Gosto do Perigo
DISPARADA
Ó inconstantes poesias pressurosas
Escorrem da inspiração apressadas
No alvoroço de ilusões impetuosas
Sobre desígnios, com asas agitadas
Tudo é fugaz, e pouco as corajosas
Sensações. Frenéticas e tão aladas
Emoções. São torrentes fragorosas
E muitos os sentidos das estradas
Pelo verso, zumbindo, o sentimento
E celeremente passa o pensamento
Devaneia, e corre pela madrugada
E, assim, nos versos de incertezas
Estorvos, acasos, súbitas surpresas
Desenhando a vida em disparada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
18 abril, 2024, 20’21” – Araguari, MG
A VOZ DA SOLIDÃO
No vão da noite sombria, deserta
Tão silenciosa, envolta em arrelia
O repouso torna a cena irrequieta
Em um tenso sussurro de agonia
A enodoada alta noite terrificante
Povoada de uma vontade, irradia
Aperto, onde não há o que cante
Nem o poema sem a melancolia
Na treva da escuridão a coruja pia
Rompendo o vazio no tom dolente
Tal um cântico de acerba sensação
O pensamento da gente silencia
O coração arrepia tão vorazmente
E, merencória fala a voz da solidão.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 abril, 2024, 13’58” – Araguari, MG
LUAR DE ABRIL
Na imensidão do céu, eis o luar
Cá no planalto, alvo de candura
Atraente, seduz o amor a trovar
Toando o negror da noite escura
Oh lua clara que surge em prece
Dando ao sertão diáfana tintura
Divinal tom, que o encanto tece
Ao sentido esplendida candura
Cor caiada, etérea luz, especial
Traçando no espaço sensação
Cintilando florescência no vazio
Luz densa de um leitoso cristal
Reina rútilo, insuflando emoção
No cerrado regalado luar de abril.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 abril, 2024, 19’57” – Araguari, MG
SER E NÃO SER
Se disser que não é árduo estou fingindo
Mas no versejar ter-te certo, não consigo
E, nesta sensação o verso vai seguindo
Ser e não ser, ó dúvida, que há comigo?
Se a saudade adentra, dela vou saindo
Mas, ao lado teu, deixo o amor contigo
Sentir teu perfume, arfada vou sentindo
E parar de pensar em ti, infeliz castigo
Se o soneto matutar por ti, descomeço
Se na ilusão me perco, como padeço
Cheio de emoção, emotivo sem saber
Quanto mais a poesia de te está vazia
Mais guardado na prosa, ah! teimosia!
Dando vacilação e objeção sem querer.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22 abril, 2024, 17’45” – Araguari, MG
*paráfrase Bernardina Vilar
VERSOS MURCHADOS
Pelo soneto saudoso vou versejando
Verso choroso de emoção carregado
E pela poética a agonia vai passando
Suspira, sussurra, ah! sentir danado!
Trova e canta o canto, assim, rimando
Com a rudeza do vazio, tão atordoado
E a alma do sentimento vai murchando
Deixando sem comando o ritmo do fado
Guarda escondido dentro desta poesia
Um tesouro de amor, outrora de alegria
E, a paixão de um romântico coração...
Nem se compara os dias tão elevados
Versados aqui sem reação, despejados
Murchados e, sem qualquer percepção.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
23 abril, 2024, 19’45” – Araguari, MG
DE SONETO EM SONETO
De soneto em soneto vai o tempo já passado
Do versado fado, as ilusões, na ridente aurora
Dos cânticos encantados, e canto enamorado
De uma poética cheia de sensação de outrora
O tom que no estorvo se sentiu abandonado
O perfume na lembrança, que lembra agora:
O amor perdido, a infância ida, ali arruelado
Na recordação. Ah! tudo vivente a toda hora
Apressado, fugaz, e o versar vai observando
Cada linha, um toque de memória, morrendo
No tempo, guardado na emoção, até quando
For somente uma lembrança, ainda sendo!
