Mini Textos de Ana Maria Braga

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⁠Banquete -

Ao nascer fui chamado a um banquete!
Deixei tudo e aceitei. Mas quem era aquela gente?!
Entre eles me sentei, mas nao fui aceite,
nem eu os queria tais parentes ...

Fiz tudo o que se faz. Até brindei!
Fingi estar lá, não estando,
sorri, falei, escrevi e até cantei,
mas no peito, o coração, ia secando ...

Ao tempo, pensaram ser um deles,
mas era tarde e o destino era reles!
Foi então que uma voz se levantou:

"- Nesta mesa houve alguém que não comeu!"
Fui eu! Respondi com prontidão ...
E não comi porque o banquete é vosso nao é meu!

Inserida por Eliot

⁠Olhos Inclinados -

Meus olhos são dois lirios
no Portal daquela Igreja
são dois cantos, dois martírios
Nossa Senhora os proteja.

Num lamento Virgem Santa
trago a ti minha oração
meu olhar não se levanta
vai aos tombos pelo chão.

Horas mortas que passaram
de uma vida mal vivida
que meus olhos enxugaram
no teu manto, dia-a-dia.

Fica a minha Solidão
no portal daquela Igreja
e meus olhos pelo chão
Nossa Senhora os proteja.

Inserida por Eliot

⁠Celeste Rodrigues -

Chegaste e eras vida ...
Chegaste - eras ar- ternura,
gestos e palavras
que a própria vida
te dava por loucura!

Chegaste e eras tempo ...
Chegaste - eras areia - praia,
ondas e marés
e o próprio vento
bordava a tua saia.

Chegaste e eras xaile ...
Chegaste - eras Sol - calor,
a mantilha dos poetas
eras musica e baile
um poema ao amor.

Chegaste e eras fado ...
Chegaste - eras verso - tão só,
guitarra e lamento
caminho destinado
a dar corpo à voz.

Resta-nos ser o que Tu és
esse fado a que te davas
ter nos versos tanta fé
ser um campo de rosas bravas.

Inserida por Eliot

⁠Esperança Imortal -

Pus nos versos uma esperança
que nem a noite mais forte
ou o desejo da morte
me tiraram por vingança.

Nem a pessoa mais culta
ou alguém que até duvida
nem a vida que dá vida
ou a morte que sepulta.

Ninguém de mim arranca
cheio de dor e solidão
estes versos que serão
quem dá vida à minha esperança.

Que a minha vida é assim
esperar por ti como um louco
vestir a dor em meu corpo
chorando lágrimas sem fim.

Inserida por Eliot

⁠Para Natália Correia -

Eras Poeta
e esta gente não entendia!
Eras noite
mas a Lua, por inveja,
não te queria,
e o dia, com medo, de ti,
também fugia!
Eras vida
e até a morte te procurava...
Mas a tua dimensão
não era a vida nem a morte
mas sim a solidão!
Porque ninguém te entendia ...
Eras tu, aurora dos poetas,
eterna madrugada
que antecede os dias puros...
Eras poeta
e esta gente não entendia,
não te queria, nem te via.
Por isso, em teus versos, teu olhar, sofria...
E ninguém entendia ...
Ninguém entendia ...

Inserida por Eliot

⁠Aos Caidos -

Ando na vida aos caidos
procurando quem resgate
meus olhos tristes, perdidos,
antes que uma noite os mate.

Ando na vida aos caidos
num esperar que é ilusão
soluçando mil gemidos
no pulsar do coração.

Ando na vida aos caidos
procurando quem me entenda
e destes versos proibidos
ter alguém que me desprenda.

E tanta noite perdida
na loucura dos sentidos
tanta gente esquecida
pela vida aos caidos.

Inserida por Eliot

⁠A dor do Mar -

Um Pintor pôs numa tela
um lamento por adorno
e fez do Mar uma aguarela
na pressa de um retorno.

Um Poeta pôs nos versos
a saudade da amada
o Mar secou-lhe os beijos
por a ter nele afogada.

Um Fadista pôs no canto
a mentira de um amor
e afogou-se de quebranto
no Mar alto, sem pudor.

Ó Mar que tanto inspiras
a arte das viagens
porque trazes e agitas
tanta dor nas tuas margens?!

Ó Mar que na neblina
tantas mágoas se dissolvem
tanta esperança se fulmina
tantos mortos em ti dormem.

E como as ondas que se enrolam
do mar alto até à margem
minhas dores já não choram
são no Mar uma miragem.

Inserida por Eliot

⁠Elegia da Paixão -

E é como se o teu beijo tocasse no meu ventre
e é como se a tua pele me vestisse de cetim
e é como se o teu olhar num sopro de repente
me levasse nas asas de um desejo sem ter fim.

