Tudo o que digo aqui, são coisas que... Caique Ferro

Tudo o que digo aqui, são coisas que aconteceram sim. São coisas que foram realmente boas, mas também não tão boas. Talvez não agrade a todos, mas não é pra agradar, isso foi apenas um desabafo. Meu ultimo desabafo.





Nossa amizade é a mais seca que já vi. É uma amizade que não tem abraço, beijo, carinho. Mas mesmo assim ela é a mais bonita. É uma amizade seca, que não precisa de água. Só precisa de nós mesmos. Sabemos o que o outro quer, ou sente, apenas de olhar. Sabemos quem somos um ao outro.

Na primeira vez que a vi. 6ª serie, Carlos José Ribeiro. Te achei a menina mais linda .Sonho de criança. Queria você. Te achava diferente. Você era diferente. Via uma coisa que ninguém via. Na verdade, nem mesmo eu podia ver, só sabia que via alguma coisa que me fazia alegre. A gente se conheceu. Nos demos bem até. Antes disso você não gostava de mim. Não sei por que. Nem mesmo você sabia, dizia que era porque não ia com a minha cara. Bom, pra minha sorte agora você me ama, pelo menos eu acho que ama. Eu te amo, isso você pode ter certeza. Nessa época eu não tinha maturidade, achava que qualquer sentimento era amor. Mas isso é comum numa pessoa de peixes, somos sentimentalistas de mais. Muito. E o fato de naquela época você não poder falar o que sente porque logo as pessoas começavam a falar que você estava gostando de alguém. Bom, na verdade era bem isso. Mais um motivo pra não me expressar naquela época. Eu guardei isso durante anos. Não foi fácil. Foi torturante. Gostar da melhor amiga. Bom, vamos começar direito.

Quando éramos crianças, estando na escola, vendo você todos os dias. Eu gostava de você. Fomos grandes amigos, sempre conversando, eu sentava atrás de você na sala. Foi uma coisa muito boa. No sentido de amigo. Conversávamos sobre vídeo-game, musica, melhores guitarristas. Lembra dessa? Eu lembro.

Eu: _O Slash não é o melhor guitarrista. O melhor é o Zakk Wylde, guitarrista do Ozzy.

Você: _O Slash faz barulho de guitarra com a boca.

Eu: _“Fuu...”

Eu lembro da primeira vez que fui puxar assunto com você. Foi sobre o Guitar Hero. Lembra? Eu sentava na fileira da porta e você na fileira da janela. Estávamos em aula vaga. Eu olhei pra você, e você estava conversando. Olhei e pensei em um assunto. Eu sabia que você gostava, adorava, Guns n’ Roses. E lembrei que no Guitar Hero tinha uma musica deles. Então fui falar com você sobre isso.

Eu: _Oi. Eu to jogando um jogo de guitarra que tem uma musica do Guns n’ Rores. Difícil ela.

Você: _A, eu sei que jogo que é. É Guitar Hero não é? Eu também jogo. Já passei essa musica. Traz pra mim seu memory card que eu passo pra você.

Eu: _Não, não precisa. Eu passo ela. Só estava comentando que ela é difícil mesmo. Mas não é tanto.

Na verdade eu já tinha zerado esse jogo. Foi só uma desculpa pra gente conversar. E olha no que deu. Somos grandes amigos agora. Outro dia que eu não vou esquecer, é quando eu estava fazendo aquela piada do Chaves que um barco voa. Lembra? Estava você, a Dani, a Natalia, e mais alguém, acho que era a Megume. A Dani fez um barquinho pra mim. E eu comecei a brincar com ele no ar. Foi então que todo mundo começou a olhar, e perguntar o por que disso. Então que expliquei que ele era um porta-aviões. Na hora, todos riram. Mas a lerda, você, ta bom. Ficamos um bom tempo tentando te explicar, diria que uns 20 minutos. E depois que tudo mundo parou de rir, que a piada já tinha perdido a graça, quem é que quase morre de tanto rir? Você. Um dia pra entrar na historia.

Nesses anos tinha vezes, muitas vezes, eu esquecia que amava você. Porque estar com você, dizer que era seu amigo, era a melhor coisa do mundo, e não queria perder isso, não dava bola pro amor e sim pra amizade. A coisa mais bela que alguém pode ter. Uma amiga.

Lembro do primeiro mapeamento que teve. Com ele você sentou na segunda fileira do lado da porta, e eu na quarta. Teve um dia em que você pegou meu celular. Ficou com ele a aula inteira, o dia inteiro. Mas foi disso, que eu ganhei minha primeira foto sua. E celular eu não tenho mais. Mas a foto eu vou guardar ate o fim. Nesse dia era quarta-feira, e toda quarta na aula de português era aula de leitura. Ou seja, era um tédio. Eu deitei na minha mochila da cobra d’água, e você tirou a magnífica foto. Eu apareço nela. Minha cabecinha de criança com sono esta La. No final do dia você devolve o celular e fala.

Você: _Ah. eu tirei uma foto minha no céu celular. Depois você apaga.

