Gosto do Perigo
No Tempo
O tempo já não muito importa
as horas, segundos, quantos?
O que foi já não abre porta
e os sonhos, estes tantos...
O que vale é o que vem
se ainda tem, os recantos
onde a alma se sinta bem
e no ir além, terá encantos
Porém, lembre-te de amar
pois nestes acalantos
tua passagem irá marcar
cada teu minuto
teu dia, um olhar
um sorriso, teu atributo
As rugas, ah! deixe-as ter
é o fruto
de que pôde viver!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, outubro
Cerrado goiano
CRISTO JESUS (soneto)
Todo o louvor, a Ti, exaltar procuro
Em Ti a paz, no Teu verbo de pastor
Nos cuidados o que há de mais puro:
verdade, o perdão, a caridade, amor
Fonte límpida que sacia do escuro
Alento nos caminhos desesperador
És a perfeição no imperfeito perjuro
Debalde não crer, que és o Salvador
Tua infinita bondade, Pai Amoroso
A Teus servos perfeição colossal
Aos homens doaste afeto caloroso
Cristo Jesus, na vida, nosso degrau
Volva a tua face ao pecado danoso
E assim nos faça livrar de todo o mal! (Amém!)
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Quinta feira Santa
Cerrado goiano
ÚLTIMA VEZ (soneto)
Tal dia, marcado, será derradeiro
Sem eco, sem contenda, e paz
Tão segredado, de saber ineficaz
Que bom é se manter cavalheiro
E neste exato momento, fugaz
Que o é, no silêncio de mosteiro
Apagarás da vivência tal letreiro
E o já, egresso, não suspeitarás
Um dia, o gesto será só roteiro
Instantes do palco, por detrás
E na pena a tinta sem o tinteiro
Última vez, suspirada cor lilás
Desfeito e desnudado useiro
Nada mais terá regresso, jaz!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
A UM AMOR PERDIDO (soneto)
Quando a primeira vez se perde o amor
Que do leito acordou, ali gemendo e só
Dentro do peito a tristeza se faz em nó
E desabrocha a flor de lágrima e suor
A vida sente os olhos mareados, forrobodó
Sobe-lhe um amargo, e o primeiro ardor
Do queixume, do pesar, de um pecador
Tal a rosa, de perfume e espinhos, dá dó
Então a alma se traveste de desventura
Numa torpeza de paixão e de mágoa
Onde o sonhador é bravo sem bravura
Assim neste pranto em verso de bágua
Teu cheiro é açoite sem doce candura
E tua lembrança nos arde em frágua...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/10/2019, 23’47”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
formas
formas na emoção
olhar fixo no infinito
universo em conspiração
a dor além do manuscrito
são feitios do coração
são áreas de um rito
que moldam a paixão
e faz do amor erudito
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
janeiro de 2016 - Cerrado goiano
Outra Vez
Outra vez, eu tive que me ausentar
Os sonhos foram levados ao vento
E agora não adianta mais chorar
Os pensamentos estão ao relento
Se buscar bem no fundo do meu olhar
Verás gotas de desalento e sofrimento
São estações que continuam a passar
E eu um passageiro neste seguimento
Outra vez, eu tive que me calar
Neste silêncio de isolamento
Ali pode minha alma poetar
E a poesia me trazer total alento
Mas talvez ninguém possa entender
O que para muitos é pouco fundamento
Quando se ama para valer, faz viver
E só vive quem tem amor no sentimento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 – Cerrado goiano
Poesia parida
Pare dor e aflição os meus versos
Da inspiração do poeta por vir
São teus açoites em reverso
Com rimas que vão se despir
Gota a gota, gelha a gelha
Coando a quimera que põe a fingir
Tal veras, que ao banal se assemelha
Doando ao poeta sensação no existir
A poesia vida, odor, e a intuição centelha
Sussurrando suspiros do poema a parir
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/02/2016 – Cerrado goiano
novembro
já é novembro, dos ventos
o tempo fugaz caminhando
as quimeras em movimentos
rodopiando, e que seja brando
inflados de sentimentos...
as coisas já esquecidas
no bolso da promessa
que não sejam retorcidas
e tão pouco tenha pressa
que cure, todas as feridas...
há tempo após a existência
tenha fé, no nosso Criador
mais louvor... mais reverência
e assim, mais sal, menos dor
afinal, o penúltimo mês do ano
que o recebamos com amor
e que não sejamos, profano...
no coração todo o valor
lembranças, sem dano
mês de finados, luz, fervor...
bem-vindo!
- mês 11 do calendário gregoriano
chegou novembro, que seja lindo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01/11/2019, 05'35"- Cerrado goiano
vida
como toda história tem parágrafos
e todo capítulo tem conteúdo e narrativas
as vírgulas, reticências e ponto final não sejam apógrafos
e sim, teor para afável leitura, essência de vida e tentativas!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Março de 2016 - Cerrado goiano
Poema num sábado de aleluia
No apagar da quaresma
Qual cinza restou
Ou será a mesma
Se fica ou se vou
Os sinos tocam, sábado de Aleluia
Anuncia a reflexão da traição
Retire suas culpas da cuia
Da omissão. Seja oração...
Perdão
Vamos nos aconchegar
Na misericórdia
E ter braços para ofertar
De que vale negar, ter discórdia
Se somos filhos, iguais, no altar
Da criação Divina. Livres na história
Livres para sonhar
Na fé vitória
Sábios para perdoar
Ao nosso "Judas", executória
A solidariedade atar
A paz e bem, gloria!