E é como se o suor dos nossos corpos fosse um rio
e é como se os nossos lábios fossem duas rosas
e é como se a noite nos levasse num navio
onde as nossas linguas se entrelaçam saborosas.

E é como se o teu toque esculpisse o meu regaço
e é como se a minha cama fosse o teu abrigo
e é como se o teu cheiro fosse o meu abraço
nessas noites em que não podes estar comigo.

E é como se tudo, em torno, sem ti, fosse vazio
e é como se em mim, esse vazio, fosse criança
e é como se ao meu peito ausente, gelado e frio
voltasse aquela angústia que vivi na minha infância.

E é como se os teus olhos fossem dois pedintes
e é como se os meus fossem dois poços de amargura
e é como se a minha dor já não tivesse ouvintes
nesta tórrida procura de afecto e de ternura.

E é como se nas veias o sangue não corresse
e é como se as viuvas pelos mortos não chorassem
e é como se no peito o coração já não batesse
e as andorinhas pelos Céus já não voassem.

E é como se afinal os poetas não escrevessem
e é como se o destino já não quisesse o fado
e é como se do fado as guitarras se perdessem
e os povos não tivessem o destino já marcado.

E é como se o mar já não tivesse os horizontes
e é como se o Céu se afundasse sem destino
e é como se tivessem pela vida secado as fontes
e eu voltasse aquela triste idade de menino.

E é como se a morte se espalhasse pelo ar
e é como se a vida fosse um pássaro na mão
e é como se estes versos que escrevo por te amar
fossem a mais bela Elegia da Paixão.

Inserida por Eliot

⁠Vidros Quebrados -

Trago vidros quebrados
no mais intimo da vida
e nunca tive telhados
na minha casa partida.

E se verde é a esperança
a minha é cor de solidão
da loucura de quem avança
pelo mar do coração.

Pois da vida que me vedes
sou apenas um Asceta
meus olhos não são verdes
mas minh'Alma é de Poeta.

E fui louco até ao fim
jogando a vida sem ter dados
neste mar de mim a mim
só trago vidros quebrados.

Inserida por Eliot

⁠Já vai alta -

Já vai alta a madrugada
que se levanta pela noite
traja liquidos de prata
traz um verso que nos mata
num poema que nos coube!

Já vai alta a solidão
que se ergue pelo espaço
deixa um lastro pelo chão
é loucura, é paixão
que nos mata de cansaço.

Já vai alta a minha dor
é intensa, tão profunda
que vá a vida onde for
da loucura que a inunda
vai tão alto o meu amor.

Inserida por Eliot

⁠Na Exactidão da Partida -

É como se antes de nascer
a dor me conhecesse
e a poesia me escolhesse
no momento de viver.

É como se antes de viver
a loucura me vestisse
e a morte me seguisse
como um galgo a correr.

É como se antes de correr
este mundo me evadisse
e a noite me despisse
vivendo nú sem saber.

E ao lado da saudade
passo a passo fui vivendo
pela vida fui sofrendo
à deriva, sem vontade.

Na verdade quis a morte
quis à vida pôr um fim
quis voltar p'ra onde vim
em procura d'outra sorte.

Mas fiz da vida uma cadeia
da minha casa um jazigo
do meu caminho fui mendigo
e tanta gente na plateia.

Vou-me embora sem esperar
abandono toda a gente
solto a corda que me prende
aqui não é o meu lugar.

Inserida por Eliot

⁠Ode ao Limbo -

Há um grito que me envolve ...
Vem da terra - cresce em mim...
Nada nele me devolve
à beleza de um jasmim!

Na solidão de que me alimento
sou da noite, sou assim,
sou do fado, vil tormento,
um lamento sem ter fim.

E na raiz de que sou feito
está a força de pensar
minha raça vai ao peito
vai no punho o meu penar.

Mas se trago no pensamento,
as palavras, uma a uma,
sou um verso escrito ao vento
na mentira que é a bruma.

Então a bruma é a vida
e a vida são estilhaços
somos Almas combalidas
morrendo passo a passo.

Nesta humana Eucaristia
não há pão e não há vinho
só a morte dia a dia
a tolher-nos o caminho.

E não há bem! E Nao há mal!
Nesta demência que nos mente
ir do berço ao pó da cal
é o destino de toda a gente.

Inserida por Eliot

⁠Tragédia -

Trago a minha dor na ponta de uma espada!
Eu sou a vontade. Alguem é a solidão.
Levo a minh'Alma da cor da madrugada!
Alguem é a saudade. Eu sou o coração.

Levo a minha angustia numa espera em dia vão!
Eu sou a loucura. Alguem é o meu corpo.
Trago nos meus ombros uma oculta maldição!
Alguem é a ternura. Eu sou um pobre louco.

