Estranho, mas meu coração ainda... Debora Dalsasso

Estranho, mas meu coração ainda acelera quando algo relacionado a ele aparece. Acelera de medo, frustração, desprezo, saudade. Eu me pergunto o que eu me tornei depois de tanto tempo, por causa de uma pessoa só. Me pergunto como seria tudo tão diferente se ele nunca tivesse entrado na minha vida. É um paradoxo. Embora muitas vezes eu tenha me controlado para não desistir de mim mesma, às vezes eu sinto que eu vou vacilar, vou ver escorregando entre minhas mãos toda a felicidade que a vida me preparou só de pensar nele por um segundo. E como dói. E como lateja. Vivo buscando uma nova inspiração, um novo jeito de criar situações que marquem tanto quanto as “nossas” marcaram. E isso é tão difícil. Devo confessar que tenho sido um fracasso total em tentar ser eu mesma. Cada vez mais eu penso nele, cada vez mais eu me dôo às pessoas, cada vez mais eu decepciono. Mas eu sempre digo: um sorriso no rosto e tudo fica bem. Porém, contudo, entretanto, percebo cada vez mais que enganar aos outros é fácil demais. Complicado mesmo tá em enganar a mim e dizer a minha alma que está tudo em paz. E vou tentando, errando, buscando e todos os verbos no gerúndio que possam significar progresso ou fracasso na minha tentativa. Eu sinto falta também, daqueles momentos monstruosamente férteis e inesquecíveis. Ah sim, como eu sinto falta. Um absurdo essa saudade de algo que não existe mais. Um absurdo de saudade. E como dói. Dói tanto que logo depois não dói mais. Meu coração está tão acostumado a doer, que ele já sabe como encontrar um remédio para a dor passar. Passa, mas passa passageiramente. Ligeiramente bruta e logo depois reaparece, e realmente a dor se torna física. Meu estômago dói. Aquelas pontadas que parecem agulhadas e eu sussurro ao meu corpo e coração: um sorriso no rosto e tudo fica bem.