Para confundir tudo para Cássia Lopes... José Carlos Limeira

Para confundir tudo
para Cássia Lopes por todas as palavras
Trago no bolso uma moeda para Exu
Para que fazendo seu papel não me corte dedos
Pois deles preciso para o corte das oferendas, sangue e verossimilhanças
Como as aves que se recolhem ao crepúsculo
Enquanto crianças tombam nas encostas, esquinas e becos.
Laroiê!
Saúdo seu lugar tempo e presença
O uso da graça, do riso, tua gargalhada
Própria para remissão do medo
Atrevimento além de tudo que está impresso
E que se revela drama e como tal afia bordas metafóricas de papéis
Que enorme falta papéis: cortar os dedos gentis da musa Cássia
E esses doem, ao doer, fazem com que ela diga do silêncio das sepulturas
Do Cementerio de la Recoleta onde moram Adolfo Bioy Casares, Bartolomé Mitre
Eva Perón, e outros de alta casta. La Recoleta evita certas presenças
Negros lá não têm o sono eterno, não lhes cabe
E tu Exu estando acima de ódios ou vinganças
Deves ter levado os teus nas asas dos condores quiçá abutres gigantes
Ao universo verso da imortalidade...
Todos os mitos, caráter, elocução, pensamento, espetáculo e melopéia
Sinos silêncio, Luz e Ação
E meu momento, receptáculo do mais descrente amém à dolorida verdade.