Italo
O amor não é um sentimento. Não se trata de algumas cócegas no peito ou lá embaixo. Os sentimentos e as cócegas e o friozinho na barriga são partes do relacionamento, e não sua substância. O amor de que falo aqui é a substância e estrutura da vida humana. O amor é o desejo de preservar a pessoa amada, e junto dela experimentar a eternidade. Com isto, recruta-se imediatamente no seu peito uma responsabilidade, e você faz de tudo para que o outro subsista. Para que ele permaneça e continue.
O sujeito que só pensa no corpо е em conseguir aquela barriga tanquinho, todo vaidosão, ao menos está fazendo menção a algo que é superior de fato; pois a beleza é superior à feiúra. É algo que acaba mas carrega algo de superior. Portanto, nesse sentido o fútil é muito superior ao cara desapegado do corpo.
Não se trata de escolher a pessoa certa; trata-se de fazer as coisas certas com a pessoa que se escolheu.
Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte dele até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e abrir espaço, fazê-lo durar.
Sou o que sou e ninguém pode mudar isso, não devemos medir os outros com a mesma régua que somos medidos.
Já te disseram quantos não? E se tivesses ouvido? Reparou? Nem tudo está perdido, só depende da forma que encaramos os não e os transformamos em oportunidades para um belíssimo aprendizado.
Hoje é o aniversário da execução
de García Lorca e se alguma coisa
mudou desde então, foi pra pior
eu estou na Central do Brasil
esperando que alguém me ligue
com uma notícia boa
não tenho vontade de voltar para casa
não tenho vontade de ir trabalhar
não tenho vontade de quase nada
e espero me apaixonar nos próximos minutos
há qualquer coisa de perverso em tudo isso
penso em Antônio Conselheiro
e em seu cadáver profanado
a santidade do mundo
é sempre mais perigosa
que qualquer diabo
uma vez o eremita me sorriu
em uma carta de tarô e desde então
tenho colecionado abandonos
ocorre-me que talvez estejamos
vivendo o apocalipse
você não acreditaria que eu sigo
mentindo e que agora as mentiras
são quase bonitas
apenas porque morremos:
a beleza.
apenas porque morremos
o sol voltará amanhã
exigindo que ao menos
um
de nós
tente de novo
você não acreditaria nas coisas
que tenho tentado provar –
a libido, o corpo, o frio
(sobretudo o frio)
você não acreditaria que
apenas porque morremos
as coisas ainda brilham
que apenas porque morremos
ainda somos necessários
Havia crescido
e era definitivo:
já tão banal o forte gosto
da aguardente
de velhos tempos coisa alguma
nem o corpo
também a pele manifesta seu devir
extingue-se, camaleoa
de máscara em máscara
o bruto corpo da árvore castigada
ao cair das folhas.
Cresci
perdi castelos e pudores
perdi sorrisos, sim
perdi favores
deixei aos sóbrios a vitória
sobre o tempo
ganhei silêncios & temores
ganhei revolta
quando mais queria calma
ganhei suor e não o pão
ganhei o Ar
a plenitude do hemisfério
a anarquia nos trópicos
ganhei perdi
ganhei & perdi
uma metralhadora de espantos
em eterno ir e vir
Sonhei com uma cidade submersa
que desconhecia luz e era habitada
por estranhas criaturas fluorescentes
que sentiam fome e amor,
mas sobretudo fome, e adornavam
as almas com cantos de guerra e
silêncios rompidos à chibata
mas havia alma e isso bastava
porque na superfície nós não tínhamos
nem isso, e o sonho desdobrava-se
num turbilhão de imagens em
que eu via o amor ser inventado
e escurecer e as trevas eram tudo
e eu dormia e desesperadamente
sabia que ninguém viria coroar
minha agonia porque acordávamos
todos os dias e quem quer que
quisesse viver teria de saber
que aqui não se sonha, não,
não se sonha sem custo
e o meu custo, tão doce e terrível,
era a loucura daquela cidade
que já desaparecia outra vez
e a insuportável luz volvia
com a realidade e tudo
o que se podia fazer era secar
os olhos e observar o sol dormir
atrás do mundo
Eros manda avisar
que não habita parlamento
Que o amor não é
uma social-democracia
Que onde dois são dois
a discórdia faz ninho
Que o livre-arbítrio
é a desculpa da apatia
Que o tirano e o escravo
são gêmeos siameses
Melancolinear
Tenho os dentes
amarelados
e sempre que posso
mantenho-os todos
na boca fechada
sorrindo sem eles
estilo contido
e me envaideço
de minha proeza
porque não sorrir
nunca matou
ninguém
Viva a vida
Viva a vida, porque hoje você é humilhado e amanhã é exaltado. Mas viva sem desandar, sem pisar em ninguém, porque hoje você pisa e amanhã o mundo pode te atropelar, é sempre assim. O certo é certo e o errado é cobrado, mas não viva com medo de algo ou alguém do passado, viva, mas viva como se fosse morrer hoje, e aprenda sempre como se fosse viver eternamente, acreditando que daqui pra frente vai ser tudo diferente e que tudo vai se tornar algo que você nunca podia imaginar. E todos que te julgaram, criticaram e pisaram em você vão se impressionar com o ser humano que você veio a se tornar ao longo do tempo, por cada dificuldade, por cada momento difícil e intenso que você teve que passar para um dia sua grande vitória conquistar. Então nunca, jamais, deixe de lutar porque no mundo sempre vai ter alguém pra te desanimar, mas, em meio disso tudo, você vai encontrar alguém a quem amar e por você lutar e apoiar, e na sua grande batalha do dia a dia ela te erguer e te ajudar, na caminhada da vida um futuro poder encontrar e com muita fé e luta a vitória vocês poderem desfrutar.
Para admirar a beleza implícita em um poema, faz se necessário ler as tristes entrelinhas, esquecidas, incompreendidas, esdrúxulas, mas que fazem todo sentido. Aí está o encanto do rico texto, a confusão que levara o autor a compor mais bela obra.
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