Ha mil Razoes para Nao Amar uma Pessoa

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AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa
Cancioneiro. L&PM Editores. 2007

Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o Universo não tem ideias.

Fernando Pessoa
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Lisboa: Ática. 1966. 216p.

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. Vol. I. Mem Martins: Europa-América, 1986.

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: viver não é necessário, o que é necessário é criar.

Fernando Pessoa

Nota: Trecho adaptado do poema "Navegar é preciso", de Fernando Pessoa.

Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. São Paulo: Montecristo, 2012

A arte é a autoexpressão lutando para ser absoluta.

Fernando Pessoa
Obras em prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1974.

Ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os gregos viam muito lucidamente. Por isso pouco sentiam. Daí a sua perfeita execução da obra de arte.

Fernando Pessoa
Ricardo Reis, O Regresso dos Deuses, s/d

Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. O guardador de rebanhos. Porto : Civilização. 1997.

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.

Fernando Pessoa
SOARES, B. Livro do Desassossego. Vol.II. Lisboa: Ática. 1982. 101p.

Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, "Livro do Desassossego", 1982

A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, "Livro do Desassossego", 1982

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa
Pessoa, F. Mensagem. Poema X Mar Português. Edições Ática: Lisboa. 1959

Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. Vol. II. Mem Martins: Europa-América, 1986.
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É preciso ser um realista para descobrir a realidade. É preciso ser um romântico para criá-la.

Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, "Livro do Desassossego"

Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, "Livro do Desassossego"

Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, Livro do Desassossego.

O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Poesias. Rio de Janeiro : Livraria Agir Editôra, 1968.

Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.

Fernando Pessoa
Bernardo Soares, "Livro do Desassossego"

Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar.

Fernando Pessoa
SOARES, B. Livro do Desassossego. Vol.II. Lisboa: Ática. 1982. 264p.