Mini Textos de Ana Maria Braga

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⁠Nas Curvas do Destino -

Quando penso em ti sinto saudade
vontade de me atirar da ponte ao rio,
o que sinto, meu amor, na verdade
quando falo em ti, é dor e frio ...

Quando fixo os rostos que encontro pela vida,
que cruzam seus olhares com os meus,
só lembro a promessa em vão perdida
dos meus olhos só olharem para os teus.

Não esqueço, meu amor, aquelas tardes delirantes
em que vinhas de mansinho com ternura
e trazias a esperança de, um dia, sermos mais que amantes!

Descalço vou, sozinho, agora, traçando outro caminho,
talvez te encontre, um dia, pela vida, que loucura,
nas estradas ou nas Curvas do Destino ...

Inserida por Eliot

⁠A Senhora de Vale-Flôr -

De pele trigueira e olhar firme
porte de gazela, pelos campos ao calor,
- ó Poeta -, fala, escreve, diz-me,
alguém há que se assemelhe à Senhora de Valle-Flor?!

Alta, esguia, perturbante,
passa por entre os nobres sem temor,
deixa a um canto a Senhora Duquesa de Brabante
a Senhora Marquesa de Valle-Flor.

Vestida de brocados e cetins,
pedras, pérolas, jades incolor,
desliza p'los salões ao toque dos clarins
a muy nobre dama Senhora de Valle-Flor.

Mas um dia, algo terrivel ocorreu,
chega-lhe a noticia que a deixa sem fulgor,
Jenny, sua filha, tão jovem, morreu!
Pobre e contristada Senhora de Valle-Flor.

O Marquês, deixara-a antes tão nova,
esse, a quem dera tanto amor,
agora, sua filha, 20 anos, vai à cova,
triste, no Palácio, a Senhora Marquesa de Valle-Flor.

A Rainha, Dona Amélia de Bragança,
vem ao Paço dar a mão à sua dor,
traz-lhe flores e um abraço de esperança:
"- Aceitai estas Rosas Senhora de Valle-Flor!"

De negro vestida, véu cobrindo o rosto,
tão ressentida, pálida, sem cor,
cai aos pés da rainha - tal o desgosto
da muy nobre Dama - a Senhora de Valle-Flor.

" - Alevantai-vos!" Diz a Rainha. "- Pobre mãe,
alembrai de Maria a sua dor,
sabeis agora o que é ser mãe - tão bem,
Senhora Marquesa de Valle- Flor."

"- É tão funda, Senhora de Bragança,
a dor que me assola o coração,
que não há Rosas nem esperança
que me tirem deste valle de solidão!"

Ainda hoje, à porta do jazigo da defunta,
se vê passar um vulto que liberta um odor
das Rosas que leva no regaço! Quem é? Alguém pergunta!
E há um suspiro que se escuta. É a Senhora de Valle-Flor!


(Poema à Senhora D. Maria do Carmo Dias Constantino Ferreira Pinto Valle-Flor (1872-1952) Primeira Marquesa de Valle-Flor, e à sua filha, Jenny Valle-Flor, falecida muito jovem, ainda adolescente ...)

Inserida por Eliot

⁠Madre Solidão -

Há um tecto muito antigo
naquela casa onde vivi
testemunha do perigo
da infância que sofri!

Um tecto com goteiras
como os olhos que sofreram
sem limite nem fronteiras
para as dores que me deram!

Naquele tecto outrora feito
por mãos que a morte acarinhou
estava posta ao seu jeito

uma Madre que o tempo consagrou!
Uma Madre escusa e fria que no leito
em solidão tantas vezes me tapou!


(À Madre do tecto da casa da Quinta do Malhão em Évora onde passei parte da minha infância.
Casa hoje inexistente. Fica a memória e a saudade...)

Inserida por Eliot

⁠Estranho e Sombrio -

Talvez houvesse um amor
esquecido no coração
mas só havia dor
e gritos de solidão.

É tão negro o que pressinto
quando passo àquela rua
que ao sentir o que não sinto
sei que a dor não é só tua.

E se uma lágrima caida
trouxesse luz ao teu olhar
faria desta vida
um lamento ao passar.

Mas levo o corpo fechado
o teu retrato na mão
e num gesto calado
um punhal no coração.

