Meu Pai Como me sustentar no fio de... Claudio Carvalhaes

Meu Pai

Como me sustentar no fio de prata que me sustentava a alegria?
Ele foi embora e sua doçura me faz tanta falta
Me sinto como num ringue de luta
Levando uma surra mas sem ter as cordas para me segurar e me fazer voltar
Um sentimento que não tem ressonância
Que vai mas não volta
Eu chamo por ele mas ele não está lá
Eu corro para ele mas não sei onde parar
Eu ligo para ele mas o telefone não responde
Eu espero pela sua voz mas eu não a ouço,
Como nossa última conversa
Eu busco pelo seu olhar
Quero brincar com o cabelo branco e fino dele
Me desespero na busca do seu abraço
Um lugar de segurança apesar de meus 36 anos de idade
E ai me vejo numa inquietação que mexe todo o meu corpo
Me vejo precisando firmar a mão na mesa
Para que ninguém ao redor perceba que ela está tremendo, tremendo de medo
Tento não mostrar que não sei onde coloco minhas mãos e braços
Que não sei para onde olhar
Que estou a ponto de chorar
Que meu coração bate compassado com a última corda esganiçada do meu violão
Que tenho medo de machucar quem está em volta de mim
Que quero então me afastar
Ficar longe
Virar bicho do mato
Mas sei que não posso
Queria pelo menos mais uma vez
Ouvir ele me saudar no telefone
E me amar como sempre me amou