Conversas de domingo Uma coisa é o que... Maria Alice Guimarães

Conversas de domingo
Uma coisa é o que se é, outra é o que os outros pensam que somos e outra é o pensamos que somos . Isso dá a dimensão da complexidade humana.
Conhecer-se é uma tarefa muito complicada. Para muitos até impossível, pois demanda em se estar aberto à visão dos nossos próprios defeitos,
coisas que não gostamos de admitir , principalmente diante dos outros , mas também para nós
mesmos. Nossa tendência é sermos complacentes com nossos defeitos e ver nossas qualidades em primeiro lugar. Isso nos torna vulneráveis. Somos educados para o certo e o errado e aí a flexibilidade é mínima .Aquilo que nos ensinam desde a infância é a mala pesada que carregamos pela vida afora. Chega a hora que o peso torna-se insuportável e precisamos aliviar a bagagem , senão como viver?
Poucas são as pessoas que conseguem buscar dentro de si a coragem suficiente para aliviar esse peso, transformado com o tempo em culpas e medos, dois perigosos acompanhantes que nos perseguem por toda vida. Quanto mais culpas mais medos. É o terror instalado nas pessoas impedindo-as de viver suas experiências, de usufruir de seu direito à liberdade e consequentemente de serem felizes;
Foi assim comigo e acredito ser com todo mundo.
Tive que aprender a diminuir a carga da minha mala. Muitas vezes me desfiz de peças que mais tarde percebi que faziam falta, mas só restava perguntar a mim mesma em que ponto do caminho eu as havia jogado fora e em que lugar estariam hoje e, se as encontrasse, qual seria o estrago que o tempo fizera nelas.. Melhor seguir adiante e tentar acertar. Eu disse "tentar”, pois é isso que se faz. É muito difícil ter –se certeza do caminho a seguir , da escolha melhor a ser feita em dado momento.
Há quem diga "que a vida é simples como um copo d'água" mas os conceitos que a educação nos impõe não nos permitem essa simplicidade toda. Acabamos por nos enredar na teia que primeiro nos é imposta e depois nós mesmos a reforçamos, com receio da opinião dos outros a nosso respeito. Uma das primeiras lições que nos ministram é a da subserviência , como se nossa sobrevivência dependesse do que pensam ou deixaram de pensar sobre nós. Livrar-se disto é onde reside a diferença que fará com que o resultado se altere mesmo que a longo prazo. E assim a vida vai se desenrolando.
O tempo passa , as marcas que ele deixa em nosso rosto aumentam, a mala até já não nos parece mais tão pesada.Mesmo que nossas forças já não tenham o vigor da juventude ,agora temos o suporte que vem da sabedoria , da vida curtida .Já não nos preocupa tanto a opinião alheia e tudo fica meio que parecendo ter sido em vão..
Mas é assim que é .Uma trajetória que nos torna pessoas melhores.Não há involução, afirmam os estudiosos. Não há como escapar das lições da vida., e neste processo de aprendizagem contínua é que formulamos os conceitos acerca de nós mesmos.Cada um de nós pensa algumas coisas de si, muitas vezes inconfessáveis. Temos medo de admitir quem somos perante o outro. Evoluir é também despir-se sem medo e sem culpa, é dizer a si mesmo que se conhece , que se percebe, que se admira e se admite. Nem melhor nem pior que seu vizinho de estrada, mas como alguém que soube a hora certa de jogar fora o que mais pesava na sua mala.