Farejando a fazenda que rendeiro Lhe... Linartt Vieira

Farejando a fazenda que rendeiro 
Lhe confiara um dia, 
Ia um cão, sua cauda sacudindo, 
Repleto de ufania. 
Eis vê na touça que crescia além 
No meio de um caminho, 
Tendo no chão fendido oculta a língua, 
Tamanduá sozinho. 
Pára, e grita de longe: “Ó bruto, ó fera 
O que buscas aqui? 
Não estragues o campo prestimoso, 
Retira-te daí!” 
“ Enquanto, vigilante, o teto guardas” 
Diz-lhe o tamanduá, 
“eu mato o insetozinho que da cana 
O colmo estragará. 
As formigas que eu como causariam 
À terra grande mal: 
Bem vês, faço um serviço, ou bruto ou fera, 
A ti me julgo igual”. 
Foi-se o cão, e correndo ele dizia, 
Ladrando sem maldade: 
“Necessário ao bifolco eis um bichinho (*) 
Bem útil à herdade”. 
Sem um valor qualquer nada há no mundo: 
Os grandes e os pequenos 
Todos podem ser úteis, só diferem 
Num pouco mais ou menos!
