despedida
sou mais triste que a tristeza que há na morte
sou mais louco que a loucura que há na vida.

Inserida por Eliot

⁠Gangrenas -

Ó empedernida solidão, estática, parada
num jardim desta cidade, sobre o busto que levanta
uma espera imortal! Fitando a luz do nada
ergue-se do chão, Florbela Espanca!

Minha vida é cor da sua! E ninguém me peça
pausa ou silêncio! Que a vida que me deram,
cor dos olhos dos mortos que morreram
é fria, porque os mortos arrefecem depressa ...

Só não arrefece a minha eterna e profunda solidão
cor da mágoa das Gangrenas do Senhor,
meu espelho ou ilusão de Ser nas necroses do coração
num sentir que está parado neste imenso mar de dor!


No Jardim Público de Évora frente ao busto da Poetisa.

Inserida por Eliot

⁠(des)Sintonia -

Há pessoas que encontramos
sem pedir p'rás encontrar
e ao passar acreditamos
que as podemos abraçar.

Há gente que abraçamos
sem pensar no que virá
gente a quem nos damos
mas que a nós nunca se dá.

Há gente que vai e vem
vem e vai sem nos amar
e só deixa o que não tem
no coração de quem ficar.

E a magoa e a saudade
de Alguém que tanto deu
faz-se tumba na verdade
de um morto que morreu.

Inserida por Eliot

⁠Cárcere -

Sinto-me preso a uma estranha inquietação
que marca no silêncio um compasso lento e mortal,
horas frias a que chamo, cansaço e solidão,
herdadas dos Poetas deste chão de Portugal.

Espirais de assombro, tuneis negros
adentram repentinamente aos olhos meus
e palavras tocam no meu corpo como beijos
na procura incessante de um adeus.

Senhor que ser Poeta é meu cárcere,
meu chão, minha tábua, meu punhal,
meu prato de ansiedade nas mesas de Ninguém
servido de amargura, pó e cinza, dor e sal ...

Inserida por Eliot

⁠Lágrima Celeste -

Há uma lágrima Celeste
no teu rosto a deslizar
das palavras que disseste
junto às ondas do mar:

" - Sou Gaivota debandada
à deriva pelos Céus
à procura numa estrada
d'encontrar os olhos teus!"

Tua lágrima Celeste
não é lágrima do Mundo
é ternura que te veste
cada hora num segundo.

E o silêncio que fizeste
não apaga ao passar
essa lágrima Celeste
no teu rosto a deslizar ...

Inserida por Eliot

⁠De Súbito outro Diálogo -

Em certa tarde de Inverno, fria e cinzenta,
sentado na Praça dos Poetas, em Évora,
na esplanada de Santo Humberto, de súbito,
alguém:

- Ricardo não tem frio?!
Não! O frio que está cá fora
não é maior do que o frio
que está dentro de mim ...

- E porque não se aquece?!
Porque nada nesta vida é quente!
Tudo é cansaço e solidão ...

- Falava do frio da rua!
Áh bom! Mas esse não me preocupa!
Na realidade nem o sinto!
Mais frio é o frio que trago no coração ...

Encolheu os braços e partiu ...

Inserida por Eliot

⁠Litígio -

Vejo o tempo a passar
passa a vida
passa o tempo devagar.

Vai a Vida já cansada
cansada vai a vida
pobrezinha não tem nada.

Nesta vida é impossivel
impossivel ir além
ir além do que é visivel.

E meus olhos de mortal
de mortal são os meus olhos
num eterno vendaval...

Inserida por Eliot

⁠Dia de Dezembro -

Tranquilamente invade-me nesta hora
o sossego de um dia de Dezembro
cheio de sussurros por dentro, ardências por fora
e aromas esquecidos que não lembro!

Tranquilamente penetra-me o sossego,
o sussurro dessa hora, mais um dia por viver!
E somos passo, demencia, somos água, apego
a que nos damos com vontade de morrer ...

Tranquilamente somos brisa universal
no eco de um segredo, oculto, por dizer,
somos amor, extenso, absoluto, intemporal,
somos sede, espaço e voz à procura de saber.

Tranquilamente somos "pó, cinza e nada"
em busca de um caminho que nos rasgue a solidão
e procuramos sulcar a vida como escada
esquecendo tantas vezes os degraus do coração!

Inserida por Eliot

⁠Rosa de Maio -

És berço que embala
quem nasce do amor
um cheiro que exala
no abrir de uma flor!

És silencio nos montes
és criança a chorar
és a água das fontes
um romeiro a chegar.