É vigília pascal
Trajetória
No amor, o amor incondicional
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26/03/2016, 06'10" – Cerrado goiano
Sábado de Aleluia
na moral
não é da rua
ou de quem governa
a tua alma nua
vem da sua baderna
crua
interna
o caos e o fortuito
da fraca terra que cerna
sua moral, seu intuito
o óbvio ético
é gratuito
nunca cético
é generoso
correto, linear
está no olhar lustroso
no ceio familiar...
coração
cravado em sua casa, cidadão, glorioso
com decoro, fecundo
pro mundo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29/03/2016, 10'10" – Cerrado goiano
Apanhador do cerrado
Uso o meu olhar para apanhar o cerrado
As palavras tortas compõem o mato crivado
De cascas grossas, cascalhos e céu estrelado
O chão na temporada de sequia, é maltratado
Os jatobás fatigados tão firmes como as perobas
Rodeiam os pequizeiros, tão "bãos" como as guarirobas
Cheiro forte sabor da terra, como as doces gabirobas
Entendo bem o sotaque é o povo deste chão
Sou daqui, tenho respeito a toda esta tradição
Povo das sucupiras, flores rasteiras e abelhas arapuá
Tudo aqui tem força, tem suor, é aqui, é acolá
Assim como a magia do canto da seriema e do sabia
Deste cerrado místico, torto, certo e errado, sempre a brotar
Que o tal desencanto encanta o poeta no poetar
Este quintal que é o maior do mundo, que faz sonhar
Me faz ser apanhador do cerrado, no meu versar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30/03/2016, 22'22" – Cerrado goiano
Minha vida
O breve é quem dita a minha vida
A vida da minha vida tem vida peculiar
Elege chegada, permanência e partida
Pulsa na minha vida sem se importar
Vive a sorte, independente, sua linha
Sem que eu quisesse ou não quisesse, vive
A minha vida, sem vida, eu não teria vida minha
Não teria arte, dor, suspiros, cor, amor inclusive
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril de 2016 – Cerrado goiano
Declaração
Tal como no cerrado
O pôr do sol é belo
Tal como ser ousado
O bom é ser singelo
Querido e arrebatado
Tal como noite de luar
Afeto tem de ser enleado
Assim também é aceitar
Sem tê-lo nada se tem
Pra ser tem que incidir
Não se é nada além
Sem alguém no existir
Para se amar, também!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2016 – Cerrado goiano
poemas são ofertamentos
poemas são como relacionamentos
não acontece sem ter sensação
pois são misturas de sentimentos
união e estro na sua composição...
Poemas são feitiços em ofertamentos
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – Rio de Janeiro, RJ
Minerês
Ô minas, arguém já te poetô
Eu sempre tenho poetado
E ainda poetando eu tô
Cadquê, meu estadão amado
Ocê é trem bão dimais
E óio aqui os sêus mistério
Tão difícil, decifrá jamais
Tal arrilia é tão sério
Que o poeta proseia, proseia
E ainda fica o quê proseá...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27 de abril, 2016 – cerrado goiano
Parodiando Patativa do Assaré
Sorriso
Sorriso pinta a tua dor
Da cor que se desejar
É ofertar com uma flor
O triste pra se alegrar
Sorriso abrevia o vazio
Se nada mais restar
Sorria um mirar macio
Aprazendo o alheio olhar
Sorriso traz à vida luz
E aos dias só encanto
Sorria para a sua cruz
Sorria pro seu pranto
E assim sorrindo, amar
Num teatro fulgente
A maioria irá pensar
Que és um ser contente
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – cerrado goiano
Outono no cerrado
Cerrado. Ao horizonte escancarado. Escancaro o olhar
Sob o céu acinzentado, admirado chão de cascalho calçado
O vento rodopiando, a poeira empoeirando a anuviar
O minguado frio sequioso outono dos planos do cerrado
As folhas bailam, rodam, caiem em seu leito ressequido
A chuva se esconde, onde o céu não pode chegar
Os sulcados arranham e ondulam o ar emurchecido
Do desconforto calado entre os cipós e galhos a uivar
Olho o céu purpúreo desenhar o frio chegando ao porto
Os arbustos rodeados de cascalhos num único flanco
Rangendo o outono no amarelado e árido cerrado torto
Num verdadeiro espetáculo de pluralidade saltimbanco
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28/04/2016, 14'25" – cerrado goiano
Além
Para além do tempo, a quimera
Para além da era, o amor
Para além da dor, a lágrima
Para além das palavras, porfia
Para além da vida, a glória
No epílogo da alma em poesia...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Maio de 2017 – cerrado goiano
CERRADO (soneto 2)
O cerrado é como um soneto
arbustivo, tortuoso, melódico
chora a sua aridez, é talódico
diversos como verso irrequieto
Fala do diferente, do exótico
contrastante e muito concreto
vai além de apenas indiscreto
exuberante e também retórico
É prosa narrada é céu sem teto
o cerrado é um insano imódico
e a sua melancolia vira adjeto
É tão sequioso no teu periódico
ádvenas flores, frutos, de ti objeto
d'amor que te quero, és rapsódico
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 de julho, 2016 – Cerrado goiano
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