Lixo de Amor
Esse mundo novo ainda é obscuro, como meus pensamentos. Mas quando o clarão da verdade, do novo, vier sobre meus olhos, espero ver você ainda na minha vida .
Na verdade, estou sentindo algo novo. Quando estava no fundo do poço, na mais obscura solidão, esperando que outra pessoa me salvasse, aparece você, um príncipe encantado no cavalo branco sobre o luar.
Só você me olhou nos olhos e me disse exatamente o que eu precisava naquele momento, e me fez o carinho, que creio eu, seja o melhor do mundo. Aquele que eu sempre dei mas nunca recebi. Meu coração confuso, deve se entregar ou deve se guardar? é difícil responder quando as estações estão mudando.
Ainda sinto falta da ponta do teu nariz frio mesmo em dias de verão, e do seu pescoço sempre quente e pronto para esquentar minhas pernas no inverno. As tardes ainda esperam as gargalhadas despreocupadas com sorvetes, e as noites aguardam ansiosas pelo cheiro da pizza de calabresa e a admiração como meninos bobos por céu estrelado
Eu soletro teu nome no escuro. Treino textos sem sentido para me declarar depois. Ouço sua voz ecoar pelos cômodos da casa. Ascendo a luz, mas não há ninguém.
Nunca tinha vivido uma história tão intensa, nem tão bonita, de arrepiar. Nunca havia me doado tanto, acreditado tanto, como essa agora.
Então eu banquei o sincero e te disse que o que me sufocava era essa demora, esse seu medo de iniciar o que já havia começado.
Sofria de uma doença grave e sem cura chamada romantismo-sem-endereço. Amava quem ainda não se fazia presente, inventava planos, falava ao telefone sem ter ninguém na linha. Sonhava com um sujeito sem rosto, sem tato e sem voz. Criava uma vida, uma personalidade, umas histórias conturbadas, e vivia disso. Vivia das manias, dos defeitos e de umas brigas que nunca existiram. Admirava gravatas nas vitrines. Dizia um sobrenome de casamento. Guardava presentes na gaveta, colecionava cartas que mandava para si próprio. Nunca trancava a porta do quarto antes de dormir. Escrevia para ninguém. Chamava e esperava o futuro para que assim fosse.
E eu fico lembrando do seu jeito sério e suas palavras cuidadosamente escolhidas no momento em que o silêncio prevalece entre nós. Eu dou risada dessa sua cara porque essa coisa de melhor amigo, no nosso caso, nunca fez sentido dentro da minha cabeça.
Havia um pouco da gente em cada canto. Havia a gente. Era tanto, que eu não sabia distinguir você de mim.
Ainda sinto meus cílios dormentes, porque forço meus olhos, para que eu não adormeça, para não deixar de pensar em você.
E para que não doesse demais, deixei que o tempo resolvesse por si só. Não fazia mais o mínimo esforço para dar certo.
Às vezes passa só um pouquinho. Mas aí volta mais pesada, dolorosa, sem dosagem. Nenhum ser humano é capaz de aguentar. É uma dor desocupada, amargurada, infeliz. Me mata todos os dias.
Daí depois veio com aquele papo que eu apareci na hora errada, que eu era especial demais, que não queria me fazer sofrer. Mal sabia que eu já havia me entregado tanto, e que, a essa altura, não tinha mais volta.
Demorou, mas os ventos de maio chegaram. Espero que levem o que for contrário, desde sonhos quebrados até o que já se foi, mas insiste ficar. É preciso escancarar portas e janelas, reaprender a viver, a amar, a se doar com cuidado, com fé, sem angústia. É preciso aproveitar os ventos para se buscar, se renovar de alguma forma, ignorar quem não acrescenta. E, se não for pedir demais, é preciso comandar completamente a própria vida, começar esses dias se amando insaciavelmente.
Depois apareceu dizendo que tinha arranjado um namorado novo, que estava cheio de planos, que nunca tinha sido feliz como agora. E eu pedia por dentro pra que esse não sofresse tanto quanto eu.
Às vezes eu penso que você deve ler as coisas que eu escrevo, ao lado de alguém, e deve ficar rindo da minha cara.