Lixo de Amor
Ela que se dizia esperta, cheia de planos e conceitos, na verdade sentia um vazio enorme dentro de si. Então se olhou no espelho e viu a criança boba com laço amarelo na cabeça que nada sabia da vida e tanto queria explorar. Ela era tão pura quanto os olhos amendoados. Olhou-se no espelho e enxergou exatamente o que queria ver: O começo. Ela queria ser aquela menina boba que desenhava balão no caderno da escola, que decalcava coração grande e o pintava de vermelho sem pensar nas cicatrizes.
Quando criança, gostava de admirar as coisas até os olhos brilharem de encantamento. Mal comia biscoito na hora do lanche do colégio, por exemplo, porque achava impressionante o formato de coração que tinha. Guardava os detalhes, era feliz por isso. Tão inocente, se apaixonava fácil pelas coisas.
Não se lamentar pelo que não deu certo. Não ficar querendo voltar ao passado. Não viver só para o futuro. Enxergar o lado bom do presente, do agora. Não querer consertar o que sempre será errado. Não se perder e se prender aos problemas. Nem sofrer por bobagem. Amém.
Fale de mim pro seu psicólogo. Diga pra ele que eu incomodo, que eu te dou agonia. Não quero ter esse status de enlouquecer sozinho.
Você foi por uma rua sem retorno, pisou em algum poço fundo e escuro. Correu na contramão, não quis seguir placas. E eu me perdi em algum lugar no meio do caminho. Nos desencontramos.
A Ilusão da Tristeza é a carência de si mesma
E a loucura que nasce do seu ventre,
São bárbaros feitos de vidro.
Ele é lindo de formas inexplicáveis. Faz arrepiar num simples sorriso. E doído, tão doído. Tadinho. Vez em quando penso que ele precisa de amparo, sabe? É um homem feito, tem até barba. E mesmo assim vejo ele tão menino, tão sofrido.
Eu ficaria esperando se você ficasse também. E largaria tudo no mundo, diria o que você não diz. Escreveria versos, seriam quase um protesto só pra te ter aqui.
" Começamos a amar alguém, quando enxergamos seus defeitos porém não julgamos; admiramos suas qualidades e percebemos que aquilo que faltava em nós, está na pessoa amada. "
Dei pra te imaginar nos lugares e fotografar o momento, foi a solução que encontrei pra diminuir esse caos dentro de mim.
Naquele barzinho, havia alguém comentando sobre algo que me levava até você. Não consigo especificar o que foi. Só existiam vozes eufóricas, risos altos e você passeava entre elas. São rotineiras essas buscas inconscientes que te trazem quando menos espero.
Bem ali, na frente de todo mundo, me puxou para perto e me beijou. Foi tudo muito rápido. Ainda que parecesse em desordem e sem resposta, ainda que eu não entendesse nada, naquele momento, tão perto e aparentemente obsceno, eu não podia negar o fato de que tudo também parecia certo.
Daí também eu preciso ficar um pouco só, me afastar de algumas pessoas. Preciso me renovar de alguma forma.
É triste, muito triste essa sensação de não ser nada, não pertencer a lugar nenhum e não ser de ninguém.
Em vez disso, teatralmente, sorri de forma educada e continuei a comer. Não queria demonstrar que estava tudo fora do lugar, que eu estava mal com tudo aquilo. Não queria que ele tivesse pena de mim.
E foi aí que eu o vi. Num canto, no meio da multidão. Tinha a beleza de uns olhos perturbadores, uma agonia. Me apaixonei por aquele caos.
Parte de mim, a mais forte, queria gritar diante aos olhos dele que eu não aguentava essa distância. Eu queria fazê-lo sentir o mesmo desespero que eu sentia. A outra parte, a mais estúpida, queria que eu me calasse como eu sempre fiz.