Limpar a Casa
A maturidade nos mostra que a moradia dos pais, será sempre asa que acolhe, mas não mais casa que more.
A assinatura que compra, vende! Que casa, divorcia! Que contrata, destrata! Que admite, demite! Que paga, recebe! Que concorda, discorda! Que confirma, cancela! Mas nunca será a assinatura que nasce, morre.
O abraço é como a paz que acalma
É como a casa que abriga
Semelhante ao Espírito que consola
Igualmente ao fogo que aquece
Parecido com a água que preenche
Lembra muito a internet que conecta
Similar a eletricidade que energiza
CIGARROS QUE NÃO FUMO
Antes de sair de casa eu disse e redisse:
Até logo, eu volto já
Ao meu lar,
Vou só ali ao quiosque comprar
Cigarros,
Escarros,
De grumo
Que não fumo.
E fui ao quiosque da esquina
Do meu esquinal
E, não me levem a mal:
Foi aí que encontrei
E desejei
Uma mulher pequenina
A vaguear no seu andar sem rumo,
Junto ao quiosque do meu fumo,
Que ficava naquela esquina.
Intestina
Da minha esfumada sina
Que já foi de nicotina,
Mas ao conhecer a pequenina
Deixei tão amarga amarra
O fumo, ao som de uma guitarra.
Farra,
Louca por amar
E nunca,
Nunca
Mais voltei ao meu lar...
(Carlos De Castro, in Poesia num País Sem Censura, em 05-08-2022)
OUTONO SEM CASA
Toda a vida eu sonhei
Construir uma casinha
Como só eu sei,
Numa bela arvorezinha
E fazer dela o meu trono
No agora vindo outono.
Que ilusão esta a minha,
Ó sonho louco e fugaz!
Nem árvore nem arvorezinha
Ou casa ou minha casinha,
Utopias que a vida traz.
Na montanha, tudo ardeu,
Tudo queimou e até eu
Como pássaro que fica sem asa,
Como cão que fica sem dono,
Ficarei sem aquela casa
Que quis construir neste outono.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 24-09-2023)
O VENTO A ÁRVORE E A CASA
Tarde de sábado.
A depressão do tempo castigava.
Agora, chamam depressão
Ao tempo mau que faz.
Porque não!?...
Mas o vento é sempre rapaz
E as árvores também femininas
Quanto velhas mais meninas.
Com a diferença que o vento
Tem agora mais lamento
E as árvores amém,
Nestas tardes sem ninguém.
O vento soprava,
A árvore balançava
Sobre a humilde casa.
Era aí que ele habitava,
Um homem pobre,
De rosto nobre.
Invocou os deuses dos ventos
E dos contratempos
A ver se a borrasca amainava.
Qual quê!?...
O vento insistiu,
A árvore caiu
E a casa humilde ruiu.
E ele deixou de acreditar
Nos deuses dos ventos
E contratempos.
Abriu os braços e pôs-se a voar.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 29-10-2023)
Saudades de quando um otário e um pilantra precisavam sair de casa para se encontrarem e fazer negócios.
Ai de vós, que vos importais mais com a fachada da vossa casa do que com a Catedral do Espírito Santo.
Antes saíamos de fininho de casa para irmos à festa, agora saímos de fininho da festa para irmos para casa.
...
Entediado resolve sair de casa, a chuva está fina, está pensando em fazer algo que ainda não fez. Anestesiado, encontra-se com um amigo que o abraça e diz:
-Sinto muito pelo ocorrido. Vamos ao cemitério, lá em frente tem um pessoal vendendo flores para nós colocarmos sobre o túmulo dela.
Seus olhos lacrimejam, e ele descobre que finalmente chegou o dia de dar-lhe flores.
Dona felicidade e irmã Gratidão resolveram morar na mesma casa.
Assim, a infelicidade e a ingratidão se darão muito bem juntas, mas em outro ambiente.