És tímida Garça
que mal se deixa tocar
és a tarde que abraça
que chega a pairar.

És a Rosa de Maio
que nasce em Agosto
no teu colo desmaio
e adoro o teu rosto.

Inserida por Eliot

⁠Revelação Intima -

Ser Poeta é exilio
num pais de condenados
um tormento infinito
de olhos rejeitados.

Ser Poeta é ser em vão
num mundo que não é seu
mendigo sem ter pão
loucura a que cedeu.

Ser Poeta é amargura
estar só no meio das gentes
procurar numa ternura
entender o que se sente.

Ser Poeta é noite escura
com uma candeia mão
andar na vida à procura
de matar a solidão.

Inserida por Eliot

⁠Frente a uma Cruz -

Minha mãe quem é aquele
pregado e morto numa cruz?!
Aquele - meu filho - é Jesus!
Vê a triste imagem dele! ...

E quem é Jesus minha mãe?
É Deus que nos dá o trilho ...
E Deus? É Jesus também?!
Sim meu filho! Sim meu filho!

E porque está morto numa cruz?!
P'ra dizer que a morte não existe,
que o amor sempre persiste
e que das trevas se faz Luz!

Quero segui-lo minha mãe!
Vai meu filho, dá-lhe o coração,
segue o seu caminho, faz o bem,
vai p'lo mundo fora, destrói a solidão ...

Inserida por Eliot

⁠Pintura (de um ideal) -

Sou um quadro mal pintado
numa tela já esquecida
sou o sonho inacabado
de um pintor que perdeu a vida!

Fui o sonho idealizado
de um artista em fim de vida
que p'la morte trespassado
não queria a despedida!

Fiquei preso e incompleto
estou só e condenado
não há nada no meu peito
que me livre do Passado!

A parede que me esperava
era branca, nada à vista,
mas agora até a casa
já morreu com o artista!

Sou a obra interminada
sem poiso nem destino
que ficou abandonada
nos sótãos do caminho!

Inserida por Eliot

⁠Diferença -

Quem nasce diferente
não o é porque quer
e esta gente não entende
que também isso nos fere!

Quem nasce diferente
não entra no álbum
até a dor que se sente
não tem lugar algum!

Quem nasce diferente
neste mundo de iguáis
nem sempre se entende,
entre tantos, demais!

Quem nasce diferente
leva pedradas no corpo
e por vezes até mente
p'ra sentir que tem Porto!

" - Coitado, é diferente,
devia estar morto,
antes morto, presente,
que um Ser, vergonhoso!"

Inserida por Eliot

⁠sete -

Sete facas se perfilam
à luz do firmamento
e sete feridas me fuzilam
no vazio do pensamento!

Sete anos se passaram
no passar dos dias vãos
e sete mortos me falaram
com sete pedras na mão!

Sete amores me deixaram
foi verdade sem razão
e sete vidas me largaram
no vazio da solidão!

Sete ausências me ficaram
do sabor de sete bocas
e outras bocas me beijaram,
mais de sete, foram poucas!

Foram sete desilusões
tinham gosto d'acidez
e ai dos sete corações
que perdi de uma só vez!

Sete orgulhos engoli
como o mar engole o rio
e sete versos escrevi
na demência do vazio!

Eram sete horas da tarde
sete dores eu senti
no meu corpo sem alarde
sete facas e morri!

Inserida por Eliot

A Vida Chega Tarde -

⁠A vida chega tarde
quando breve vem a morte
e sem fazer alarde
vem num golpe de má-sorte!

Entre a vida e a morte
quem escolhe nunca pensa
estar vivo é ter sorte
porque aos mortos só lamenta!

Quando vi no teu regaço
amortalhada, sem esperança,
tanta mágoa, só cansaço,
morreu em mim a confiança!

E em silêncio fui embora
dei à morte a minha vida
e num segundo se fez hora
de partir sem despedida!

Inserida por Eliot

⁠Máscaras -

Nesta calha da vida
o que ser afinal
quando a esperança é vencida?
Ser bem ou ser mal?!

Quantos somos num só?!
De onde vem connosco?
Porque vivem em nós
no silencio do corpo?!

São mascaras, Senhor,
que trazemos no rosto
e um eterno pavor
de lembrar das ter posto!

Quando a vida nos pede
que as tiremos, é tarde,
estão coladas à pele,
entranhadas na carne!

E à boca calada
quem somos não sabem!
Quando queremos tira-las
por vezes não saem ...

Inserida por Eliot

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