Mensagem Família Morte

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Enterre os mortos. Não como os egípcios, para tentar a imortalidade. Mas como deve ser, definitivamente. Volte as costas ao passado. Olhe apenas em frente. Recorde que o tempo tudo cura.

A morte não é um mal: porque liberta o homem de todos os males, e ao mesmo tempo que os bens tira-lhe os desejos. A velhice é o pior dos males: porque priva o homem de todos os prazeres, deixando-lhe deles todos os apetites; e traz consigo todas as dores. Não obstante, os homens temem a morte e desejam a velhice.

Aprendendo a conhecer os males da natureza, despreza-se a morte; aprendendo a conhecer os males da sociedade, despreza-se a vida.

Portanto, hipocritamente os velhos invocam a morte, / e criticam a velhice e a longa duração da vida: / quando a morte se aproxima, ninguém quer / morrer, a velhice não pesa mais.

Vem morte, tão escondida, / que eu não te sinta chegar, / para que o prazer de morrer / não me dê novamente a vida.

Não é verdade que a morte é / o pior de todos os males; / é um alívio para os mortais / que estão cansados de sofrer.

A pálida morte bate com pé igual nos casebres dos pobres / e nos palácios dos ricos.

Aquilo a que chamo fadiga é a velhice, de que a morte constitui o único repouso.

Moço continuarei até a morte porque, além dos bens que obtenho com a minha imaginação, nada mais ambiciono.

Quem tem a sorte de nascer personagem vivo, pode rir até da morte. Não morre mais... Quem era Sancho Panza ? Quem era Dom Abbondio ? E, no entanto, vivem eternamente, pois - vivos embriões - tiveram a sorte de encontrar uma matriz fecunda, uma fantasia que soube criá-los e nutri-los, fazê-los viver para a eternidade!

A morte surgia-lhe como uma consagração de que só os mais puros são dignos: muitos homens desfazem-se, poucos morrem.

A morte não pode ser pensada, pois é ausência de pensamento. Temos de viver como se fôssemos eternos.

Morte, que mistérios encerras?... Ninguém o sabe... Todos o podem saber... Basta ir ao teu encontro, corajosa, resolutamente, que nenhum mistério existirá já!

Ninguém aqui morre só a sua morte; / é um pouco de nós todos que se vai / e naquele que nasce há um pouco de todos nós / que se torna outro.

Os homens vivem juntos, porém cada um morre sozinho e a morte é a suprema solidão.

[Quando foi perguntado se tinha medo da morte]
Da morte, nunca tive medo. O que não quero é ficar aleijado. Disso sim, tenho um medo que me pelo...

Sobre os amantes e os soldados, sobre os homens condenados à morte, sobre todos aqueles que o poder cósmico da vida preenche, o poder do destino desce por vezes imprevisto numa súbita iluminação que será a sua graça e o seu fardo.

A moda é uma variante oblíqua de se lutar contra a morte. Ora na velhice tal luta é mais problemática. E é por isso que no velho a moda é mais ridícula.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Epitáfio é uma inscrição num túmulo que mostra que as virtudes adquiridas pela morte têm efeito retroativo.

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.