Lili Inventa o Mundo - Mario Quintana
Silêncios que Gritam
Me sinto como peixe fora d’água,
sufocando em um mundo onde o mar se afastou de mim.
Luto sozinha por algo que só eu quero,
enquanto o outro apenas respira sem me notar.
Cansei.
De dar, de esperar, de me doar até não restar nada.
Só eu estou aqui, amanhã após amanhã,
tentando salvar o que nunca foi meu.
Por trás do meu sorriso,
vive um grito de socorro que rasga minha alma.
Meu coração chora calado,
mas ninguém vê — só eu ouço o eco.
Num planeta com mais de 8 bilhões de corações,
fui amar justo o que não liga para o meu.
Queria ser vista nos detalhes,
amada sem precisar implorar.
Desejada como um sonho que vira verdade,
receber carinho sem pedir,
atenção sem gritar,
e amor... sem dor.
Essa terra é dura com as pessoas. Não dá pra impedir as mudanças. O mundo não lhe dá esse privilégio. É vaidade.
Enquanto o mundo desmoronava, cada um de nós desmoronava junto. Era difícil saber quem estava mais louco. Eu ou todos os outros.
Quando todo mundo vai, Jesus fica
Quando não tenho saída, Jesus me guia
Quando eu mesmo duvido de mim, Jesus acredita
Quando eu mesmo me odeio, Jesus me ama
O mundo está tão indiferente.
Parece que ninguém significa nada um para o outro.
O que vemos é amor e amizade por interesse ou conveniência.
E, no momento em que você deixa de servir, é descartado… como se não houvesse nada dentro de você.
Hoje, o medo é tão grande que eu mesma afasto as pessoas.
Não permito que se aproximem, que se tornem íntimas — e faço isso sem perceber.
Quando me dou conta… continuo sozinha.”
A gente tem que deixar nossa impressão digital no mundo. Tem gente que morre e tem gente que não morre. Os mitos não morrem. As estrelas não morrem.
(Raul Seixas)
Sê tu pessoa de bem, mesmo que o mundo não lhe dê nada de bom, mas sem permitir que te façam de bobo.
Aos dezenove anos é normal querer salvar o mundo, se sentir perdido na vida e ter que contar o dinheiro para pagar uma garrafa de cerveja – tudo isso ao mesmo tempo.
De repente, parei e me lembrei dela.
Lembro de quando ela sorria, e o mundo ao redor ria e entrava em uma profunda euforia.
Era difícil não ficar.
Seu olhar contagiava, e sua voz suave
fazia o mundo parar e se acalmar.
Era tão belo o jeito que ela falava,
suas palavras eram pura poesia.
As pessoas mergulhavam nelas e se afogavam.
Eu a admirava tanto que me sentia bem,
fazendo com que esquecesse da impureza do mundo
por causa do homem.
Era tão pura, tão linda...
Ela nem sabia,
mas essa parte dela seria como uma corrida.
Pupilas sempre dilatadas,
sorrindo para quem não valia nada
e sempre sendo uma pessoa amada.
Ela não sabia por que as pessoas implicavam tanto com ela.
Por mais disso, com elas ainda era tão bela.
Para ela, o mundo era colorido e divertido.
Não queria que ninguém tivesse o coração partido
ou se sentisse chateado.
Com sua inocência e felicidade,
as pessoas a tiraram dela.
E, conforme a idade, foi tendo uma profunda infelicidade.
Ela não sorria tão genuinamente como antes,
não via o mundo de tal forma como antes
e já estava cheia de cicatrizes.
Até então, ouvi alguém chamar pelo meu nome.
Parei de olhar pro espelho
e segui o barulho.
Eu era agora alguém que nunca quis ser.
E talvez quisesse parar de crescer,
parar em um lugar, adoecer ou enlouquecer.
Mas sabia que não podia deixar
a pessoa que antes eu era
se chatear.
Por mais que estivesse acabada,
sorri e fiquei com ela em mente.
Segui em frente.
Ela não tinha ido. Estava ainda ao meu lado,
sorrindo o tempo todo. Estava orgulhosa,
como se eu nunca a tivesse decepcionado.
Ela era minha pequena eu.
E, diferente de mim,
nunca se enfureceu ou se perdeu.
Segurei sua mão,
ajeitei a postura
e segui com o seu coração.