Fiquei tão feliz de você falar que tinha uma foto sua no meu celular. Pra quem não deixava ninguém tirar foto, não gostava. Isso foi muito bom. E quem disse que eu ia apagar. Não. Essa foto ficou La. E agora esta aqui. A foto que eu mais gosto. O tempo foi passando. Coisas foram acontecendo. E uma delas que eu também não esqueço. É quando um menino, você sabe quem, ficava enchendo você. Enchendo no sentido de querer ficar. Lembra? Todos os dias ficávamos você e eu no ponto esperando meu ônibus, e você seu pai. E quando deu pra ele querer você ele também ficava La. Que ódio que eu ficava. Mas não podia fazer nada. Ele era o dobro de mim. E também se fizesse todo mundo ia perceber algo de estranho. Era todo mundo criança. Todos os dias ele ficava La. Que raiva. No ultimo dia. Ele tentou beijar você. E você não deixou. Na verdade ele tentou e você fingiu que não sabia de nada. No dia seguinte você veio correndo falar pra mim. E depois disso ele nunca mais ficou La. Agradeci muito a isso. “Sai do pé chulé”.

Não sei do que mais eu lembro. Foram muitas coisas pra lembrar que acabei não lembrando de muito. Ah, lembro do primeiro trote que a gente combinou. Você, a Natalia, a Dani e eu. Foi em uma sexta-feira. Que quase não ia ninguém. Mas bastante gente foi. Foi um trote de roqueiro. Nesse dia, numa sexta-feira, eu cheguei atrasado, era aula de historia, com a Terezinha. Eu fui o único de trote. Mentira, a Natalia também foi, mas a roupa dela não era muito roqueira. A minha era mais. Tinha ate corrente. Mas sebe o que eu digo? Grande bosta. Tinha coisa muito mais importante pra lembrar do que um mero trote de escola. Mas de certa forma, qualquer momento com quem a gente gosta se torna especial. Não importa o que for.

No 1° a gente se separou. E foi quando você se perdeu. Não é? Talvez isso tenha acontecido pro nosso bem. Eu digo pelo fato de termos sidos separarmos pela escola. Tem certas coisas que não precisamos saber, não devemos saber. Ma infelizmente fiquei sabendo de algumas coisas sim, todos sabemos que o povo da escola não é de ficar quieto. Parece jornal da globo. Todo mundo fica sabendo de tudo e de todos. Acredito que eu tenha sido o único a não acreditar nessas historias. Mas pra tristeza, era tudo verdade.

Sabe. Mesmo nessa época, em que você era perdida, e eu estava perdido não sabendo o que estava acontecendo realmente, você ainda me abraçava. Era o momento mais gostoso do meu dia. Dou um valor absurdo pra um abraço. Um abraço pra mim é muito mais gostoso que um carinho, na verdade o abraço é uma espécie de carinho, mas enfim, mais gostoso que um beijo, ou qualquer outra coisa. É nessa hora que a gente sente o coração da outra pessoa bater, sente a emoção de estar bem perto de alguém, de proteger, ou ser cuidado por alguém. É no abraço que somos quem queremos ser, é nele que sonhamos acordado, mas de olho fechado, que fica muito mais gostoso, esquecemos do mundo.

“Quando você receber um abraço, seja o ultimo a soltar os braços”.

Agora no 3° ano, nós estávamos sempre juntos. Todo dia na sala. E fora dela também. Terça e quinta era dia de ir à sua casa, ou melhor, de ir te buscar e ir pra praça, conversar, você fumar, e eu ouvir. E nós rir.

Você: _ Caique, imagina como deve ficar? : S

Eu: _ (Boiando) - Como assim?

Você: _ Quando senta!

Eu: _ :OOOOOO

O tempo foi passando, e a amizade só ia crescendo. Aconteceram muitas coisas. Entre elas, coisas que não eram muito legais, muito fiéis. Quando eu não fui a aula pra sair com o povo, o Michel, Ana, Isa e Tamy, alguém começou a atrapalhar isso. Quando precisei de você do meu lado você não ficou, defendeu a outra pessoa. Isso me magoou muito, perdi grande parte da confiança em você. Depois, contei a você uma coisa que tinha visto sobre alguém, e que poderia acontecer, disse pra você tomar conta dela, não deixar isso acontecer, porque era com você que ela iria falar se fosse fazer, porque é em você que ela confia. Você deu as costas, disse que não dava a mínima, que era problema dela. Ela é sua amiga, e não deixamos isso acontecer com nossos amigos.

Depois disso e de outras coisas que não posso falar aqui, você percebeu que eu comecei a me afastar de você. No começo você não ligou, foi até você que deu o maior passo. Eu só fiquei na minha sem falar nada. E você ficou muito longe. Depois você percebeu que quem se afastou fui eu. Ficamos literalmente sem nos falar. Sem nos cumprimentar.

Depois disso comecei a te ver de uma maneira muito diferente. De uma maneira que não me deixava acreditar que eu era o seu melhor amigo. Que eu gastava muita parte do meu tempo ao seu lado.

Foi melhor assim. Eu me senti muito bem depois que me afastei de você. Mas não via o mesmo de você, no começo achei que eu fosse mesmo importante pra você como você sempre dizia, mas depois vi que você era daquele jeito mesmo.

Se tem alguma coisa da qual me orgulho nesse ano, é de realmente enxergar. E de acabar com uma coisa que só me matava por dentro.



Agora você se pergunta por que eu escrevi tudo isso agora. Bom você já sabe mais do que ninguém que esse é o meu jeito de falar algo da maneira mais fácil. E só escrevi agora, porque já estava na hora de soltar tudo o que estava entalado. Agora sim posso dizer que não tenho nada mais a dever.

Eu realmente amei você. Realmente achei que você fosse minha melhor amiga. Eu fazia de tudo pra você não se prejudicar, até menti eu já menti. E olha que eu odeio a mentira. E você faz o que faz.

Espero que um dia você consiga abrir os olhos. E ver o que você esta fazendo. Porque eu não fui o único. E eu posso falar isso porque eu vi, não ouvi ninguém falar. Vi de você.

Passar bem.