Me Ame quando eu menos Merece

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Ficar amarrado à vida alheia faz você viver menos a sua. Nada de se fazer de desentendida, só para não se incomodar. Incomode-se. Dependência é morte.

sou uma mulher mais ou menos
abandonada
um pouco me dou o direito
um pouco aconteceu assim

às vezes cansa ser independente
hoje me sustente não me deixe me alimente
quero alguém para pentear meus cabelos

sou uma mulher mais ou menos maltratada
um pouco por descuido
um pouco por querer
gosto da impressão esfomeada
às vezes cansa ser milionária
quero sair das páginas dos jornais
hoje me adote me faça um carinho deboche
me ponha no colo e abotoe minha blusa
me faça dormir e sonhar com o mocinho

sou uma mulher mais ou menos alucinada
um pouco foi o acaso
um pouco é exagero
hoje me expulse se irrite me bata
diga abracadabra e me faça sumir
às vezes cansa ser louca demais
mas gosto do medo que sentem
de se envolver com uma mulher assim
hoje quero alguém mais ou menos
apaixonado por mim

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Vivamos, seja.
Mas façamos com que a morte nos seja progresso. Aspiremos aos mundos menos tenebrosos. Sigamos a consciência que nos leva para lá.

O mundo seria menos adorável sem mentiras.
O ser humano é movido a ilusão.

Sem Chico, as mulheres não seriam tão bem cantadas e sem Caetano teria menos beleza a poesia...

Quanto mais você faz pros outros, menos te dão valor.

Chore menos e ria mais.
Tenha menos medo, sonhe e arrisque mais.
Lamente menos e agradeça mais.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.

Os sentimentos que você não consegue evitar, são os que você menos quer sentir. Não é?

O homem é muito menos passível de ser modificado pelo mundo exterior do que se supõe. Só o tempo omnipotente exerce aqui o seu direito.

A gente enfeita o cotidiano — tudo se ajeita. Menos a morte.

Não sou uma gaiola para te prender, nem muito menos tenho uma boa tesoura para cortar suas asas, minhas tesouras mal cortam papel. Acredito em liberdade, como também acredito que não são os pés e as mãos livres que a nos dará.

Você quer, mas nem ao menos tenta. Realmente não espera que se realize, não é?

Sonhamos demais com o paraíso, ou ao menos com uma série de paraísos sucessivos, mas cada um deles é, muito antes de morremos, um paraíso perdido, no qual devemos nos sentir perdidos também.

Pense menos no que é, e pense mais no que pode ser. E vá atrás disso.

Podemos comandar algumas vezes nossos atos. Comandamos um pouco menos nossos pensamentos, e não comandamos absolutamente nossos sonhos.

O resultado disso tudo é que vou ter que criar um personagem – mais ou menos como fazem os novelistas, e através da criação dele para conhecer. Porque eu sozinho não consigo: a solidão, a mesma que existe em cada um, me faz inventar. E haverá outro modo de salvar-se? senão o de criar as próprias realidades? Tenho força para isso como todo o mundo – é ou não é verdade que nós terminamos por criar uma frágil e doida realidade que é a civilização? essa civilização apenas guiada pelo sonho. Cada invenção minha soa-me como uma prece leiga – tal é a intensidade de sentir, escrevo para aprender.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Aqui quem menos corre, voa, aqui não tem marcha lenta
Aqui só tem cientista, o que não existe nós inventa

Charlie Brown Jr

Nota: Trecho da música Eu vim de Santos, sou Charlie Brown.

Enquanto as pessoas são mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem compô-la juntas e trocar os motivos, mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras estão mais ou menos terminadas, e cada palvra, cada objeto, significa algo diferente na partitura de cada um. (A insustentável leveza do ser - parte 3: As palavras incompreendidas)

Libertar uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Doidas e Santas. Porto Alegre: L&PM, 2008.

Nota: Trecho da crônica "Falar"

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