Autonomia programada. Vez ou outra sopra... Tiago Landeira

Autonomia programada.

Vez ou outra sopra em minhas ideias um sussurro que de uns anos pra cá se torna cada vez mais insistente; ainda não chega a incomodar por não ter conquistado minhas convicções, mas está muito difícil de ignorá-lo. Questiono-me até quando vou resistir.

A partir desse ocorrido entendo o porquê de às vezes se preferir ficar na ignorância em certos assuntos. A ILUSÃO PODE POUPAR DURAS REALIDADES QUE O ESCLARECIMENTO TRAZ À LUZ.
Refiro-me a idéia defendida por um número crescente de estudiosos de várias ciências, independente de seus credos, sejam céticos ou nem tanto: A ideia de que a vida é efêmera, curta e sem significados tão sagrados que dão a ela. Que somos etapa de um processo em constante experimentação. Ou em outras palavras; cobaias da evolução ou de um processo maior onde evoluir é só um departamento. Mesmo não estando convicto, vale dar atenção a possibilidade; e se for mesmo?

Não vou mentir que uma faculdade na vida de qualquer ser humano seguramente indicará mil novas formas de pensar e muitas ideologias pra se aproximar ou mesmo adotar, contudo nessa matéria em questão uma faculdade de biologia coloca qualquer religioso em cheque. Mesmo depois de uma vida toda, nascido e criado dentro da doutrina evangélica como é o meu caso.

Esses dias lendo o livro – O gene egoísta - de Richard Dawkins, aquele sussurro q me referi anteriormente voltou a soprar e desta vez me levou a traçar um comparativo da maneira como eu pensava há dez anos atrás com minhas crenças inabaláveis e firmes como uma rocha, norteados pela religião, com o novo modo bem mais flexível que penso hoje sobre esses mesmos assuntos.

No livro o autor defende a teoria de que os genes estão por trás de tudo que existe não só formando os seres ou máquinas de sobrevivência, como denomina o autor, mas também ditando o modo como agem ao meu ponto de vista, uma espécie de programa que controla a “autonomia”. Para isso eles não precisam ter consciência.
Hei, Autonomia programada, ehehe! Bom título para um livro. Mas enquanto não escrevo um nesse sentido, vai servindo como título do fotolog mesmo.
Trazendo pro lado humano é como considerar o Amor, saudade, sofrimento, coisas que se sente ao longo da vida diversas vezes, sendo parte de um programa genético e instintivo para trabalharmos melhor a favor de uma micro ideia de replicação, de melhoria genética, de tentativas no caminho da única coisa que interessa pra evolução, a existência!

E surgem os questionamentos primeiros, e se devo prestar atenção a tudo isso, devo tbm me questionar sim, sobre o propósito da capacidade de raciocínio, a inteligência que nos deu tanta autonomia, tanta criatividade, capacidade de especular sobre a existência, porque não permanecemos simplesmente programados pra nascer, crescer, procriar, e morrer? Indagações e mais indagações.

Defendo que uma boa leitura sobre qualquer teoria deve ser feita o tempo todo acompanhada por indagações; ela será uma teoria convincente pra o seu intelecto somente se responder essas mesmas indagações, e assim conseguir gerar convicção ou pelo menos incomodá-lo sobre essa nova idéia.então aí vai:

Porque tivemos que descobrir o divórcio? Porque a adoção, o cuidado com os doentes crônicos e com os deficientes, os idosos, coisas que são tão incomuns na natureza!
Pra que tanto esforço?
Pra que pegar o ônibus lotado de manhã cedo, ficar sem o almoço, tirar o olhar do horizonte e colocar nos teclados, pra que? A nossa resposta está na ponta da língua- Realização pessoal, ser bem sucedido, ter dinheiro e viver bem. PEEEEEEEEEM!!! Resposta errada!

Alguns talvez digam - pra sobreviver - hum... Boa resposta! E a idéia é essa! Mas não é aquele tipo de sobrevivência comum de ter o pão de cada dia na mesa, e apesar de ser a condição de muitas pessoas ainda hoje, não é a condição da raça humana como um todo; a sobrevivência aqui é a da autonomia! Liberdade de se fazer o que quiser da própria vida... Ser dono do próprio nariz e gastar o próprio dinheiro da forma que bem entender,
Captar seus recursos energéticos e financeiros pra se deslocar por exemplo, mas seria em busca de comida? Ou pra poder ir visitar um amigo ou mesmo viajar pra um destino que se deseja? Pra escolher um campo fértil onde morar ou morar num grande centro urbano que sempre se almejou? Estarmos fora das leis naturais. E isso é fato quando olhamos pro interior dos nossos escritórios muito bem aclimatados e de encontro com o que está lá fora!

