O tempo me enrola, atrapalha, e adianta.... Alessandra Froes

O tempo me enrola, atrapalha, e adianta. Levou de mim, o que um dia eras eu, e a mim trará, o que ainda serei.
As vezes acho eu, que de tudo poderia recordar ! Dia após dia, que até hoje passei.
Que lindo seria, se tal poder me pertencesse, porem não o tenho, e talvez não mereça.
Mas como há de se esperar, eu não podia desistir.
E assim pensei: Quem sabe se tivesse, deixado a cada dia, uma referencia ! Uma porta de acesso para o passado que se calava ? Mas se assim o fizesse, seriam tantas referencias, que se enroscariam umas nas outras, tornando-as novamente, confusas e passageiras, demais a minha memória.
O quanto eu pagaria, o que tanto faria, para ter se quer um segundo, daquilo que já se foi. O guardaria em uma caixinha, sem o deixar escapar !
Para sempre que desejasse, reviver ou retocar, e assim me abrigar àquele momento, fazendo da caixinha, o lugar mais seguro, mais zeloso e hospedeiro do que meu próprio ser.
Esse ser que aos poucos, foi trancando as portas, criando labirintos e engolindo as chaves, perdendo assim, tudo que na mente havia, e arrancando cruelmente, o que estava no coração.
Esse velho coração, que agora só lhe resta, o movimento de pulsar, e ainda assim faz cansado e desamparado, conforme os anos vão passando, o pulsar é mais devagar.
Alma inútil és a minha !Como pode me abandonar ?
Eu tanto ter sonhado, tanto ter sentido, e agora acaba com os pedaços de uma vida toda !
Uma vida que passou voando a qual queria reviver, e se possível beber novamente, das mesmas águas.
Entretanto a dias e sonhos, que não devem ser lembrados, apenas vividos e sonhados.
E se para mim não telos, agora és pura angustia, és porque talvez,
nunca os tive realmente.
Só deixei passarem pelos olhos, pelas palavras e pelos sentidos,
sem saber deixar a eles, um pedaço de mim,
e comigo guardar, uma parte deles.
Onde ficou minhas palavras ?
Onde ficou meu coração ?
Ficaram no passado.
Passado em que vivi,
mais talvez,
nunca tenha pertencido.
Não pertenci, por medo de me entregar.
E agora me entrego a morte,
sem ter nada para dizer adeus.