Mini Textos de Ana Maria Braga
Não tenho encontrado as palavras certas. Assim como também não tenho feito as escolhas certas nos últimos meses. E nesse fim de maio, nada está certo. Por algum tempo desisti de escrever, por outro tempo desisti de escolher. Mas sentimentos inexprimíveis continuaram subsistindo e o tempo continuou passando, por mais que eu tenha optado por ficar parada. É, a dor não espera eu achar a descrição perfeita pra ela, talvez por não fazer questão nenhuma de ser perfeita também. E a vida não abrange meus lutos, talvez por não abranger mesmo descanso nenhum até que a morte seja minha. E nesse fim de tudo, nada está claro. Por algum tempo eu quis ter as palavras certas, mas hoje eu só quero qualquer coisa, que não seja essa necessidade perturbante de escrever sobre tristezas que eu não traduzo.
Hoje sem querer eu encontrei umas coisas antigas que eu escrevi pra você há umas estações atrás. Eu ri sozinha lendo aquelas bobagens tão ingênuas. Lembro que você nunca entendia as minhas teorias, mas ficava bem sério e achava bonito. E eu gosto de saber que pra se achar alguma coisa bonita a gente não precisa entender. Veja só nós dois, acabou tudo tão inexplicavelmente, mas eu ainda me recordo com saudade. Com uma saudade esperançosa, de que um dia a gente se cruze em alguma calçada e resolva querer fazer diferente. Hoje sem querer eu encontrei umas coisas antigas, e deu vontade de encontrar você.
Mais um final de semana que eu vou passar saindo pra não passar pensando que você tá em outro colo. Mais um final de semana caçando distração pra não me distrair lembrando que você tá com ela. Mais 48 horas procurando qualquer outra coisa pra querer que não seja você. Dois dias sobrevivendo da certeza que as coisas estão onde deveriam estar. Dois dias sobrevivendo de mentiras.
E é tão difícil admitir que, por tantas vezes mostrei a vontade de ficar, e essas tantas vezes ele mostrou que não se importaria se eu fosse embora. Mas a gente se engana, querendo mais motivos pra ir embora como se estivesse fugindo da verdade. Querendo mais motivos pra amar menos, como se a solidão não fosse suficiente. Você quis tanto abrir meus olhos e me empurrar pra outro caminho, e eu cega, permanecia acorrentada a laços existentes apenas pra mim. Você me mandou embora tantas vezes, de formas tão sutis, e eu aqui, sempre querendo mais motivos pra ir embora. Motivos... você me deu tantos, e continua me dando. E agora eu não preciso de mais motivos pra fugir, tenho de sobra pra te odiar. Teu consentimento á minha ausência é tão claro, como todo aquele amor que eu quis te dar. Finalmente, teus motivos cresceram o suficiente pra me mandar embora. E DESSA VEZ EU NÃO VOLTO.
Ele me surpreendeu do pior jeito possível. Foi de cara, num susto. Ele voltou praquele lugar que ele já conhece bem, pro colo daquela que já esteve no passado. E eu nem cogitei essa hipocrisia quando escrevi aquelas coisas piegas. De repente, me sinto tão bobinha que eu quase sinto vontade de me jogar de algum lugar alto. A partir de hoje não escrevo mais cartas porque é sempre invevitável enviar, e ele não merece mais a intimidade que ele tinha quando eu escrevia pra ele. A intimidade dele não é mais minha, e a minha não é mais dele. Nossas vidas se separaram num trecho sem retorno e aquele amor não pode mais vencer a força do desencontro. Porque agora ele diz te amo pra ela. E eu me esforço pra gostar pelo menos um pouquinho de alguma outra coisa que não seja ele. E se antes eu queria outra resposta, agora não quero mais ouvir nada. Não quero esperar mais nada. Não quero saber mais nada. Nada. É isso que eu quero dele. Pra sempre.
(...)Eu estava fazendo uma lista, mas resolvi deixar pra lá quando percebi que eu sofria um pouco mais a cada item. (...)Ultimamente eu tenho tentado cometer meus erros por mim mesma. Antes cada passo que eu dava era pensando em você, mesmo que em alguma vingança. Agora me lembrei que uma das coisas da lista era que sinto falta de fazer as coisas por você.
Não é só a inércia a responsável pelo fato das relações humanas se repetirem caso após caso indescritivelmente monótonas e viciadas. É a inibição frente a qualquer experiência nova e imprevista com a qual não nos achamos capazes de lidar. Mas só alguém que esteja corajosamente disposto a qualquer coisa, que não exclua nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com o outro como uma experiência viva.
Estou amontoando todas as nossas saudades num lugar bem escuro e escondido da minha alma. Junto com todas as coisas feias do meu passado. As que eu separo pra tentar esquecer. As coisas colocadas lá, acabam se perdendo pra sempre no meio de tanta bagunça. É o que sempre nos resta fazer com histórias sem finais felizes. Amontoar numa caixa, jogar num canto, e esperar que o tempo faça o resto. Que o tempo nos dê a habilidade de enxergar somente um amontoado de tralha no lugar daquelas lembranças absurdamente felizes. Porque por mais que escondamos certas coisas em lugares bem escuros, no fundo a gente sabe bem que elas continuam existindo. Então na verdade, a gente nunca esquece que essas coisas existem. A gente só esquece de gostar delas. É isso que fazemos com as coisas que não podemos matar nem possuir: tentamos esquecê-las.
