É possível repousar sobre qualquer dor de qualquer desventura, menos sobre o arrependimento. No arrependimento não há descanso nem paz, e por isso é a maior ou a mais amarga de todas as desgraças.
Os melhores momentos do amor são aqueles de uma serena e doce melancolia, em que choras sem saber porquê, e quase aceitas tranquilamente uma desventura que não conheces.
É curioso observar que quase todos os homens que valem muito têm maneiras simples, e que quase sempre as maneiras simples são vistas como indício de pouco valor.
O sentimento da vingança é tão agradável, que muitas vezes o homem deseja ser ofendido para se poder vingar, e não falo apenas de um inimigo habitual, mas de uma pessoa indiferente, ou até mesmo, sobretudo em alguns momentos de humor negro, de um amigo.
Parece um absurdo, e no entanto é a exata verdade, que, se toda a realidade for vazia, não haverá mais nada de real nem de substancial no mundo além das ilusões.
É curioso ver que quase todos os homens de grande valor têm maneiras simples; e que quase sempre as maneiras simples são tomadas como indício de pouco valor.
O primeiro motivo por que se está disposto a ajudar outro nas devidas ocasiões é a alta apreciação que se tem de si mesmo.
Por minha própria natureza, não estou longe da dúvida mesmo sobre as coisas consideradas indubitáveis.
A morte não é um mal: porque liberta o homem de todos os males, e ao mesmo tempo que os bens tira-lhe os desejos. A velhice é o pior dos males: porque priva o homem de todos os prazeres, deixando-lhe deles todos os apetites; e traz consigo todas as dores. Não obstante, os homens temem a morte e desejam a velhice.
Não existe maior indício de ser pouco filósofo e pouco sábio do que desejar uma vida inteira de sabedoria e filosofia.
Não apenas os homens, mas o gênero humano foi e sempre será necessariamente infeliz. Não apenas o gênero humano, mas todos os animais. Não apenas os animais, mas todos os seres a seu modo. Não os indivíduos, mas as espécies, os gêneros, os reinos, os sistemas, os mundos...
Duas verdades em que os homens em geral nunca acreditarão: a primeira, a de não saber nada, a segunda, a de não ser nada. Acrescente a terceira, que depende muito da segunda: a de não ter nada a esperar depois da morte.
Do hábito da resignação nasce sempre a falta de interesse, a negligência, a indolência, a inatividade, e quase a imobilidade.
Ninguém se sente tão completamente desiludido com o mundo, nem o conhece tão profundamente, nem o odeia tanto que, observado por ele com benevolência por um instante, não se sinta em parte reconciliado com ele.