Trago nos meus versos a certeza que não tive!
Alguem não é verdade. Eu apenas iludido.
Levo no meu peito o vazio que tu não viste!
Eu sem liberdade. Alguem de mim perdido.

Levo horas, tristes horas, em mim a soluçar!
Eu sou o vazio. Alguem a ousadia.
Trago versos,tantos versos, que em mim estão a chamar!
Alguém é o meu frio. E eu sou a poesia.

Inserida por Eliot

Eu era primata e segurava primata

Não me lembro o que eu era antes de ser mãe
Alguma coisa entre tijolo e rã
(sólida e escorregadia)
O tempo de antes ficou sujo de uma coisa
que eu não sei
A vida principiou naquele dia
e depois só futuro
E era um futuro tão velho que parecia passado
Quando eu coloquei no colo minha filha
Era como se carregasse minha mãe
Ou a mãe da minha mãe
Ou a primeira mulher do mundo
Que era gente e era macaco
Ali eu era primata e segurava primata
E doía tanto

Maria Fernanda Elias Maglio
179. Resistência. São Paulo: Patuá, 2019.
Inserida por pensador

24 de junho

Os braços me doem de carregar o filho
E as pernas de tanto caminhar
Com o filho nos braços
Para que tanto mundo para vida tão curta?

As costas doem de me curvar
Para febre e o choro
E me doem os cantos das unhas e a cabeça
Me dói ainda mais o coração

Por que dói tanto?
Eu pergunto à minha mãe
Ela não sabe
Diz que são bonitas as noites de junho
O céu de mar profundo e as estrelas de São João

Eu engastalho o choro e aperto meu filho
Respiro o cheiro da boquinha cor-de-rosa
Leite e vida recente
Olha, meu filho
Como são bonitas as noites de junho
O céu de mar profundo e as estrelas de São João

Maria Fernanda Elias Maglio
179. Resistência. São Paulo: Patuá, 2019.
Inserida por pensador

Para minha filha

Quando sentir o chão ceder debaixo da sola de seus passos
Quando olhar para a frente e enxergar a nuca do mundo
Quando a água do mar parecer fria e seu nariz grande demais
Quando o vazio te ofertar a mão com brandura encenada
Quando a noite perpétua te jurar que nunca mais haverá dia
Quando alegria desertar de suas pernas e você parar de dançar
Quando se sentir cansada até mesmo para dormir

Sua mãe estará aqui

Inserida por pensador

41

Eu tenho quarenta e um anos
E onze graus de miopia

Eu tenho quarenta e um anos
E nenhuma carta de motorista

Eu tenho quarenta e um anos
E sete mil dias de despersonalização

Eu tenho quarenta e um anos
E vinte e oito dentes

Eu tenho quarenta e um anos
E um coração para cada filho

Eu tenho quarenta e um anos
E nenhuma vontade de morrer

Inserida por pensador

⁠Num mundo à parte -

Estou longe, à parte, neste mundo onde vivo,
num mundo de Poetas onde a vida é de sobejo!
Vivo noutro mundo, em palavras tão esquecido,
procurando em cada verso dar resposta ao meu desejo!

Desejo em vão perdido! Encontrar
uma casa, um caminho ou um abrigo
para a Alma que caminha devagar
procurando direcção p'ro seu caminho...

É à parte esta procura que me sangra,
é à parte o que escrevo e o que sinto,
é à parte, tudo é à parte, p'ra quem ama!

Porque tudo é vaidade e vai ao fundo,
tudo é vão e passageiro - sem abrigo -,
tudo morre p'ra quem vive neste mundo!

Inserida por Eliot

⁠Valette de Paus -

Há sempre um cavaleiro que se espera
vindo de uma bruma de saudade,
alguém a quem dar o coração - ái quem dera -,
que viesse cavalgando p'la cidade ...

Vindo de uma noite perdida
de uma sombra que o acolhe,
alguém que viva além da vida
e abrande o passo quando olhe.

Mas esse oculto dos saraus,
cedo ou tarde, sempre surge e aparece
como um Valette de Paus.

E mais um dia passado,
mais uma noite que acontece
e um destino marcado!

Inserida por Eliot

⁠Flor de Sonho -

Procurei recondidos olhares num amor ideal,
no regaço, mil esperanças, tanta flor,
o ideal foi sonho, a realidade, porém, punhal,
e tão só, naveguei em Mar de dor.

Afoguei nas águas meu destino
esqueci os olhos de minha mãe
fui tão só no meu caminho
e em meus sonhos também ...

E o que fiz daquele brilho no olhar?!
O que fiz da esperança e da ternura,
dos poemas, e de ti, a quem tanto quis amar?!...

Tudo ao largo do meu corpo,
que tormento, que destino, que ventura,
solidão ardente, boiando no Mar Morto!

Inserida por Eliot

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