Inserida por Eliot

⁠No dia do meu Enterro -

No dia do meu enterro
quero que os sinos se calem
minha vida é um erro
não quero que a dobrem.

No dia do meu enterro
quero silêncio na rua
na verdade que encerro
minh'Alma irá nua.

No dia do meu enterro
não quero luto nem pranto,
quero a morte, primeiro,
só depois algum canto.

No dia do meu enterro
irá meu corpo a passar
e nesse instante certeiro
minh'Alma a voar.

Inserida por Eliot

⁠Abismo Profundo -

Em meu corpo que dia a dia se levanta
levo o negro de uma roupa que vesti
levo o peso da mágoa de quem canta
na loucura destes versos que escrevi...

Tanto que meu corpo em silêncio te falou
mil versos meu punho em tantas folhas te escreveu
fui aquele que um dia pela vida mais te amou
perdido nos abismos desse amor que era só meu!

Tinha no meu peito o teu amor! Quem mo roubou?
Quem pisou a dor destes versos desfolhados?
Meu lamento, minha taça, meu sangue envenenado ...

Afinal o que tenho e o que sou?!
Sem ti que faço?! Nem sei aonde vou...
Vou sem vida, pela vida, mal amado.

Inserida por Eliot

⁠Espectros -

Desde a hora em que em meu peito entraram versos
que nunca mais a paz em mim pairou
e na loucura de poemas controversos
meu destino desde então se consagrou!

Mas foi loucura ter aberto o coração,
o mundo não me entende, sou cravo num canteiro
que procura água na secura, solidão,
num jardim de rosas em Janeiro!

Assim é a vida destes seres sonhadores,
diferente, num mundo imenso e abissal,
onde nada nem ninguém acolhe as suas dores ...

Homens livres, na verdade, sem sorte,
vencidos na vida, afinal,
destinados a triunfar depois da morte!

Inserida por Eliot

⁠Louco sem chão -

Meu corpo de esperar-te envelhecido
sente a mágoa de um destino solitário
do meu peito, o teu olhar, em vão perdido,
como um crente rezando diante d'um sacrário.

Não vejo nada, só a tua ausência,
e vou no mundo, passo a passo, no vazio,
no mistério, na esperança e na clemência
da morte me afogar na dor de um rio.

E tudo passa, tudo acaba, que loucura,
que destino, amar e ser esquecido,
por alguém que parte sem ternura.

Por ti, de ti, em ti - saudade!
Em mim, de mim, por mim - perdido!
Um louco, sem chão, pelas ruas da cidade ...

Inserida por Eliot

⁠Nunca Mais -

Odeio a vida porque sempre me enganou!
Nunca dei um passo onde não tenha caido,
traido, abandonado, esquecido - não vou,
não passo de um lamento em vão perdido!

Alguém maior que os outros sempre rejeitaram
alguém diferente que o destino sempre apedrejou
alguém que as gentes sempre malograram ...
Quem me chama?! Não vou! Não vou!

Chega de silêncio! Não me calo nunca mais!
Estou cansado de em vão acreditar
que um dia o meu destino vai mudar ...

É loucura! É mentira! Ó dor aonde vais?!
- Procurar na morte o silêncio em alguém
porque na vida jamais me quiseram bem!

Inserida por Eliot

⁠No Túmulo de Florbela Espanca -

Caminhando pelo chão dos meus cansaços
encontrei em cada esquina solidão,
na rua, vi tristeza e cada passo
me lembrava a amargura de outro coração.

Vila viçosa, como um campo de trigais,
triste, nocturno, sem chama ...
Pelas ruas, mil suspiros, tantos ais,
me lembravam, ao passar, Florbela Espanca!

Entrei no cemitério, fui além,
cheguei onde outros não chegaram,
pelo espaço, só os mortos, mais ninguém.

Mas no meio deles alguem sorria ...
De entre todos os que um dia sepultaram,
Florbela Espanca 'inda vivia!


(No cemitério de Vila viçosa
junto ao túmulo de Florbela Espanca.)

Inserida por Eliot

⁠As Rosas do Choupal -

Passei de madrugada entre as rosas do Choupal
ternas, sequiosas, ansiando dias puros
oscilando entre o vento, entre o bem e entre o mal
como pálidas donzelas por desejos inseguros.

