Luta e agradecimento
A inspiração vem da dor, sempre da dor... Cada gesto de escrita nasce de uma ferida fresca ou de um hematoma emocional, sem essa dor, minha voz se calaria. Reconhecer que só a angústia me impulsiona a criar é aceitar que a beleza de cada frase vem acompanhada do sabor amargo de lembranças que preferiria esquecer.
Existem pessoas dignas de pena, e isso é uma coisa muito triste. Quando alguém me olha com pena, sinto que perdem o respeito pela minha história e enxergam apenas a figura fragilizada. Essa “solidariedade” envenena mais do que auxilia, pois revela preconceito velado, acham que minha existência se resume ao sofrimento, e não ao ser humano que ainda resiste.
A sensação que me dá é que, nas minhas costas, carrego todo o peso da alma, caminhando sozinho. Meus pensamentos se perdem no ar. Carrego memórias de um corpo que não responde e de dores que não cessam, como se estivesse forçado a suportar
um universo inteiro de angústia sem trégua. Mesmo quando falo, sinto que minhas palavras se desfazem antes de alcançar alguém, pois o mundo se move tão rápido que minha dor soa inaudível no eco da normalidade alheia.
A escuridão não é a ausência de luz. É algo muito mais complexo. Eu já estive lá várias vezes, aliás, ela, de vez em
quando, vem ao meu encontro. Mas, mesmo nas sombras, eu sei que Deus está sempre comigo, nunca me
desamparou. Mesmo na escuridão completa, segura a minha mão e me mostra o caminho. A ausência física de claridade simboliza apenas a fração visível do que sinto, há uma densidade sombria que engole sentido e esperança. Porém, a percepção de uma presença divina me faz acreditar que existe, mesmo no ponto mais escuro, uma mão invisível capaz de me guiar quando minhas forças falham.
A hipocrisia está em todo lugar, em todos. Eu a carrego também, de certa forma, mas, ao perceber, tento injustificadamente me alinhar aos princípios que alguém hipócrita nos deu de herança. Vejo hipocrisia nos olhares que disfarçam repulsa de compaixão, e reconheço traços dela em minhas próprias ambições frustradas, querer ter um dia de paz, mas manter
meu rancor como combustível. Tento me policiar, mas sou parte desse ciclo, recebi valores enviesados de gente que, ao pregar bondade, agia de maneira oposta.
Existencialmente exausto. Cada nova manhã exige de mim uma façanha maior do que no dia anterior, levantar da cama parece um esforço incompatível com minha realidade física e emocional. Essa exaustão não se resume ao corpo cansado, mas se multiplica na mente, onde a luta contra pensamentos deprimentes consome qualquer resquício de energia que eu ainda guardasse.
Chorar não adianta mais. Eu e meu choro fazemos companhia um ao outro.
Já chorei até não sentir mais nada, as lágrimas se esgotaram, deixando apenas um vazio duro. Hoje, o choro é como um amigo que visita minha face sem quase derramar gota, ele lembra o tanto que tentei e falhei em encontrar alívio na própria tristeza.
Somos uma máquina perfeita, funcionamos quando todos os componentes estão saudáveis. O cérebro começa a falhar, e todo o corpo sofre, todo o corpo falha. Quando doente, percebi quão frágil é essa “máquina perfeita”. Cada célula agonizante reverberou em dor física e mental, lembrando-me que a dependência mútua entre corpo e mente torna qualquer lesão em um colapso sistêmico.
A solidão pode ser a cura de vários males. No isolamento forçado pelos leitos de hospital, encontrei uma retidão brutal, sem distrações, minha mente enfrentou cada trauma sem disfarces. Foi nesse vazio que reconheci o valor de estar só, lá, sem máscaras, pude confrontar o que me assombrava e, por um breve momento, aprender a me reconstruir sem a influência corrosiva dos olhares alheios.
Nascemos sem ter um futuro certo, sem saber o que haverá se porventura, tivermos um amanhã. Nossa vida é uma incógnita, agradeça todo instante a Deus, ou a qualquer força maior em que acredita. A vida é, por si só, um sopro. Aprendi, da forma mais cruel, que qualquer garantia de futuro se desfaz num segundo, meu “amanhã” virou promessa vazia. Agora, cada respiração é preciosa, pois reconhecer que existo é um milagre insistente, sustentado apenas por uma fé que teima em não me abandonar.
Não existe idade para recomeçar, o importante é que a mudança começou. Mesmo com cicatrizes profundas, descobri que cada etapa da recuperação, seja da fala, dos passos ou da esperança, é um recomeço. Não importa se os ossos não se curaram como antes, a coragem de tentar um passo novo, no instante exato, revela que a jornada renasce a cada esforço, sem data para terminar.
A intolerância chegará a tal ponto que as pessoas inteligentes serão impedidas de fazer qualquer reflexão para não ofender os imbecis.
Vejo no rosto das pessoas o desejo de julgar-me sem conhecer minhas lutas, qualquer pergunta sensata sobre meu estado gera desconforto, pois confronta uma realidade que preferem ignorar. Nesse cenário, minha busca por entendimento e diálogo se tornam silenciadas, o medo de “ofender” alimenta intolerância ainda maior.
Um passo, por menor que seja, são quilômetros de evolução na vida de quem ficou por muitos anos estagnado.
Além de sermos protagonistas das nossas próprias histórias, com lutas, derrotas e conquistas, compartilhamos um palco comum onde todos têm a mesma relevância.
Quanto mais percebo a tristeza em meus dias, mais transformo essa dor em arte, criando esperança para combater esse mal no mundo.
São Paulo | A capital que nunca dorme.
Terra de arranha-céus, a selva de concreto,
Terra de belos parques, gigantes a céu aberto.
De cultura gratuita e seus tesouros secretos,
Do conhecimento ao seu alcance, sempre tão perto.
Terra da chuvinha, a famosa garoa,
Terro do frio aquecido por tanta gente boa.
Da Liberdade, seja o bairro ou para o povo,
Da diversidade, do sushi ao cuscuz com ovo.
Terra da correria, nunca para, não descansa,
Do trampo, do corre, de muita força e esperança.
Terra que acorda o sol com pingado na padoca,
Dos vendedores de sonhos, do iPhone à paçoca.
Do sanduíche de mortadela,
Das cores vivas do Mercadão,
Dos rolês que incluem a todos,
Da Paulista ao Minhocão.
Do doce sabor da gastronomia,
Da Trufa, brownie, brigadeiro,
Das milhões de pizzas na Mooca,
Do pastel de feira o dia inteiro,
Do brigadeiro Luís, que vai do Ibirapuera até a Sé
Do pai de família que vai trabalhar a pé
Da coletividade que fortalece na luta,
União dos manos, “tamojunto’, é 'nóis', meu truta!
Leste, Oeste, Sul ou Norte,
Mistura de sotaques, é nosso ponto forte
Grafitti nos muros, jazz na calçada,
São Paulo é arte bem compartilhada,
Aqui em SP até os heróis vêm passear,
No Beco do Batman, vão pra relaxar.
Coração do Brasil, do caos e da paz,
Quem pisa aqui não quer ir embora jamais!
