Fugir
Eu já quis fugir dos problemas, sumir no mundo, mas quando você tem que enfrentar algo, não tem pra onde fugir.
Foi quando me deparei: a realidade cobriu-me naquele instante, como um véu que cobre objetos e os reduz a nada, senão simples formas. Os vultos me cercavam, e um silêncio ensurdecedor ecoou nos meus ouvidos. A existência, antes anestesiada pela minha tentativa inútil de esquecer-me ou até fugir dela, penetrou-me aos olhos: já não enxergava mais nada. O breu tomou conta de minha visão, e ali já havia entendido — e, certamente, foi o estopim da fatalidade que me poderia ocorrer. Não poderia fugir; como conseguiria, se já não me havia forças para correr, muito menos direção para guiar-me? E, se os tivesse, alcançando o topo da colina mais alta e mais distante de todas, como poderia fugir de mim mesmo? Como poderia fugir da angústia que tomou completamente meu corpo naquele instante? A única coisa que poderia fazer era olhar fixamente para o nada, assim como olho para mim no espelho pelas manhãs. Sem escapatória, era apenas uma alma passando frio, ao lado de tantas outras vestidas, combinadas e esquentadas pelo calor de suas vestimentas: seus corações, que palpitavam ferozmente ao contato dentre tantas outras parecidas, enquanto o meu já não tinha forças para viver. Meu coração estava num imensurável inverno congelante, sem previsão de essência: espera-se, somente, a morte por hipotermia.
"Fraqueza é achar que evitar o problema é a solução.
A maior mentira é a que contamos a nós mesmos."
Fuja de respostas confortáveis de quem prefere flutuar na superficialidade, sem se dispor a enfrentar com coragem o mergulho que exige profundidade
Na dança sutil entre sombras e luz,
A fuga se ergue como um véu fugaz,
Mas seu encanto é efêmero, ilusório,
Pois ao fugir, a alma se dispersa.
Quem parte carrega mais que seu fardo,
Leva consigo um eco de despedida,
Um eco que ressoa nos corações deixados,
Marcando-os com a tinta da ausência.
A fuga é uma coreografia de solidão,
Uma dança onde o vazio é o par,
E quem foge dança ao som do silêncio,
Deixando para trás um palco vazio.
No fim, as fugas são como poemas tristes,
Que desumanizam os versos da vida,
E quem parte, por mais que busque se esconder,
Deixa um rastro indelével de suas pegadas.
Então fique até ter coragem para permanecer e dividir as levezas, preencher os espaços para que o eco não dissipe ímpar as coisas não compreendidas. Deixe a tinta daquelas ausências insistentes escorrem sob os pés enquanto bailamos.
Examine atentamente suas prioridades
Seja cuidadoso com suas palavras
Cada som tem seu timbre e vibração.
Recebemos tudo de volta no tempo
Uma ação nunca será sem uma reação.
Tentativas de reconhecer erros
Isso é uma maneira de autoconhecimento.
No caminho devemos analisar e sondar
As distrações que nos fazem procrastinar.
Resistir requer sabedoria excessiva.
As fugas só desumanizam os sentimentos de quem te acompanha. Então fique até ter coragem para permanecer e dividir as levezas, preencher os espaços para que o eco não dissipe ímpar as coisas não compreendidas. Deixe a tinta daquelas ausências insistentes escorrem sob os pés enquanto bailamos.
Todos nós reunidos aqui estamos no mesmo barco. Estamos vivendo no mesmo mundo, experimentando a mesma dor. É exatamente por isso que vocês não deveriam nem sequer sonhar em tentar de alguma forma fugir deste mundo.
Flor amarela
Ela nasceu pequena, frágil,
um ponto amarelinho em meio ao verde,
sem saber que, um dia, teria força
para afastar quem não sabia receber amor.
Tão simples, tão delicada,
mas cheia de força para enfrentar o sol impiedoso,
a chuva que chega sem aviso,
e até mesmo mãos que não sabem segurar sem ferir.
Por dois dias, ela ocupou a mesa,
envolvida em gestos de afeto,
mas seus tons amarelos foram recebidos como afronta.
Havia quem não soubesse enxergar beleza,
quem temesse o toque leve da ternura,
quem não suportasse a simplicidade do cuidado.
A flor amarela, sem dizer nada, revelou tudo.
Fez fugir aquele que não sabia ficar.
E talvez esse seja o seu maior poder:
não apenas embelezar um jardim,
mas também separar o que floresce
do que nunca poderá brotar.
Ter uma vida devocional, fugir das diversões mundanas e apresentar-se como cristão, tais práticas, por si só, não operam mudanças profundas e significativas.
(Leia 1João 3.2-3)
O viajante,
queria descobrir sua identidade,
perguntou ao vento:
qual caminho seguir...
em formato silencioso
em ciclos finos,
correndo ao norte,
o vento preferiu fugir...
.
O Viajante iluminado, in conversas com o vento.
Fuja de pessoas que naturalmente te fazem se sentir criminado, quando na verdade elas têm culpa de tudo.
Solidão não é só isolamento físico, é a também a incapacidade de enfrentamento, o medo da rejeição, a intolerância à frustração, o não querer entrar em contato com o real. Solidão não é solução... é fuga!
Flávia Abib
só opino e mais nada.
*
Estou enviando essa carta ao moribundo solitário, sem dúvida alguma estou duvidando, e só. Isso é uma guerra interna, falta pouco para calar o mundo, ainda, sim, sou eu, fugitivo. "Hoje estamos sós em uma autópsia do épico sentimento, romperam-se os diálogos, silencia, não atua, as flores estão no jarro, e, jura.".
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Ricardo Vitti