Eram Rosas meu amor, eram rosas
eram Rosas que ao longe se avistavam
alvas, doces, meigas, ternas, porém espinhosas,
eram Rosas sequiosas que pela tarde se arrastavam.

Eram Rosas inseguras, desfolhadas pelos dias
eram Rosas esquecidas, bailando sem sentido
eram Rosas , meu amor que tu não querias
na dolencia de um caminho ressequido.

Essas Rosas infelizes cheiravam a saudade
por terras do Choupal de silêncio e mel
pois lembravam, ao passar, aquela lenda da cidade
que fala no regaço de Santa Isabel.

(À mata do Choupal em Coimbra.
À Rainha Santa.
E à Lenda das Rosas.)

Inserida por Eliot

⁠Berço de Poeta -

Porque trago junto a mim
tanta vida e tanta morte?!
Foi no ventre de onde vim
que nasceu a minha sorte ...

Minha mãe o que dizer
neste mundo a esta gente?
Que trazias sem saber
um poeta no teu ventre!

Desde a hora em que nasci
ao passar de mão em mão
que no berço onde dormi
estão a dor e a solidão.

Minha mãe o que fazer
se este mundo não me entende?!
Cantarei até morrer
a dor que minh'Alma sente ...

Inserida por Eliot

⁠Ai Senhor -

Ai Senhor que destino
que turbilhão de incertezas
desses tempos de menino
de loucuras e tristezas.

Ai Senhor que tormento
me enlaça o coração
me afoga o pensamento
e me tolda a razão.

Ai Senhor que lamento
me escorre o corpo todo
que a morte e o sentimento
me afogam no lôdo.

Ó Senhor que te não vejo
neste caminho perdido
fui traido com um beijo
porque me tens tão esquecido.

Inserida por Eliot

⁠O Morgado de Selmes -

Houve outrora um Morgado
na bela aldeia de Selmes
um homem desalmado
que o povoado ainda teme.

Numa herdade fria, escura
vivia o tal Morgado
um homem sem ternura
sombrio e mal amado.

Montava o seu cavalo
pelas ruas da aldeia
era um nobre sem passado
que chorava uma plebeia.

Sua amada que morrera
por decreto do seu Punho
era jovem e de cera
fora morta ao mês de Junho.

Não gostava do Morgado
essa jovem doce e bela
e ante todo o povoado
fora morta p'la guela.

E o Morgado duro e frio
do alto do cavalo
dera a ordem que feriu
o olhar do povoado.

E a raiva e o horror
do Morgado se ressente,
sem lamento nem pudor
matava toda a gente.

Na fogueira sem piedade
tanta gente lhe implorou
e a arder nessa maldade
uma bruxa lhe imprecou:

" - Que esta morte vos dispa
a Vós e à vossa geração
e que uma maldição vos vista
até mil anos sem perdão! "

Mas um dia a Santa Igreja
fachada da Matriz
caiu e até Beja
chorou, Selmes, infeliz.

Era Ele do Santo Oficio
D. Manuel Nunes Thomaz
o Morgado que vos digo
era um homem perspicaz.

" - Que se erga outra fachada
a Catarina vossa Santa,
mas ao lado, minha casa,
ficará como uma anta!"

E ao lado da capela
construiu o seu jazigo
esperando p'la donzela
como sendo um sem abrigo.

Passa o tempo, passa a vida
morrem gentes, nascem outras
e junto àquela ermida
o Morgado mira as moças.

Qual delas era a sua
a que volta e o liberta
da maldição da rua
do jazigo à porta aberta.

Mas um dia emparedaram
o jazigo do Morgado
e o seu ódio despertaram
como outrora no passado.

E houve mortes, acidentes
tanta gente possuida
p'lo Morgado de Selmes
do jazigo e da ermida.

Até que a porta foi aberta
e o Morgado adormeceu,
no jazigo está à espera
da amada que morreu!


(Poema a D. Manuel Nunes Thomaz, Morgado de Selmes, Senhor da herdade da Rabadoa no Alentejo. Membro honorário do Tribunal do Santo Oficio (Inquisição). Um homem de poder, severo e cruel, frio e distante, apaixonado por um amor infeliz. Morreu em 1878, deixando, segundo a lenda, uma maldição naquelas terras. A maldição do Morgado de Selmes. Que descanse em paz, Ele que partiu, e nòs que ficámos...)