Odeio saber que terminou. Odeio encarar a solidão de não ter mais pra quem me consertar. Odeio não ter mais por que me consertar. Odeio a liberdade de poder ser eu mesma. O tal do livre arbítrio nunca me fez feliz. Mas você sim, você me fazia feliz. E eu odeio ter que ser feliz sem você. E odeio a certeza de que você consegue ser feliz sem mim. Odeio a sua felicidade. Odeio a minha vontade que você seja infeliz. Odeio não saber ser feliz. Odeio querer que você volte. Odeio tentar te esquecer sabendo que não vou conseguir. Odeio não conseguir. Odeio tentar. Odeio odiar.
Desistir. Não gosto dessa palavra e ela não se encaixa no meu perfi, mas terei que admitir que constantemente deixo as coisas pela metade. Histórias, explicações, trabalhos...Porém, Não é que eu seja apta a desistir de viver uma história, ou desista de me explicar, também não largo meus compromissos por cansaço. É tudo uma questão de liberdade, sou livre pra cumprir meus desejos, e não admito me escravizar por intenções passadas. Enquanto eu desejar, eu vou lutar. Mas se eu for embora, não é desistir, é apenas não querer mais. Até mesmo porque arduamente, ninguém desiste.
A vida sendo como é. E eu aprendendo a ser menos eu. Quero aprender a não odiar o passado. Quero fazer as pazes com minhas histórias, com meus ex-amores, meus quase-amores, meus nunca-amores. Quero ficar de bem com a minha memória pra não sentir esse gosto enferrujado de desgosto toda vez que eu lembrar de algum nome ou lugar. Quero aprender a aceitar as escolhas que fiz, ir até o fim nas decisões que tomei. Aprender a não arrepender ninguém, nem a mim mesma. Quero aprender a viver a vida como ela é, e não como eu gostaria que fosse se pudesse ser diferente. Ela não pode mudar. Mas eu posso. E isso deve ser suficiente.
Chega de fotos pra alimentar sofrimentos. Chega de cartas inúteis. Chega de guerras perdidas. Chega de saudades doloridas. Chega de esperas eternas. Chega de ter suas coisas e não ter você. E quando me perguntarem do quê eu sinto mais falta, não haverá resposta. Chega de falta. Eu preciso é de presença.
A depressão é o rompimento da rede de sentido de amparo. Momento em que o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta preencher. É um momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. Algumas pessoas conseguem evitá-la a vida toda.
É outro dia sem você. O trecentésimo alguma coisa. As cartas, os búzios e as ciganas erraram. Você não voltou. Minha mãe tava certa. Eu ia me acostumar e continuar respirando e falando e vivendo. A astrologia, as conchinhas, as linhas da minha mão direita mentiram. Minha mãe é que sempre soube.
Eu não queria essa guerra, mas me deram uma batalha, e eu criei minhas armas. E a sobrevivência é um negócio com a sorte, quando falta munição, eu corro. Corro pra casa, corro pra um colo, ou pra algumas doses de tequila. E no meu exército só tem eu, mas o meu inimigo é do tamanho de uma vida inteira que eu poderia estar vivendo, se eu não estivesse lutando.
Passei o tempo todo me testando pra saber até onde eu aguentava, mas daí eu descobri que eu não tinha limite. Sofrer virou uma brincadeira viciante. E eu só parava quando eu cansava, mas dali a pouco eu recuperava o fôlego e ia lá de novo, me jogar na vida de alguém pra fazer desastre. Mas um dia eu cansei, as histórias se repetiam demais, e eu me repetia mais ainda. Resolvi fazer diferente e tentar me jogar na vida de alguém pra fazer alegria. Mas deu decaída, e eu fiz desastre de novo..
Só sei que eu não tenho mais nada a perder, e não me consola pensar que não há mais erros a cometer porque não há mais ninguém pra me perdoar. É a condição da solidão absoluta. E mesmo que o acaso tenha me tirado muita coisa, no fundo eu sei que as mais importantes foi eu quem joguei fora.
Eu e minha vidinha, provando pro universo que a história por aqui é muito mais interessante que a sua. E é. Inédita. Mas ás vezes eu ainda tento te imaginar vivendo por aí. Sem mim. Mas dá uma preguiça de pensar em vocês quando eu lembro que não tem mais eu pra movimentar essa vidinha chata que deve tá rolando nesse seriado reprisado. Eu finalmente dou um enorme sorriso quando percebo que virei tão protagonista da minha vidinha que não tenho mais saco pra acompanhar a sua.
Não posso dizer que está tudo no seu devido lugar, aliás, a maioria das coisas não estão como eu realmente queria. Mas é assim pra todo mundo, tem sempre alguma coisa pra consertar, alguma história pra terminar, ou algum plano pra começar. Enquanto isso a maioria das pessoas vai aceitando viver assim, amando pela metade, sendo amado pela metade, querendo pela metade... e ainda assim desejam que as coisas se ajeitem amanhã, ou depois, como se a satisfação fosse uma obra divina do tempo. É aí que eu me pergunto: Como elas querem a completa felicidade se não conseguem nem ao menos serem completas?
P.S: Funciona mais ou menos assim. 00:05 am, eu vejo os olhos - olhos castanhos - quase sempre atentos, e então, pra qualquer outro lugar que eu olhe eu não enxergo nada; 00:06 am, eu ouço a voz, - quase sempre firme - e então, presto mais atenção no tom do que nas palavras; 00:09 am, eu observo o contorno da boca, - quase sempre com um sorriso - e então, esqueço a cor dos olhos; 00:12 am, sinto as mãos, - quase sempre quentes - e então, desisto de falar qualquer coisa. 00:14 am, eu abraço forte, e então, parece sempre possível chegar mais perto. Já são quase 3:00 am - é segunda-feira - e então, nunca parece ser tempo suficiente.
Você já teve aquela sensação de “era isso que eu precisava ouvir hoje”?
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