Memórias do Passado
Na solidão do abismo da mente, descobrimos um novo mundo cheio de memorias que não pertencem mais a nos.
MEMÓRIA
Minha avó fazia café bem doce. Talvez, por uma necessidade de se procriar além dos filhos legítimos. Biscoitos na gordura, pão de queijo no forno, bolo de chocolate em cima da geladeira. O cenário aparentemente bucólico escondia guerra das mais matutas em orvalhos e outras fragrâncias. Cheirava a cozinha um cheiro forte do que se come. No quintal, cheiravam as flores um cheiro que se vislumbra. Alimentar dos produtos da casa vigorava a minha carne. Alimentar do beija-flor que tomava o néctar de hibiscos em diversos matizes alimentava a minha alma. O cachorro latia freneticamente. Eu não sabia que o bichinho também comia: a alegria das folhinhas em domingo. Ao pé da jabuticabeira, meu Drummond chorava todos os lirismos nascidos da terra caudalosa, terra de muitas veredas e rupturas. Minha mãe afagava meus cabelos, o pai e os tios viam futebol, a pequena irmã devorava porções de desenhos animados.
Não fosse eu poeta, esta prosa seria pólvora. Não fosse eu poeta, partículas cintilantes de minha vida perderiam na guerra dos tempos que não se curam: saudade.
Em algum canto empoeirado da memória, contorno traços desbotados e refaço em frente ao espelho baço um rosto que já não é meu.
As nossas raízes, cultura, memória e história são fatores fundamentais de preservação, para que não se cometa os mesmos erros do passado.
Guardei o que precisava, encaixotei o que faltava.
Embrulhei lembranças, reordenei memórias.
Assisto tranquila e serena as malas pela casa.
Sentimento de nostalgia, enquanto no silêncio absoluto, me pergunto:
“Quantas vezes já senti esse ambiente?”
Quantas pessoas aqui passaram?
Quantas lágrimas de riso e choro aqui já derramaram?
Quantas conversas geniais e fios soltos aqui ficaram?
Vejo a chuva cair, nessa cidade fria, onde ao anoitecer, parece que ninguém habita.
Sinto esse lugar pelas últimas vezes.
Sinto a alma justificar-me, sinto o cheiro dos amores passados,
sinto o vento socar as janelas, sinto a madrugada fria desafiando o escritor a escrita.
Colecionadores de memórias passadas perdem o tempo de viver o presente e deixam de avançar para o futuro; ficam estáticos, presos em circunstâncias ultrapassadas que não acrescentam mais nada ao momento vigente.
Amnésia é perda parcial ou total da memória. Puxa acho que eu esqueci o que ia escrever. Outro dia me perguntei: “O que jantei hoje”? Eu não me lembrava. Pode ser parcial, quando o indivíduo não recorda temporariamente de seu passado, ou total, quando não há mais possibilidades de se recuperar as lembranças. A amnésia é um mecanismo de defesa do inconsciente, para nos proteger de lembranças doloridas ou mesmo de situações que não queremos reviver.
Forma uma lacuna em um determinado espaço de tempo, diria uma fuga de uma determinada situação. Como senão houvesse atenção aos pensamentos e estes ficassem perdidos ao vento. Detectando a causa da amnésia podem ser iniciados tratamentos para a reabilitação cognitiva, mas modificar alguns hábitos do cotidiano, como prestar atenção ao que se faz também ajuda. Pode estar relacionado com algum tipo de insatisfação que está sendo vivida.
A verdadeira alegria e prazer em estar com alguém ou realizando seus sonhos faz nossa memória se fortalecer, porque o cérebro registra somente aquilo a que a pessoa deu total atenção. Analise e tente corrigir o quanto antes, para que não se torne permanente, vá direto a fonte e resolva as questões pendentes. Não seja vítima, viva o melhor que se possa viver cada dia. Então eu me lembrei, só muito tempo depois ao perceber que a fome batia forte, eu não havia jantado.
