Minha Vó
Nunca confunda meu silêncio com ignorância, minha calma com aceitação, minha bondade com fraqueza ou minha sinceridade com arrogância.
Minha boca
é pouca
pro desejo
que anda à solta.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.
A culpa minha, maior, é meu costume de curiosidade
de coração. Isso de estimar os outros, muito ligeiro,
defeito esse que me entorpece
Antes que o mundo acabe,
deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso...
E nos cobrimos de beijos
E de flores...
...antes que o mundo se acabe.
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
Minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que tristeza era uma alegria falhada.
As pessoas querem saber o segredo do meu sorriso, da minha força, da minha fé... E querem saber de onde eu tiro as palavras, de onde eu tiro tanto amor, onde que achei a receita pra aceitar os problemas com felicidade. Então eu respondo: em Deus!
Será o mundo com sua impersonalidade soberba versus minha individualidade como pessoa mas seremos um só.
Minha vida se divide em três fases.
Na primeira, meu mundo era do tamanho do universo
E era habitado por deuses, verdadeiros e absolutos.
Na segunda fase meu mundo encolheu,
ficou mais modesto e passou a ser habitado
por heróis revolucionários que portavam armas
e cantavam canções de transformar o mundo.
Na terceira fase, mortos os deuses,
mortos os heróis, mortas as verdades e os absolutos,
meu mundo se encolheu ainda mais
e chegou não à sua verdade final
mas a sua beleza final:
ficou belo e efêmero como uma jabuticabeira florida.
Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso como eu penso? Com um suave aperto no coração?
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.