Inserida por Eliot

⁠Rosa ao Vento -

Há uma ansiedade efémera que te habita,
um vazio estranho e proibido,
uma voz, uma ausência, alguém que grita:
saudade, amor - silêncio! - É perigo!

Ansiedade que te consome sem razão,
sombra triste que te fala sem palavras ...
Por quem bate o teu cansado coração,
rosa branca, ao vento, triste, desfolhada?!

Que o destino assim te fez!
Solidão, não é, por certo,
é distancia, amor, talvez ...

Esperar alguém é dor cansada,
amar alguém, recorda, só de perto,
rosa branca, ao vento, triste, desfolhada ...

Inserida por Eliot

⁠Tenho Medo -

Tenho medo de tudo o que não vejo,
da amargura dos olhares que se perdem,
das dolencias, dos abraços e dos beijos,
tenho medo das tristezas que não doem!

Tenho medo das palavras e dos versos,
tenho medo do teu cheiro no meu corpo,
tenho medo de tudo o que está perto,
tenho medo, tanto medo de estar louco!

Bem sei que somos feitos, por um Deus, eternamente,
tambem sei que nunca o quis na realidade,
por isso, a Alma sofre e sente-se demente!

Tenho medo de ficar só por ser diferente,
medo de morrer em lençóis feitos de saudade,
afinal, tenho medo de não ser igual à outra gente ...

Inserida por Eliot

⁠Razão -

Quando um dia eu morrer, que sorte,
não quero terra, campa ou jazigo,
para que não se acoitem à minha morte,
só de cinza pretendo ser vestido!

Que arda o fogo no meu corpo,
queime a dor que me viveu a existência,
pois só assim, sobre tábuas enfim morto,
será cinza a solidão em permanência!

E se p'ra matar esta fria solidão
o único caminho for morrer,
então, semeio a morte no fundo da razão!

E assim, já tenho uma razão para morrer,
é preciso libertar meu coração
da amarra que é pensar em não sofrer ...

Inserida por Eliot

⁠Coragem -

Quem de entre vós me explica o porquê do meu destino? !
Esta insofrida nostalgia que me veste de lamento!
Este estar no mundo, à deriva, sem caminho,
que me seca, dia a dia, na raiz do pensamento ...

Quem de entre vós terá coragem
de me dizer: "tu és no mundo um despojado,
feito apenas de aparência, boa imagem,
mas no fundo, um pobre e triste desgraçado! "

Coragem! Vocês inda precisam de coragem!
Viver a vida que me deram,
isso sim é ter coragem, o resto, é paisagem ...

Posso ser no mundo um pobre e triste desgraçado,
mas sei o que é na vida ter coragem,
porque ela, frente ao mundo, foi meu escudo no passado!

Inserida por Eliot

⁠Pétala de Solidão -

Trago ao peito, ainda, uma pétala de solidão,
única que resta da flor airosa que já fomos,
agora, murcha, seca e morta pelo chão,
entregue ao pó da vida de onde somos!

Eu fui pó e nunca vida,
o que resta e nunca flor ...
O que sobra de uma esperança perdida
pois a vida nunca teve por mim amor!

E não há como salvar aquela flor,
jaz morta, apodrecida, pisada pelo chão,
que aos olhos da loucura, enlouquece a própria dor.

E que triste dor ardente
que consome de amargura
o olhar de toda a gente ....

Inserida por Eliot

⁠Saudade, Vazio e dor -

As tristezas que me doem São saudades ...
Ó vida, dizei-me, porque tanto me enganais?!
Foram dadas no silêncio das idades
por olhares de quem não torna mais!

E porque partem todos os que amamos
deixando no vazio quem nunca esquece?
Pobre de quem fica pela vida mendigando
esperando o novo dia que amanhece!

Saudade, vazio e dor ...
Aquilo que esperei está tão mudado
que esqueci no peito o que é amor!

Não há esperança p'ra quem perde alguém que ama!
Má fortuna, dor ardente, tempo errado,
um grito de silêncio que por nós ainda chama ...

Inserida por Eliot

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