Genuíno
O Monte
Sentindo o frio na espinha,
O vento levemente sopra a face,
Os pássaros alvoroçados cantam,
Diante dos olhos, um foço de luz,
Um extenso vale molhado da névoa,
De cores, aroma e sabores...
Naquele monte escarpado,
Um tesouro às escondidas,
Onde o sol não brilha, se põe...
Um interlúdio para reverenciar
Eu com minha alma em chamas,
Batimentos desalinhados,
Volúpia e simetria...
Tocando as pétalas desabrochadas,
A passo e passo, adentro ao vestíbulo,
Desajuizado a explorar,
Desembainhado a dançar...
Abrandando os sussurros dos ventos,
Osculações abrasadas na cerviz,
Os pomos, belos e bem delineados,
Aprecio-os com devoção, contemplam o Éden
Como eles, o colo embebido...
No enlace dos corpos, ofegantes,
os amantes entregam-se lascivamente,
sobre o outeiro, suspirando em brasas,
do sonho ao apogeu...
Ah, a natureza e sua beleza misteriosa...
As fímbrias a vascolejar
As borboletas a voar,
O deleite do poeta,
A moldura do artista...
Apego-me às memórias daquele Monte de Vênus!
Ser guiados pelos vagalumes é depender da luminescência dos outros, não ter luz própria é depender de um satélite para ser iluminado, chamas ao vivo reflete em cada um de nós no exato momento que somos dependentes de outros para iluminar nossas vidas!
RAPL
Deveras ter por um instante desse olhar pragmático e lindo, por um instante sonhei em tocar esses lábios tão lindos e olhar para esses olhos no instante do tocar lhe e ver a centelha de brilho , por um instante imaginei, por um instante sonhei.
Por um instante.........
O arguido não pode ser coagido a confessar a culpa, logo, é legítimo o constituinte clamar inocência até prova em contrário.
Nem todas as músicas entram bem no ouvido, há algumas que nem a dois metros dos pavilhões auriculares deixam de ser algo contaminante.
Nesta minha viagem proibida
Que mais parece um conto infantil para maiores
Entre Cabernet, Merlot, Malbec, Primitivo, Pinot...
Encontrei você, a minha Petit Verdot
Uma cepa rara, diferente
Que produz os melhores cortes
Marcante, encorpada
E com uma pegada inesquecível
Me enche a boca de alegria
Me enche os olhos
E me leva para longe
Harmoniza com a minha alma
E me traz muita felicidade
Entre códigos e enigmas
Vou descobrindo a cada dia
O prazer de me embriagar de você
Sinto a sua temperatura
O seu aroma
O seu brilho
E o seu amor exalando
Me pedindo para te apreciar
Eu fico louco!
E nas dificuldades e incertezas
Eu vou cultivando você...
Com a evolução da pandemia, ficam os caçadores em casa e entra a caça na rua como se fosse o homem a pisar pela primeira vez a lua.
O que você procura em você que ninguém já tenha reparado?
O que você exige de você mesmo, que as pessoas a sua volta já receberam de ti?
Você é aquilo que representa e nada mais, ser mais e querer dar demais,
acaba te forçando a ser quem você não é, a sua essência muda e te torna no final,
algo superficial.
Se aceite.
O mundo parece extremamente desolador e estranho aos olhos dos que não conseguem mergulhar na imensidão de si mesmos, -se conhecer.
Contentam-se em viver sob o relato das experiências daqueles que o fazem, ou da ignorância dos demais que, assim como eles, não sabem como fazê-lo, ou simplemente não se propõem a tentar.
Estamos aqui neste mundo e fazemos parte dele, viemos e vamos embora, um dia teremos o mesmo fim, não somos mais e nem menos, somos parte do que nos rodeia.
Algumas pessoas, por conta do seu ego inflado, acham que são melhores e viverão para sempre, porém as vezes acabam antes do esperado, da mesma forma que quaquer um.
Reflita e aceite que um dia você também acabará, e o que fazer estão, se é inevitavel e você agora tem noção disto?
Chore, mas chore pelo que você não viveu, e sorria pelo que você realizou e cativou em sua vida e aceite seu final.
Deusas
No silêncio noturno, pestanejando,
Audível tão somente o ruído da ampulheta,
Memórias da temporalidade,
Tessituras da areia e do vento,
Conflitos prementes da razão,
Uma tempestade de partículas,
Juntas, formando consciência...
Irresignado com o legado cultural,
Entrevi, dentro do Panteão mitológico,
Vênus, a Deusa do feminino.
Ela, envolta de requinte arguto e versado,
Pôs-se a recitar...
“Existe uma verdade cientifica, filosófica,
A mentira, quando repetida
gera crenças profundas, conforta.
A verdade, por sua vez, inquieta...”
Eu, com o cálice na mão,
Condiciono-me, compenetrado,
Ela, com magistral beleza, prossegue:
“Afloramos arguidas,
Distintas biologicamente,
Provemos a vida,
Únicos contrastes.
No corpo social,
Estipêndios menores,
Sem enaltecer o intelecto,
O inventivo, a inovação.
Quanto mais à “alta roda”,
Menos varoas encontramos.
Queres tua prole assim, fadada a essa herança?
Ensina-lhe o caminho da revolução!
Equidade, Respeito,
Sem possessividade...”
Desperto, observo a ampulheta,
A transitoriedade dos grânulos,
As âmbulas intermeadas
Com a consciência formada...
Há tempo, quero te recrutar,
Ativista da causa,
Não me Kahlo!
Paulo José Brachtvogel
