Martha Medeiros Homem e que nem Biscoito
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião
a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco
porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
era uma vez um gato chinês
que me chamou para comer um frango
xadrez
no boteco onde ele era freguês
e eu, como gata vadia
topei porque sempre podia
e fiz dele meu prato do dia
Cada vez que nos apaixonamos, estamos tendo uma nova chance de acertar.
De fato, Deus não está em promoção, se exibindo por aí. Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. (...)
Deus me aparece nos livros, em parágrafos que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano. (...)
Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer.
Vai ou fica? Arrisca ou Espera? Aceita ou recusa? Que o destino, de vez em quando, decida por nós. A gente merece uma trégua.
Quem dá brilho ao nosso olhar é a vida que a gente optou por levar. Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe-se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter.
Pois, diante desse imenso ponto de interrogação que é o futuro de todos nós, reformulei minhas crenças: estou me dando o direito de não pensar tanto, de me cobrar menos ainda, e deixar para compreender depois. Desisti de atracar o barco e resolvi aproveitar a paisagem.
Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem.
É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.
Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos – aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana.
(Crônica Outro tipo de mulher nua)
Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. (...) Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.
Nota: Trechos da crônica "Dentro de um abraço"
...MaisMorre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. (...)
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem passa os dias reclamando do seu azar ou da chuva incessante. (...)
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar.
Nota: Adaptação de trechos da crônica "A Morte Devagar", de Martha Medeiros. Muitas vezes é erroneamente atribuída a Pablo Neruda.
...MaisAinda bem que existem amigos para amar, abraçar, sorrir, cantar, escrever em recibos e tirar fotos bonitas. E a vida segue. Feliz. Sua imaginação te preenche, seus amigos te dão colo, vodka e dias incríveis.
A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito,
que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil.
Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto,
e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui.
E dizem que sou inteligente, e a burrice do mundo é tanta que deixo a modéstia de lado e concordo.