O COLAR DE MADEIRA
Encontrei um colarzinho
Com uma letra entalhada na madeira
A memória me levou ao passado
Antes mesmo que eu pudesse respirar
Outra vez eu tinha 17 anos
A menina cheia de sonhos
Com tantos planos
Mas sem sabedoria ou maturidade para poder realizar
Um sorriso tomou conta do meu rosto
O "Para sempre e mais um dia"
De alguma forma parecia ainda estar lá
Eu sabia que longos anos haviam passado
Mas aquela parte da minha alma
Tinha permanecido no mesmo lugar
Eu me lembrei de ter um jeito doce
E também de como as vezes
Eu parecia ser outro alguém
Respirei como que num suspiro engasgado
Um arrependimento sincero veio em meu peito
Senti a dor da culpa e do remorso
Por ter ferido quem na vida tanto me quis bem
Apertei aquele pedacinho de madeira entre os dedos
E onde havia um sorriso
Brotou uma lágrima no lugar
É triste não poder voltar no tempo
E cada um dos erros cometidos
De alguma forma poder consertar
É duro quando o tempo faz a gente refletir sobre tudo
E num solavanco faz nossa realidade desmoronar
A gente se dá conta da fragilidade das nossas histórias
E de como um vacilo faz tudo que a gente planeja
De pouquinho em pouquinho se acabar.
Sentei no chão com um nó na garganta
Meu coração pareceu parar por um instante
E eu me dei conta de quem me tornei
Posso ter aprendido lições importantes
Hoje sou meu reflexo mais admirável
Mas o preço dos erros cometidos foi caro
Custou-me o amor de quem na vida mais eu amei.
Em todas as gavetas da minha memória acabei encontrando a sua presença no sorriso dos acontecimentos que anunciavam a minha maior alegria: te encontrar.
Pensando na vida entendi que não podemos nos prender ao que já passou, nem trazer à memória momentos tristes e deprimentes, a vida é curta demais para sermos escravos do passado.
Acredito no amor, no perdão e que a vida é frágil, não sabemos se daqui alguns minutos estaremos vivos, então enquanto houver fôlego, viva! Supere e siga em frente, a rosa não deixa de ser bela apesar dos espinhos, que sua vida seja bela apesar dos obstáculos e lutas, vale a pena sorrir e sonhar...
Rodoanel do coração
Translucida memória,
fotografia do tempo...
Apagada na história,
Do meu pensamento...
O passado é uma lanterna...
Que ilumina o meu caminho,
O presente me da pernas...
E eu não caminho sozinho.
Passa tempo, passa vento...
E o mundo a girar.
Na esquina do futuro...
Ainda hei de te encontrar.
Sem memória
Dedico a alma do ontem sem memória do acaso Estou junto com a saudade Longe do perfume que exala meu coração Quero poder estar com o toque suave da canção da poesia Meu coração anseia por ti a espera do momento em memória Trago comigo o gosto da manhã Sinto o cheiro suave de hortelã
* * *
Vem a aurora Vem a saudade Vem a dor aguda na mente sem consciência Não vou pensar Não vou sofrer, abro os braços em direção a vida Sento e espero a resposta, vejo o sangue correr sem pressa e sinto minha alma Levitar em meditação ao cosmo. Com vibração ao infinito anseio a espera da luz
Moça
Estás presa em si mesma,
em memórias e dilemas.
Então porque não busca
agora, uma nova esperança?
Estás sem vida, moça agora,
onde esta o seu sorriso?
A felicidade que te cerca,
pode ser um paraíso.
Estás presa no passado,
um passado bem distante.
Fuja deste moça, agora!
Reencontre seu sorriso.
O passado que te cerca,
este não existe mais.
Fuja deste moça, agora!
e encontre outro rapaz.
Certas memórias são sagradas, gosto de revisitá-las. Mas, ando por suas ruas em silêncio, pra não acordar o passado.
A memória não é apenas uma pedra com hieróglifos entalhados, uma história contada. Memória lembra dunas de areia, grãos que se movem, transferem-se de uma parte a outra, ganham formas diferentes, levados pelo vento. Um fato hoje pode ser relido de outra forma amanhã. Memória é viva. Um detalhe de algo vivido pode ser lembrado anos depois, ganhar uma relevância que antes não tinha e deixar em segundo plano aquilo que era então mais representativo. Pensamos hoje com a ajuda de uma parcela pequena do nosso passado.
Pelas ruelas de minha cidade, a memória quando criança. Vêm um furacão na mente, recordando boas lembranças. Retomo ao meu passado, em Sobral com seus sobrados. Um jovial mundo da esperança.
..."O bom de ter amigos de infância são as memórias e a sensação nostálgica de nunca ficar velho." ... Ricardo Fischer