E, de rima em rima aquela ocasião rimando
O soneto na saudade e a toada desvalendo.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24 abril, 2024, 07’39” – Araguari, MG
MEU POBRE SONETO
Ele sussurra com uma dor sofrida
Que esmaecido chora na emoção
Tal a uma lágrima na falta sentida
Que bate forte o apertado coração
Ele canta com a sensação pendida
Dos urutaus, que cantando em vão
Entoam cantos de sisuda despedia
Soando saudade adentro do sertão
Um versar gemido e de melancolia
Que rola na trova com árida agonia
Com frios sentimentos superficiais
Meu pobre soneto, tão moribundo
Que quer arrebatamento profundo
E vive o sonho, que não volta mais.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27 abril, 2024, 18’17” – Araguari, MG
*à amiga Lucineide S. Ghirelli
PAINEIRA (cerejeira do cerrado)
A paineira da beira da estrada, florida
Com flores incontidas, belas, rosadas
Está mesma “barriguda”, desmedida
“cerejeira do cerrado”, tão iluminadas
No poetar meu, de vós, inteira, é vida
A poesia com suas rimas aveludadas
Quem sabe até da sedução prometida
Ao Outono, e na fascinação estacadas
Está, que me assombra e maravilha
De pétalas rosas e miolo amarelado
Bailando suave, e ao vento rosquilha
E tua pluma branca no fruto moldado
Pelo ar, voa, entoa, e pelo chão trilha
Em um espetáculo da poética ornado.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 abril, 2024, 20’22” – Araguari, MG
TACHO (soneto)
Quantos doces em alquimia
Colher de pau, a calda densa
A ferver, compotas na dispensa
O tacho em sua eterna poesia
Queima a lenha, ferve a água fria
Nas labaredas estórias pedem licença
E nós sabores, só tu fazes a diferença
Das caldas, doces, deleitosa iguaria
Os açucarados da infância, delicia
O tacho ora quente, ora esfriando
Se espirrando, não foi de malicia
É sua natureza, da receita, mando
Mexe, remexe, expectativa, perícia
No fogão de lenha ele é comando...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 de maio de 2020 – Triângulo Mineiro
MISTERIOSA SAUDADE
Misteriosa saudade que só devasta
Que só corrói, aperta, que só surra
Falta de paz que do sossego afasta
Como se fosse sensação que hurra
Oh, bravia saudade que nada basta
Que existe em uma dor tão escurra
Sussurra no ser uma figura nefasta
Deixando no gosto amarga saburra
Intensa saudade quase mortífera
Que desfolha a florida primavera
Duma sina, então, desencantada
Que usura, e a uma ilusão conduz
Criando frieza que tormento induz
Catucando o juízo na madrugada.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
01 maio, 2024, 04’22” – Araguari, MG
MINHA ARAGUARI
Terra do “Brejo Alegre”. Onde canta o Bem te Vi
Nos buritis, saudando o alvorecer no céu rubente
Onde há agrado de o bom viver, altaneira Araguari
Cravado no “Sertão da Farinha Podre”, brava gente!
Terra do café, no cerrado, qualidade encontrada aqui
Pão de queijo, biscoito de goma, sai do forno quente
“Água da baixada das araras”, surgiu do Tupi-guarani:
Araguá-r-y... Orgulho de Minas Gerais, paixão latente!
Terra do “ar perfumado das flores do mato”. Aparato
Do sertão, vida e sensação, hospitaleira, isto é fato!
Onde o cair do sol num espetáculo de pura emoção
Meu Araguari, onde a beleza tem um olhar singular
Onde todo dia tem um fim, mas, todo fim o recomeçar
Poetando “as estrelas beijando o regato” do coração!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
02 maio, 2024, 07’46” – Araguari, MG
A ajuda virá, mas precisa estar pronto pra fazer sua parte. Mesmo que seja pequena. Você pode fazer a diferença.
Os Jedi são perigosos. Eles podem controlar suas mentes. Fazer com que façam coisas que não fariam.
