Sou uma gota d'água Eu não sei como é... Jayne Medeiros

Sou uma gota d'água
Eu não sei como é que a gente chega naquele ponto insuportavel do fundo do poço. Não entendo como é que não percebemos que nem adianta mais chorar. As lágrimas não aliviam mais. Não sei como conseguimos nos perder numa estrada reta. Mas nós conseguimos.



A gente espera que tudo se resolva o quanto antes porque o coração só bombeia sangue venoso. Você implora por uma cura para aquela dor. Mas na farmácia não tem remédio pra alma.



"Sou uma gota d'água! Sou um grão de areia!" É exatamente assim que você se sente. Só quer ser pequeno o suficiente pra que ninguém ria da sua cara. Dos seus sonhos perdidos. Do seu coração partido. Da sua desesperança. Das suas lágrimas sem graça e sem efeito. Da falta delas, porque elas secam. Mas isso passa uma hora ou outra.



O tempo é a solução. Mas o pior é que o relógio não conta mais horas, mas sim segundos. Não é? O seu dia tem muito mais que vinte quatro horas. Você acreditava que estava demorando séculos pra achar um caminho. Mas quando você se perde percebe que se passa uma eternidade até que você se ache nele.



Os sonhos começam a parecer medíocres diante do tamanho da nossa fossa. Você pensa em desistir um milhão de vezes antes de tentar sair do buraco. E sabe que pedir a mão para um amigo é sinônimo de lista de conselhos, mas não de ajuda manual de fato. Tem que usar suas próprias mãos pra escalar e chegar lá em cima de novo.



Eu não sei ensinar a sair da fossa. Assim como não sei como chegamos nela tão distraidamente. Mas depois que caimos lá, não adianta sentar e tentar entender. Temos que levantar e arrumar um jeito de erguer a cabeça, reunir forças e começar a escalada. Podemos usar as unhas, as mãos e se necessário os dentes. Mas depois que estivermos fora a eternidade vai ter passado e os dias voltarão a ter 24 horas. O coração vai bombear sangue limpo e seremos novamente do tamanho dos nossos sonhos. E no fim, é só isso que importa!