Hoje o Tempo Voa Amor
Creio que conviver comigo seja como andar de montanha-russa: ao mesmo tempo em que sou previsível, te surpreendo num piscar de olhos.
Nascemos puros, livres, ingênuos. Com o tempo, as decepções e os aprendizados, vamos formando uma casca, um escudo, uma armadura, uma couraça emocional. Quando encontramos alguém que faz nosso coração bater mais forte, é preciso ter a coragem de se despir, de tirar toda e qualquer coisa que nos cubra, nos proteja, nos envolva. Para amar é preciso estar de cara limpa e peito aberto.
Os ombros suportam o mundo, chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor, porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.
Tempo livre não significa repouso. O repouso, como o sono, é obrigatório. O verdadeiro tempo livre é apenas a liberdade de fazermos o que queremos, mas não de permanecermos no ócio.
Descobri faz tempo o que me mata
E o que me mata é justamente o que mais amo.
Devo pois, partir.
Partir para viver
e continuar amando...
E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva.
Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo: sou ainda a rainha dos medas e dos persas e sou também a minha lenta evolução que se lança como uma ponte levadiça em um futuro cujas névoas leitosas já respiro hoje. Minha aura é mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz única.
(...) numa ilha do norte onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar por algum tempo que afinal passou depressa como tudo tem de passar e hoje me sinto como se agora fosse também ontem, amanhã e depois de amanhã, como se a primavera não sucedesse ao inverno, como se não devesse nunca ter ousado quebrar a casca do ovo, como se fosse necessário acender todas as velas e todo incenso que há pela casa para afastar o frio, o medo e a vontade de voltar.
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perere
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
“O pensamento é o território mais protegido do mundo, e ao mesmo tempo o mais livre. Só nós sabemos o que se passa por nossa mente. O pensamento não exige ortografia, pronúncia, sensatez. O pensamento não tem fronteiras, lógica, advogado de defesa ou carrasco. O pensamento é zona franca, terra de ninguém, um lugar onde sempre há vaga. O pensamento é o único lugar onde ainda estamos seguros, é onde nossa loucura é permitida e onde todos os nossos atos são inocentes.”
"Existem pessoas que acostumam-se com seus próprios erros, e em pouco tempo confundem seus defeitos com virtudes."
Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...
Dar um tempo. Férias. Tomar fôlego. Reorganizar as ideias. Era tudo o que eu precisava para continuar. Sabe o que é isso? Eu, minhas amigas, biquínis e um caderninho. No apartamento em que nós estávamos, sempre alguma delas gritava da porta: Pegou o boné? Alguém achou meu óculos? Vai fazer frio? Fê, pegou seu caderninho? E assim eu saía. Com cangas, blusas de frio, protetor solar e o tal caderninho. (Tenho sempre um caderninho na bolsa, aonde quer que eu vá). Hoje - já em casa e de volta ao trabalho - meu caderninho está assim: cheio de areia e palavras. Meu coração está leve, mesmo sabendo que a realidade está na ponta do meu nariz e - amigas! - é chegada a hora de ira à luta! De novo. O lado não tão bom disso tudo é o desassossego de descobrir coisas sobre nós mesmas que a gente insiste em não enxergar. A parte boa é que - sei lá - existe parte boa? Brincadeira! Sempre existe. E eu não posso me dar por vencida com um bronzeado desses. Não agora. Não hoje. Mesmo tendo lido aquela frase do livro da Maitê Proença que me fez chorar. Não de tristeza. Chorei porque sou burra mesmo. Se tivesse lido esta frase antes (Aonde você estava, Maitê??), talvez eu tivesse sofrido menos. Por ele. Aquele que foi o amor da minha vida. Que talvez ainda seja. Que sempre será. Mas a tal frase que me puxou o tapete foi simples como tudo o que eu gosto: "não quero o amor da minha vida ocupando o lugar de amor da minha vida". Entendeu? Decorou? Lindo isso. Lindo e triste. Maitê sabia. Soube antes de mim. Bem antes. Esperta essa garota. Tão linda, atriz e sublime com seu olhar verde-esmeralda - Maitê Proença - nossa Dona Beja, também teve seu coração machucado. Dilacerado, imagino. Normal. Desse mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que consigo agora abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sim, sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora. Eu digo: agora. Houve uma mudança de planos. E eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas. Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Vejo minha lista - anotada com um coração bic no meu caderninho-de-bolsa: coisas que preciso fazer antes dos 35 anos. Sinto uma alegria infantil. Está tudo ali. Meus desejos. Meus maiores sonhos. Minha obsessão por um laptop. Minha vontade de escrever um livro. Ter um filho. Fazer mil cursos. Aprender coisas novas. Conhecer lugares. Pessoas. Me conhecer mais. Me descobri um pouquinho e parece que foi tanto! Porque agora muitas coisas fazem sentido. Minhas palavras. Tudo o que quero ser e criar. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri. Ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!