A idéia de sobreviver supracitada não descarta o sentido mais instintivo da sobrevivência, mas pelo contrário, se adiciona ao nosso repertório evolutivo juntamente com este preexistente; portanto, continuamos tendo que nos manter vivos o máximo de tempo possível para que se crie oportunidade de se duplicar várias vezes, se tenha tempo de interagir com o ambiente e sofrer mudanças. E é interessante que os melhores o façam, que os mais adaptados façam, pra q sua cópia seja melhor ainda e assim por diante...

Vejo da seguinte forma. Um projeto. Todos cobaias de um projeto ou de uma simples etapa do projeto. A vida (existência) um grande projeto (ou não). Mas para que? Ninguém sabe, obviamente; na verdade, o que ocorre de fato é que se sente fome e precisa-se ir até a geladeira pegar uma maçã; precisa-se dormir algumas horas diariamente, precisa-se despertar cedo pra pegar o banco sem fila, e etc., mas nada disso vai te marcar num cadastro astral de reconhecimento de responsabilidade ou vai te trazer algum mérito ou mesmo premiar você como “o ser do milênio de toda a galáxia”. Seja qual for sua postura e comportamento nessa terra nada fará diferença, vc vai passar pela existência e ponto; somente passar pela existência.

Percebo que dentro dessa visão sistemática onde os genes mantêm as regras, não há espaço ou qualquer interesse na existência do indivíduo como ser único, ou nas coisas boas que ele fez, na vida que levou, ou quem ele cativou. O interesse não está em você, vc não é o protagonista, nem sequer é o coadjuvante da superprodução. Apenas uma seringa descartável q depois de usada será pulverizada junto com todas as outras e desaparecerá sem deixar rastros, ou sabe-se lá o que!

É difícil aceitar; entender não. Mas isso é justificável demais... A autonomia que “conquistamos” dentro desse processo nos faz acreditar que somos especias; o raciocínio de viver cheio de objetivos nos faz crer nisso tbm e tudo isso só dificulta a aceitação ou mesmo compreensão da teoria. No nosso programa entre os modelos mais complexos e evoluídos (versão 2010, rsrsr), desenvolvemos um raciocínio que nos faz crer q não existe manipulação alguma. Engano!

A autonomia é algo que dentro da história evolutiva inteira pode representar apenas um novo programinha de um tipo de officer qualquer; apenas um passo a frente do que deu cor a visão ou pêlos ao corpo. Não nos vemos como parte de um processo; não, não. E nesse momento é muito melhor acreditarmos no que defendem a esmagadora maioria das religiões: um propósito para a vida! Seja esse propósito um arém cheio de mulheres no reino de Alá, ou um céu com ruas de ouro, ou uma ideia de que não morremos, mas voltamos em versões inéditas e mais impressionantes!
Mesmo escrevendo sobre isso não é fácil pra mim, e preferia mil vezes que o fim fosse de qualquer outra maneira mais bonita, o que também não deve ser descartado. É bom se sentir único e especial (particularmente adoro me sentir assim), ao invés de mais um item de teste ou de melhorias inacabáveis e eternamente inacabáveis.

Mas driblar algo assim é possível? Eis então uma esperança para essa resposta, mesmo que bem remota. Pense que o fato da autonomia ter acontecido no cenário da existência, causa no mínimo um incômodo e relutância em aceitar essa idéia tão simplista de que a vida é efêmera e descartável, e nos torna assim, uma ameaça a esse grande projeto, pois estamos dispostos a descobrir, mesmo que tão lentamente como são os passos da velha evolução mecanismos que driblem essa armadilha.
Ai, ai, o que vou conseguir discutindo sobre isso?
...talvez seja melhor me iludir ou fingir que estou ignorante sobre esse tema, e continuar achando tudo lindo e poético, cheio de sentidos e sentimentos. No fundo sei que é tarde pra isso, mas fica um bom conselho aos ignorantes por opção... Mantenha-se iludido.

Será que essa ideia tbm é parte do programa?